Por que Deus não responde à oração é uma questão tão antiga quanto o princípio do mal. Quando o pecado surgiu, ele nos separou da presença de Deus e consequentemente das respostas diretas de Deus. Desde Abel que morreu provavelmente perguntando “Por quê Senhor”? ou mesmo Moisés que pediu para entrar na terra prometida e o pedido lhe foi negado. Davi passou uma semana orando por seu filho recém-nascido que veio a morrer. Santo Agostinho pedia em oração, quando criança, que os professores não lhe batessem, mas continuava apanhando na escola.
Pessoas que sofreram porque nem respostas receberam. Fatos como esses alimentam o ceticismo ao longo dos anos. Francis Galton foi um cético inglês, primo de Charles Darwin, que escreveu uma obra e analisou cientificamente a oração. Ele propôs que a oração, em diversos aspectos, não surte nenhum efeito e que orar e não orar é a mesma coisa. Pois Deus, se existe, não se preocupa em responder. Eu creio na oração, mas tenho de reconhecer o desafio de lidar com situações como as descritas acima.
Motivos para crença na oração
Se Deus dissesse que a oração seria como uma caixa de sugestões, em que apresentaríamos nossas petições, e Ele as iria analisar com cuidado, seria mais lógico. Muitas circunstâncias da vida, no entanto, parecem reforçar mais as frustrações das vezes que você orou e não obteve respostas. Temos de admitir, também, que Deus muitas vezes realmente não responde, mas que temos a opção de escolher algo melhor que o ceticismo.
Esse artigo não é uma resposta ao tema “Por que Deus não responde?”. É a apresentação dos motivos que me levaram a escolher o caminho da crença e não do ceticismo.
Gostaria de apresentar cinco argumentos que sustentam minha crença:
1. Apesar de a ausência de respostas me trazer dúvidas, as respostas que recebo me fazem crer em um Deus que age a meu favor.
Se não ter respostas traz dúvidas, as respostas devem me levar até a certeza de que Ele me ouve. O mundo age assim: quando tudo dá errado é porque Deus não ouve, não existe ou não se preocupa, mas quando coisas boas acontecem foi o acaso que me protegeu ou simplesmente as circunstâncias da vida.
Jorge Muller, um cristão do século 17, tinha como principio de vida ver a providência e ação de Deus em cada aspecto da vida e o costume de escrever as respostas que recebia de Deus. Ao final da vida, ele reuniu em um livro 50 mil respostas de Deus as suas orações ao longo da vida. A pergunta a ser feita é: por que as evidências não nos aproximam de Deus na mesma proporção em que as dúvidas nos afastam dEle?
O inimigo coloca a dúvida e assegura que Deus não nos ouve e não se preocupa conosco. E, assim, nos leva a ficar com essa dúvida. Deus, por outro lado, afirma que não precisamos temer, pois Ele está conosco todos os dias. Decidi crer nas evidências e questionar as dúvidas.
2. Decidi crer que Deus tem propósitos muitas vezes desconhecidos por trás do silêncio ou da resposta negativa.
Sabemos por que Deus não respondeu a oração de Jesus no Getsêmani. Ele tinha o propósito maior de nos salvar. Sabemos responder por que Deus não atendeu ao pedido de Marta e Maria para curar Lázaro. Deus tinha o propósito maior de dar uma ressurreição.
Por que não usar esse mesmo argumento quando Deus não me responde?
Não entendemos todos os propósitos por trás das respostas de Deus, mas biblicamente um dos propósitos é me levar a uma confiança mais madura.
Você pode perguntar: como me dar uma resposta negativa ou mesmo não me dar resposta alguma me leva a ter mais confiança?
Permita-me contar uma ilustração. Imagine que você tenha um comércio e precise pagar uma dívida de 10 mil Reais. Você não tem um centavo e, de repente, um cliente que você nunca viu na vida entra em sua loja e compra exatamente o equivalente a 10 mil Reais. Ao final da compra, ele diz: vou levar a mercadoria, mas só posso pagar em cheque. Você sente medo e desconfia do cheque, mas entrega a mercadoria. Recebe o cheque e corre ao banco a fim de trocar o cheque e descobre que o cheque tem fundo. Quinze dias depois, o mesmo cliente volta, compra mais 10 mil Reais e novamente passa um cheque. Você sente medo novamente, mas não é o mesmo medo da primeira vez. Vai ao banco e novamente o cheque tem fundo.
