sábado, 28 de setembro de 2013

Os humanos são violentos - Jonathan Gottschall.

Apesar da insistente retórica da  teoria da evolução de Darwin, ainda sim dá para aproveitar alguma coisa dessa entrevista.O entrevistado não precisava ter as orelhas feridas para entender que a violência é natural do homem, somente do homem. O homem é o único que não precisa dela como ferramenta de sobrevivência, mas mesmo assim faz questão de usá-la.  a abordagem da influência da literatura no comportamento humano também muito interessante.

Reportagem da Revista Veja de 9/maio/2012 de Gabriela Careli. O pesquisador americano Jonathan Gottschall de 39 anos é hoje um expoente entre os neodarwinistas, empenha-se em explicar o comportamento humano à luz da teoria da evolução de Darwin.

Eis a entrevista na íntegra, tirem suas próprias conclusões:

Professor de literatura inglesa na Universidade Washington e Jefferson, na Pensilvânia, autor de seis livros, Gottschall é defensor de uma tese original sobre o papel das obras de ficção. sejam tragédias gregas ou contos de fadas, na definição das estratégias evolutivas da especie humana. O cerne de seu pensamento foi condensado em The Storyiellieng Animal:How Stories Make Us Human (algo como O Animal Narrador:Como  Contar Histórias Nos Faz Humanos), sua obra mais recente, ainda sem tradução no Brasil. Gottschall vê modernidade na obsessão de atingir a grandeza pela aventura e pelo enfrentamento violento das adversidades, características  de Ulisses, herói da Ilíada, do grego Homero, o mais antigo poema ocidental, escrito no século VIII antes de Cristo. Há um ano e meio Gottschall pratica MMA e vai contar sua experiência em um livro, no qual vai refletir sobre os motivos que levam os homens a se digladiar e até o mais gentil dos indivíduos a se deleitar com os espetáculos da barbárie contemporânea nos octógonos.
Veja: O que o senhor diria aos pais que se preocupam com os filhos que evitam os livros e desperdiçam seu tempo com videogames e outros gadgets? 
Jonathan: Os jovens e as pessoas em geral estão lendo cada vez menos, sem dúvida. Isso não significa, no entanto, que elas estão se afastando das histórias e da ficção. A leitura deixou de ser prioritária porque foi sendo substituída pouco a pouco pelas outras formas de narrativas trazidas da revolução digital. Um americano médio assiste ao menos cinco horas de TV por dia e gasta cada vez mais tempo imerso na realidade virtual dos videogames. A ficção, que acredito ser a principal responsável pelo desenvolvimento e pelo bem-estar psicológico do ser humano, vai continuar a fazer parte da nossa vida. Muitos cientistas concordam com a tese de que criar, contra e participar de uma história são ferramentas evolutivas desenvolvidas por motivos bem específicos. Não existe a possibilidade de tudo isso desaparecer. Seria como desaprender a caminhar. A geração videogame está dentro de uma obra que está sendo criada e partilhada em tempo real. A minha impressão é que os games vão intensificar os efeitos da ficção em nossa vida, não diminuí-los. Nos jogos virtuais, a pessoa é o personagem principal e não diz "ele morreu", mas sim "eu morri". E isso faz toda a diferença.

Veja:Como a ficção pode ajudar no desenvolvimento e no bem-estar psicológico das pessoas?
JonathanHá duas teorias principais sobre narrativa e evolução. Uma delas considera o ato de criar e contar histórias um subproduto evolutivo, decorrente do desenvolvimento da inteligência humana. A outra, mais aceita, é a de que as histórias funcionam como simuladores de voo que preparam os pilotos em terra para enfrentar condições adversas reais no ar. Elas nos fornecem pistas sobre a melhor maneira de agir em diversas situações. As histórias parecem muito diferentes uma das outras, mas elas possuem uma estrutura similar: Há sempre um personagem, um problema e um esforço para superar tal problema. Não importa o gênero - tragédia, ação, humor ou romance-, todas giram em torno da mesma espiral. Inclusive as histórias espontâneas, como as inventadas pelas crianças durante as brincadeiras de faz de conta, ou os sonhos - as histórias contadas a nós mesmos pelo nosso cérebro.Os sonhos,em dos grandes mistérios da ciência, são mais difíceis de analisar. Já as brincadeiras infantis é mais fácil encontrar elementos para comprovar que as histórias não são apenas produto da cultura e do aprendizado. Em todos os lugares do mundo, tanto em sociedades tribais quanto em países em desenvolvimento, crianças de 4 e 8 anos de idade passam a maior parte do tempo de  virgília em um mundo imaginário, testando possibilidades a partir de enredos com heróis e princesas. Para os pequenos, isso é tão natural quanto respirar. Não é ensinado. É biológico. Tenho duas filhas, uma de 4 anos e a outra de 7 anos, e aprendi muito sobre o assunto em suas brincadeiras. Inspirei-me em Darwin, um pai dedicado que também costumava observar seus filhos do ponto de vista científico.