A cada quinze dias, ele volta e sempre paga em cheque e sempre o cheque tem fundo. Depois de um bom tempo e muitas compras sempre corretas, ele se torna seu amigo e um dia ele compra mais 10 mil Reais. Então ele percebe que não trouxe o cheque e diz: hoje não posso levar a mercadoria, esqueci o cheque. Provavelmente você dirá: pode levar, daqui a quinze dias você traz o cheque.
O que aconteceu? As respostas de fidelidade do cliente lhe levaram a confiar nele mesmo sem a garantia do cheque.
Na vida espiritual, acontece a mesma coisa. As respostas de Deus ao longo da vida são como cheques da fidelidade e cuidado dEle. Mas Ele quer nos levar a um tipo de relacionamento e confiança que faça dizer: O Senhor já mostrou que é fiel para comigo e mesmo sem respostas (mesmo sem passar um cheque) eu continuo confiando no Senhor.
A ideia é que não duvidemos na escuridão do que Deus mostrou a você na luz. Biblicamente as pessoas que mais confiaram não foram os que viram o mar sendo aberto, uma nuvem de fogo a noite e uma chuva de alimento. Os que mais confiaram foram aqueles direcionados para a fornalha, os que levaram seu filho ao altar do sacrifício ou perderam tudo o que tinham em um conflito entre o bem e o mal.
3. Se eu soubesse que Deus responderia minhas orações sempre como e quando eu quero, eu iria parar de orar.
Não teria confiança em saber que minha frágil sabedoria humana seria o critério para as respostas de Deus.
Quando a Bíblia afirma que tudo o que pedimos será realizado devemos ter em vista que é tudo o que estiver em conformidade com os propósitos e promessas de Deus.
No livro Caminho a Cristo, a Escritora Ellen White afirma que “somos tão falíveis e curtos de vistas que às vezes pedimos coisas que não nos seriam uma benção, e nosso Pai Celestial amorosamente nos atende às orações dando-nos aquilo que é para o nosso maior bem – aquilo que nós mesmos desejaríamos se com vistas divinamente iluminada, pudéssemos ver todas as coisas tais como elas são na realidade.”
Devemos confiar que Deus sendo completamente bom, sabe dar boas dádivas e sendo completamente sábio sabe quais dádivas são boas e quais não são.
4. Decidi que minha ênfase na vida cristã não seria esperar respostas mas desfrutar da companhia de Deus.
Respostas não são a única evidência da presença de Deus comigo. Meu relacionamento com Deus se baseia não nas respostas, mas na companhia. Quando Abrão saiu da Terra de Ur, dos caldeus, ele perguntou para onde ia e Deus não respondeu, mesmo assim Abrão saiu de sua terra e da casa de seu pai (Gênesis 12). Ele não sabia para onde iria, mas sabia com quem iria e isso lhe foi suficiente. Deus havia dado uma promessa de que iria abençoá-lo na jornada e ele se apegou não a uma resposta, mas à promessa. Quando oro, eu vou a presença de um amigo e não de um político ou um Papai Noel cósmico.
5. Creio que, apesar de algumas vezes Deus não me responder, Ele me ama.
A fé não é um jargão cristão, uma doutrina ou uma afirmação. Fé é um relacionamento com alguém digno de confiança. Fé é confiança, e você só é capaz de confiar em alguém que você conhece. Se você conhece você confia e se você confia você é capaz de amar. Conhecer, confiar e amar esse é o caminho.
Não sei lhe dizer por que Deus não responde, mas sei, por experiência própria, que quando isso acontece Ele continua me amando. Quais são suas dúvidas e lágrimas, perguntas e questionamentos? Ouça Deus lhe dizendo hoje: Vinde e arrazoemos, vamos conversar, questione, duvide, mas não se afaste de mim. As dúvidas sinceras de Jó foram melhores que as certezas fingidas dos seus amigos. Não desista e permaneça firme até o dia em que Ele responderá todas as dúvidas e enxugará todas as lágrimas.
Autor:
Josanan Alves
Josanan Alves de Barros Júnior é formado em Teologia. É o atual diretor do departamento de Mordomia Cristã da sede sul-americana da Igreja Adventista. @JosananAlves