Veja:As obras de ficção podem realmente mudar comportamento e percepções?
Jonathan: Diversos estudos foram feitos sobre o poder da ficção nas atitudes e no comportamento das pessoas. Essas pesquisas avaliam as percepções de participantes contrários e favoráveis a uma determinada causa polêmica, como o aborto ou a pena de morte.Os dois grupos leem textos de ficção ou não ficção sobre um mesmo assunto e com conteúdo similar. Na maioria dos estudos, as pessoas que leem textos de ficção mudam de opinião com muito  mais facilidade do que as expostas a histórias reais. Absortos em histórias fictícias, os individuo  tendem a baixar a guarda, deixam seus preconceitos de lado. Varrem a dose de ceticismo que têm sobre determinado assunto para debaixo do tapete e tornam-se mais receptivos a crenças contrárias às suas. Colocam-se no papel do personagem principal e vivenciam seus dramas e problemas. Um exemplo recente aconteceu nos Estados Unidos. Os  americanos sempre foram majoritariamente contrários ao homossexualismo e ao casamento gay. Nos últimos quinze anos, a situação se inverteu. Os cientistas sociais não entendiam a velocidade da transformação. Afinal, concepções dessa natureza não mudam tão rapidamente. A justificativa encontrada pelos sociólogos foi a proliferação de programas, de sereis de TV e novelas sobre o universo gay, com personagens homossexuais afáveis, como Will e Grace e Modens Family. O fato é que sempre pensamos na ficção como forma de escapismo. Mas uma história não produz entretenimento, ela também nos molda e é capaz, inclusive, de interferir nos acontecimentos históricos.

Jonathan Gottschall é defensor de uma tese original
 sobre o papel das obras de ficção.





     "Talvez os seres humanos não sejam tão bons quanto se pretendem. "







Veja:Não é um exagero dizer que a ficção é capaz de mudar o mundo?
JonathanUma das principais evidências históricas de que a ficção tem esse poder foi a publicação, em 1852, de A Cabana do Pai Tomás, livro abolicionista escrito pela americana Hariet Beecher Stowe. A exceção da Bíblia, foi o livro mais vendido em todo o século XIX e teve um impacto enorme nos Estados Unidos. É reconhecido por todos dos historiadores como a força propulsora da guerra civil americana. O livro mostrou aos nortistas o lado cruel da escravidão. No sul, o efeito foi contrário. Os sulistas sentiram-se insultados pela obra. Há diversos outros exemplos de como a ficção mudou o mundo, nem sempre para o bem. Os Sofrimentos do Jovem Werther, do poeta alemão Goethe, provocou um dilúvio de suicídios semelhantes ao do personagem principal no seculo XVIII. Décadas depois, em 1835, o inglês Edward BulwerLytton escreveu o livro Rienzi, o Último do Tribunos, que inspirou o compositor alemão Richard Wagner a produzir a ópera do mesmo nome. A peça de Wagner, por sua vez, contribuiu para o ditador Adolf Hitleer escrever Mein Kamfp (minha luta), que inebriava os nazistas.

Veja:Um número de intelectuais diz que é impossível explicar a literatura e outras formas de arte de maneira cientifica, como o senhor está tentando fazer?
Jonathan: Há uma série de acusações contra os especialistas em humanidades que tentam conduzir o seu trabalho de forma mais rigorosa. Uma delas diz que o darwinismo literário, assim como a psicologia evolutiva, reduz tudo aos genes, sugerindo que o aprendizado não é importante. Isso é uma idiotice. As novas teorias baseadas na sociobiologia, corrente que estuda o comportamento por meio da evolução, emergiram nos anos 90 como contraponto ao determinismo cultural. Outra crítica é que temos inveja dos cientistas, dos físicos, químicos e matemáticos. Eu e meus colegas estamos, sim, à procura de um modelo cientifico, algo até hoje falho nas ciências humanas, especialmente na literatura. Eu quero imitar os cientistas, não apenas em termos de teoria, mas também na atitude e na criação de métodos. A ideia é ser objetivo em relação às pesquisas e investigações a respeito da literatura, não deixar que posições politicas e pessoas interfiram na produção acadêmica, como acontece há décadas na minha área. É preciso integrar ciência e humanidades para produzir conhecimento consistente, não papo furado e análises descabidas.

Veja:Foi a Ilíade, de Homero, que despertou o seu interesse em estudar a violência do ponto de vista evolutivo?
Jonathan: A Ilíade é um livro extremamente violento. Nada supera a obra em termos de violência, nem mesmo os mais hediondos filmes modernos. Estava estudando a Ilíade e alguns textos de sociobiologia quando percebi a possibilidade de entender a obra a partir da teoria da evolução. comecei a me interessar por lutas - assisti a combates de vale-tudo na televisão por mais de quinze anos. Demorei a sair do armário. Fazia isso escondido da minha mulher e dos meus amigos. Há cerca de dois anos, descobri que uma escola de artes marciais mistas, o MMA, tinha sido aberta a duas quadras do meu escritório. Era possível assistir, da janela da minha sala, aos atletas treinando e se digladiando no ringue. Tomei coragem e me inscrevi na academia. Não fiz isso por razões pessoais, mas por motivos intelectuais, Queria entender por que os homens lutam em combates rituais e quais as razões que levam um cara gentil como eu a se deleitar com esses espetáculos de barbárie.

Veja:O senhor conseguiu por que, afinal, os homens brigam?
Jonathan: Tanto na literatura quanto as ciências sociais mostram que os combates os homens estão a procura de status. Pode parecer um motivo fútil, mas o status é determinante para posicionar um individuo nas hierarquias. Estar no fim da fila hierárquica, tanto para os homens quanto para os animais, é muito ruim - e, claro, um óbvio risco à sobrevivência.

Veja: E por que até homens gentis se deleitam com espetáculos de selvageria?
Jonathan: É uma pergunta a que ainda não consegui responder. A violência é, com certeza, uma ferramenta evolucionária, concebida para ser usada nas circunstância necessárias, não para ser apreciada ou para servir de entretenimento. No entanto, em todas as sociedades, mesmo nas mais pacificas, as pessoas se divertem com espetáculos sanguinolentos. Talvez os seres humanos não sejam tão bons quanto se pretendem. Como argumentar o psicologo canadense Steven Pinker, foi uma sucessão de eventos históricos que acalmaram os demônios dentro de nós e fizeram o lado bondoso da nossa especie sobressair ao lado obscuro. Os humanos são violentos.

Veja: Por que o senhor escolheu o MMA e não outro tipo de arte marcial como objeto de estudo?
Jonathan: Quando comecei a assistir a luta livre, nos anos 90, fiquei impressionado com a violência do esporte. Não pude acreditar que essa era uma forma de luta legalizada. Honestamente, os combates me reviravam o estômago  Ainda fico enojado em algumas situações. O MMA não impõe limites para a agressividade. Além de ser a expressão máxima da brutalidade humana, tem-se ali uma modalidade muito eclética, que aceita modificações e está em constante evolução. Outras categorias, como o caratê e o judô, possuem regras fixas, não incorporam novos golpes. Arrisco-me a dizer que o MMA é a mais evolutiva forma de arte marcial.

Veja: Que lições pessoais o senhor aprendeu em um anos e meio de luta?
Jonathan:Acima de tudo, que sou um homem contraditório, parafraseando o poeta Walt Whitman. em alguns momentos me senti Dr. Jekyll e, em outros, Mr Hyde, as duas facetas de personagem de O Médico e o Monstro. No começo, não queria que meus colegas soubessem do meu projeto. Tinha medo de que eles me considerassem um ser selvagem. Alguns pensaram isso mesmo ao ver meu corpo transformado e minhas orelhas deformadas. Um intelectual que gosta de MMA não pode ser visto com bons olhos nas universidades.

         Jonathan e família - foto de julho de 2010 - acervo pessoal.


"Assisti a lutas escondido de minha mulher e de meus colegas por anos a fio. Tinha medo de que eles me considerassem um animal selvagem"












Veja: O senhor fez seu primeiro combate oficial há poucas semanas. Como foi a experiência?
Jonathan: A primeira e última. Não quero fazer isso de novo. Fui derrotado por uma chave de braço, mas não foi esse o problema. O pior foi o anticlímax do final. Não estava suado nem cansado. Depois de um ano e meio de treinos, dietas e um mês de ansiedade para entrar no octógono  fiquei decepcionado. Foi tudo rápido. Esperava algo mais épico, prolongado e brutal. Como na Odisseia, ou na Ilíade.

Confiram o acervo digital da Revista Veja aqui.










quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Épico




Futebol de calçada era com narração, e o próprio jogador fornecia a narração. Jogava e descrevia sua jogada ao mesmo tempo, e nunca deixava de se autoentusiasmar. “Sensacional, senhores ouvintes!” (Naquele tempo os locutores tratavam o público de “senhores ouvintes”).

“Sensacional! Mata no peito, põe no chão, faz que vai mas não vai, passa por um, por dois... Fáu! Foi fáu do béque! O juiz não deu! O juiz está comprado, senhores ouvintes!”

Fáu era “foul” e béque era “back”, na língua daquela terra estranha, o passado. E o juiz, claro, era imaginário. Tudo era imaginário no futebol de calçada, a começar pela nossa genialidade. A bola era de borracha, quando não era qualquer coisa remotamente redonda. O bola número cinco oficial de couro ganha no Natal não aparecia na calçada, tá doido? Estragar uma bola de futebol novinha jogando futebol?

Mas éramos gênios na nossa própria narração.

“Lá vai ele de novo. Cabeça erguida! Passa a bola e corre para receber de volta... Que lance! O passe não vem! Não lhe devolvem a bola! Assim não dá, senhores ouvintes ... Só ele joga nesse time!”

A narração dava um toque épico ao futebol. Lembro que na primeira vez em que fui a um campo, acostumado a só ouvir futebol pelo rádio, senti falta de alguma coisa que não sabia o que era. Tudo era maravilhoso, o público, o cheiro de grama, os ídolos que eu conhecia de fotografias desbotadas no jornal ali, em cores vivas... Mas faltava alguma coisa. Faltava uma voz me dizendo que o que eu estava vendo era mais do que estava vendo. Faltava a narrativa heróica. Faltava o Homero.

Na calçada éramos os nossos próprios heróis e os nossos próprios Homeros.

“Atenção. Ele olha para o gol. Vai chutar. Lá vai a bomba. O goleiro treme. Ele chuta! A bola toma efeito. Entra pela janela. E lá vem a mãe, senhores ouvintes! A mãe invade o campo. Ele tenta se esquivar. Dá um drible espetacular na mãe. Dois. A mãe pega ele pela orelha. Pela orelha! E o juiz não vê isso!”

Mesmo se nem tudo merecesse o toque épico.


Texto de L.F.Veríssimo publicado no Globo de 26/09/2013.


segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Ângulos do Rio de Janeiro.

João buscando os banhista na praia de copa - foto particular.
O Rio de Janeiro talvez seja a cidade mais bonita do mundo, falo talvez, porque não conheço todas e nem venha a conhecer. Das cidades que pude pesquisar ela é a que reúne todas as belezas naturais que possamos avaliar. Temperatura, sol sempre brilhando; montanhas exuberantes, ainda com suas matas verdes; o mar banhando a cidade de um azul turquesa que cheira alegria. Se não bastasse isso, Deus tratou de unir todos esses elementos criando algo inimaginável. Só ficando acima dela pra ver.

Se ouvires a pergunta, por que o carioca gosta tanto de morar nos morros? Responda: Porque lá de cima ele sente a brisa da alegria e contempla a visão de Deus para a cidade do Rio de Janeiro! É preciso subir seus morros para entender essa paixão carioca. No último domingo, junto com grandes amigos, pude contemplar mais um ângulo dessa cidade. Há 37 anos morando nesta cidade e não conheço todos seus ângulos.

Foto particular: Léo e Gabriel sobre a cidade maravilhosa.


sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Sônia Schüller - uma miss destronada.

Maio de 1965. Vinte e cinco mil pessoas lotavam o Maracanãzinho para acompanhar a disputa pelo título de Miss Estado da Guanabara. Vera Lucia Couto, Miss 1964, esperava a decisão dos 11 jurados para passar a faixa à sua sucessora. Duas louras ainda estavam no páreo: Maria Raquel de Andrade, representando o Botafogo, e Sonia Schuller, o Clube Caça e Pesca.

Quando Sonia começou a desfilar, a plateia veio abaixo. “Ela era ensolarada, cheia de energia e tinha um sorriso lindo”, lembra o advogado Daslan Mello Lima, criador de um blog sobre misses. “Foi um frisson incrível quando essa moça apareceu no palco”, lembra Vera Lucia Couto, hoje uma funcionária da Riotur. Sonia acabou não levando o título, mas, segundo a revista “Manchete” da semana seguinte, a catarinense que veio para Rio ainda criança recebeu “uma das maiores ovações da história do Maracanãzinho”.

Quarenta e oito anos depois, não ficou nada daquele sorriso que encantou Daslan e a multidão no ginásio. Sem nenhum dente na arcada superior e com a inferior em frangalhos, Sonia tem dificuldades até para comer o pastel chinês que o dono de um bar no Jardim de Alah dá a ela todos os dias. O salgado costuma ser sua única refeição. A ex-vicecampeã do Miss Guanabara e Sereia das Praias Cariocas de 1965 virou uma pedinte nas ruas de Ipanema, bairro onde mora.

“Sonia sofre de esquizofrenia”, informa seu irmão, Cláudio Schuller. Ele conta que “a desgraça da vida dela começou em 1986”, depois que uma moto a atropelou, perto d Praça General Osório. Sonia atravessava a Rua Prudente de Morais, na esquina com a Teixeira de Melo, quando um motoqueiro ultrapassou um ônibus parado e a acertou em cheio. “Naquele dia, ela perdeu os dentes e a autoestima”, diz Cláudio.

Filho mais velho da ex-miss, Bruno, de 46 anos, confirma o baque. “Dali pra frente tudo desandou.” Bruno, que há 19 anos mora em Curitiba, é fruto do curto relacionamento de Sonia com Sergio Petezzoni, um dos fundadores do Clube dos Cafajestes, de Copacabana. Nasceu e foi criado no apartamento 404 do prédio número 42 da Rua Barão da Torre, Ipanema, onde vivia com a mãe e a avó, a fisioterapeuta Antônia Schuller.



No último andar fica a famosa cobertura de Rubem Braga — que Sonia conhece bem. Ela e Rubem tiveram um namorico. “Era uma admiração mútua, ela vivia na casa dele”, conta Cláudio. “Eu ia lá para ler jornal, pegar uns livros”, conta a ex-Sereia, que, num batepapo na Visconde de Pirajá (seu habitat), alterna momentos de extrema lucidez com comentários que fazem pouco sentido e incluem ciborgues, androides e assuntos como “uma nova tecnologia que suga a energia e te deixa seca como uma ameixa”.

Ex-aluna do colégio N. Sra. Auxiliadora, na Tijuca, e do Melo e Souza, em Ipanema, Sonia não fez faculdade. “Achei que esse negócio de sereia era suficiente”, diz, coçando o dedão do pé esquerdo, com unhas enormes e empretecidas. “Minha mãe também achava. Mas olhaí, virei uma sereia desdentada.”

Sentada na mureta da Praça Nossa Senhora da Paz, Sonia pede uma pausa na conversa para acender um Marlboro. No dedo indicador da mão direita há um anel igualzinho ao que Kate Middleton usou no noivado com o príncipe William, aquele mesmo anel que era de Lady Di. “É bijouteria, claro”, esclarece. O cigarro, ela conta, é sua perdição. É por ele que Sonia sai de casa todos os dias. Vai para as ruas pedir dinheiro para comprar pelo menos um maço.


A abordagem é direta, sem rodeios. Não fala que está com fome, não faz drama. “Oi, pode me dar um real?”. Também não conta que é para comprar cigarro. “Claro que não. É uma questão de ética.”


“Peço um real e vou juntando. Quando consigo comprar um maço, volto para casa”. Num desses dias, ela foi até o Leblon. Parou em frente à Padaria Rio-Lisboa e pediu dinheiro a um taxista. No balcão, seu irmão, Cláudio, tomava café e fingiu que não a conhecia. “Fiquei constrangido”, diz. Numa outra vez, Cláudio, que mora em Friburgo e vem ao Rio com frequência, estava no supermercado Zona Sul e a viu, também na porta, (“ela não entra nos lugares, fica só na porta”) falando sozinha. “Me senti mal, claro. Mas a chamei de volta para casa.” É ele também quem paga o condomínio do apartamento.

A derrocada da ex-Sereia começou mesmo quando ela perdeu o emprego de executiva de marketing no BarraShopping, no início dos anos 80, pouco depois da morte do pai. “Lembro dela nesta época do shopping, linda, saindo de carro, salto agulha e tailleur”, diz o vizinho Mario Vicenzio Cardillo.

Desempregada, Sonia passava temporadas entre Mirantão, em Visconde de Mauá, e Maricá, na Região dos Lagos. Voltava para o apartamento da Barão da Torre com frequência, mas gostava de ficar nessas cidades com seus bichos. A casa de Ipanema chegou a ter quase 50 cachorros, a maioria da raça pointer. E também gatos, muitos gatos. “Eu ia à feira e voltava com dois baldes de cabeça de peixe para dar para eles”, lembra Cláudio.


A família reparou que alguma coisa não estava bem quando Sonia passou a falar sozinha. Fazia isso com frequência. Também começou a riscar as paredes com carvão. Chegava em casa com cabos de vassoura e sacolas cheias de lixo recolhido na rua. Foi com esse pano de fundo, bem nessa fase sinistra, que a moto a atropelou. “Foi demais para ela”, diz Mario, o vizinho e fã, que mora no primeiro andar.

Ele, que aos 7 anos foi com a mãe ao Maracanãzinho torcer por Sonia no concurso de Miss, não acreditava no que via. “Ela estava toda quebrada, sem os dentes, irreconhecível.” Sonia chegou a botar uma prótese na arcada superior, mas anos depois tirou.

No final dos anos 90, ela chegou a passar duas semanas internada no Instituto Pinel, onde foi diagnosticada a esquizofrenia. Como não tomou os remédios prescritos, voltou à estaca zero. Desde então, vive de caminhar, em andrajos, pelas ruas de Ipanema, em busca de dinheiro para o cigarro. Faz colagens com papéis e revistas que recolhe nos lixos e quer publicar um livro. “Mas sem ninguém dizer como tem que ser. Livro artesanal mesmo.”

Quem a conhece diz que Sonia piorou ainda mais desde que a mãe morreu, há dois anos. Ela estaria mais triste, ficando mais tempo fechada no apartamento, entulhado de coisas que pega na rua. Sonia usa o elevador e a entrada de serviço do prédio onde mora com o filho mais novo, o estudante de Direito Igor, nascido um ano depois do acidente.

A ex-Sereia das praias cariocas só dorme na cama de massagem da mãe, talvez para tentar manter algum contato com ela. Perguntada sobre o que a deixaria feliz, nem pensa duas vezes. “Meu sonho dourado é um empadão de camarão com chopinho bem gelado.”

Fonte: CL Gente Boa - O Globo - 30/06/2013.

Veja também: 

 



Ateísmo das celebridades.Ateus e Agnósticos*?

Deus nos criou, deu-nos livre arbítrio, portanto não somos obrigados a adorá-lo, a amá-lo, mas eu pergunto: Como e onde despejar nossas angústias, mazelas e medos? Onde chorar nossas frustrações nas noites mal dormidas, onde buscar a esperança pro sonhos galopantes?

Dentre esta e outras perguntas, é possível notar Deus sem muitos experimentos e pouca Ciência. Deus se revela em nosso íntimo, na natureza, na Sua palavra escrita -  a Bíblia. Quer vê-Lo?. Basta olhar no reflexo dos olhos de seu próximo, no fundo dos olhos. Deus é amor. Essa relação é íntima de cada um, é uma decisão individual e própria. 

Abaixo algumas celebridades que não acreditam em Deus, não enxergam o obvio! Talvez uma escolha profissional não tenha permitido o encontro, talvez uma escolha econômica os tenham afastado de Deus, uma influência cultural talvez. São muitos os motivos e escolhas que nos afastam de Deus. Porém Ele está sempre do nosso lado, mesmo O perdendo mil vezes, nunca O perdemos. Sempre tem volta e tem encontro! Que bom né?



No dia 23 de julho, o ator Brad Pitt virou o centro das atenções e criou polêmica quando declarou em uma entrevista à revista alemã Bild que não acredita em Deus. O astro disse que não é uma pessoa espiritualizada. “Sou provavelmente 20% ateu e 80% agnóstico. Não acho que alguém realmente saiba (se Deus existe). Você só vai descobrir, ou não, quando chegar lá. Até isso acontecer não existe porque ficar pensando no assunto”, disse [se existe a possibilidade de a vida eterna ser verdadeira, é perda de tempo procurar se preparar para o caso de ela ser mesmo real? O risco é de 50%, portanto, muito alto...]. Mas não é só o galã que já afirmou isso. Há uma lista de famosos que assumiram ser ateus, aqueles que têm 100% de certeza de que Deus não existe, ou agnósticos, aqueles que apenas acham que isso nunca será descoberto.


Em 2002, a atriz Julianne Moore deu uma entrevista no Actor’s Studio e quando foi questionada sobre o que diria a Deus se O visse falou: “Uau, eu estava errada, você realmente existe.” O ator Bruce Lee, que é considerado um deus das artes marciais, disse em uma entrevista ao jornalista Alex Ben Block, em 1972, que não acreditava em Deus e quando foi questionado sobre sua religião respondeu “absolutamente nenhuma”. 

Em 1988, o diretor e ator Sean Penn comentou em uma entrevista à revista George que era agnóstico. O criador dos Simpsons, Matt Groening, disse ao jornal Denver Post, em 1999, que é agnóstico. “Mas eu definitivamente acredito em inferno – especialmente depois de ver a programação de outono na TV”, brincou.


O astro de High School Musical, Zac Efron, não ficou de fora. Em 2007, Zac deu uma entrevista para a revista Rolling Stone e disse que foi criado em uma família agnóstica e nunca praticou religiões.

Quando veio ao Brasil passar o réveillon em Copacabana, a atriz italiana Mônica Bellucci disse que é agnóstica. “Sou, embora respeite e me interesse por todas as religiões. Se tem algo em que eu acredito é em uma energia misteriosa, aquela que enche os oceanos durante as marés, a que une a natureza e os seres”, explicou. [Duvida da existência de Deus, mas acredita em uma “energia misteriosa”...]


O cineasta, roteirista, escritor, ator e músico Woody Allen disse que de vez em quando tem inveja das pessoas que são naturalmente religiosas, sem ter passado por lavagens cerebrais ou captadas por indústrias organizadas.



Jodie Foster é assumidamente ateia. Em 2007 disse: “Amo religiões e rituais mesmo sem acreditar em Deus. Celebramos as datas religiosas com as crianças e elas adoram. E quando perguntam ‘somos judeus?’ ou ‘somos católicos?’ digo que poderão escolher quando tiverem 18 anos.” Mas, em 2008, assistida por um monge shantoísta, a atriz fez uma saudação oriental na première do filme “Nim’s Island Japan”. [Não é de hoje a inclinação de muitos astros de Hollywood para religiões de cunho oriental, as quais não têm que ver com mudança de estilo de vida e compromisso, mas são caracterizadas como “filosofia de vida”.]


Em 1991, a atriz Katharine Hepburn disse ao Ladies’ Home Journal que é ateia. “Eu acredito que não há nada que possamos saber exceto que devemos ser bons uns para os outros e fazer o que pudermos fazer uns pelos outros. Não, eu não acredito em Deus e, depois de viver, pretendo ter um longo e feliz descanso debaixo da terra.” [Quanto conformismo! Sinceramente, não consigo ver sentido em existir, ter consciência, amar, sentir o poder e o chamado da transcendência, para depois virar adubo. Podem discordar de mim, mas isso não faz sentido.]

Durante uma palestra, Drauzio Varela desabafou e disse que virou ateu quando mordeu uma hóstia e viu que não saiu sangue de dentro dela [este é o problema com dogmas como a transubstanciação, o inferno, etc.: quando provados sem sentido ou injustos, afastam as pessoas de Deus]. “Sempre que ouvia as aulas de religião no colégio pensava que aquilo podia ser mentira. 



Quando você começa a fazer isso com religião é devastador, porque é uma questão de fé. Religião não admite racionalidade”, finalizou. [Drauzio parte de seu ceticismo quanto à sua experiência religiosa pessoal e joga na sarjeta a experiência de pessoas como C.S. Lewis, Anthony Flew, Blaise Pascal, Newton e Galileu, e muitos outros, para os quais religião e racionalidade andam, sim, de mãos dadas. O apóstolo Paulo mesmo diz que nosso culto deve ser racional. Cf. Romanos 12:1. Uma coisa é a opinião particular de que Deus não existe; outra é querer medir/definir a religião por meio dessa opinião.]



Em 2007, o ator de Harry Potter, Daniel Radcliffe, disse para um jornal alemão que não acredita em Deus, mas acredita na teoria da evolução. [Cada um tem a sua fé...]




Nando Reis afirmou que perdeu a fé quando dois irmãos tiveram sequelas de uma meningite: um perdeu a audição e outra teve paralisia cerebral. "Eu não acredito em Deus. Eu não peço a Deus...”, disse o músico, em entrevista à Playboy, mas também foi publicado uma entrevista sua no caderno de esportes do jornal O Estado de São Paulo:“Infelizmente não acredito em Deus. Digo infelizmente pois essa impossibilidade muitas vezes faz da minha vida um trajeto silencioso e solitário. Gostaria de poder dividir com alguém as penúrias e as agruras dessa vida tão complicada.”





Caetano Veloso escreveu no livro "Verdade Tropical" que o Brasil deveria ser ateu. Em entrevista à "Ípsilon", falou sobre a polêmica. "(Fui) criticado com razão. Não há o menor indício de que o Brasil tenha vocação para isso. Mas o ateísmo filosófico moderno, que tem a ver com a experiência do mundo moderno que vivemos, não pode ser simplesmente negado", defendeu.



Chico Buarque de Holanda é avesso a entrevistas e a levantar bandeiras, mas se diz ateu. "Eu não tenho crença. Eu fui criado na Igreja Católica, fui educado em colégio de padre. Eu simplesmente perdi a fé



O vocalista da banda Pearl Jam, Eddie Vedder, disse durante um show da banda no Seattle's Memorial Stadium, em julho de 1998, que agradeceria aquele momento a Deus, mas não poderia fazer aquilo porque não acredita que ele exista.


Lima Duarte é ateu declarado, mas discordou da implicância do autor português José Saramago (morto em 2010) com Deus. "Sou ateu como o Saramago, mas eu não preciso ficar amando Deus pelo avesso como ele fica", disse à Folha de S.Paulo, sobre o livro "Caim".


Deborah, que esteve na novela "Insensato Coração", também não acredita em Deus. "Fé é uma coisa que ou você tem ou não tem. E eu nasci sem fé”, disse ela.




* Ateu é quem não crê em Deus ou em qualquer ser superior. A palavra tem origem no Grego “atheos” que significa “sem Deus, que nega e abandona os deuses”. É formado pela partícula de negação “a” juntamente com o radical “theos” (deus).

O termo nasceu na Grécia Antiga para descrever aquelas pessoas que rejeitavam as divindades adoradas por grande parte da sociedade. Eram considerados ímpios por não acreditarem nos muitos deuses venerados.

Nas religiões teológicas (que envolvem a crença em um ser divino), um ateu é aquele que nega a existência de um ser supremo, onipotente (que pode tudo), onisciente (que sabe tudo) e onipresente (que está ao mesmo tempo em todos os lugares).

O ateísmo é a doutrina dos ateus. É uma postura filosófica que rejeita a ideia de existência de quaisquer deuses. É uma atitude de descrença perante a afirmação religiosa de que existem divindades e de que elas exercem influência no universo e na conduta humana.

Um ateu pode ter uma atitude ativa (quando defende de forma veemente a ausência de qualquer deus) ou uma atitude passiva (quando nega apenas por não haver provas que demonstrem a existência da divindade).

Agnóstico é aquele que considera os fenômenos sobrenaturais inacessíveis à compreensão humana. A palavra deriva do termo grego “agnostos” que significa “desconhecido", "não cognoscível”.

Num sentido religioso, agnóstico é aquele que não acredita na existência de Deus, porém não nega essa possibilidade, por se encontrar num patamar racionalmente inacessível. Diferente do ateu que nega a existência de Deus ou de qualquer entidade superior.

Os agnósticos são seguidores da doutrina denominada “agnosticismo” que considera inútil discutir temas metafísicos, pois são realidades não atingíveis através do conhecimento. Para os agnósticos, a razão humana não possui capacidade de fundamentar racionalmente a existência de Deus.

O termo “agnóstico” foi usado no século XIX pelo naturalista inglês Thomas Henry Huxley (1825-1895), quando descreveu sua dúvida a respeito de algumas crenças religiosas, do poder atribuído a Deus e do sentido da vida e do universo. Desde então, muitos estudiosos escreveram sobre o assunto.

Fonte: Yahoo noticias e
Fotos: Caras.

domingo, 8 de setembro de 2013

Animais além da estimação.

por Carol Castro e Alexandre Versignassi.



Três andares acima do térreo, a alguns lances de escada de distância, muito antes de você apalpar os bolsos em busca da chave, seu cachorro o aguarda ansioso atrás da porta. Ele sabe que você, e não o seu Zé, que recolhe o lixo do prédio todos os dias, está prestes a subir até o terceiro andar. Basta colocar o primeiro pé dentro de casa para receber a saudação calorosa do bichinho. E não importa com quem você esteja. Se chegar acompanhado com velhos ou novos amigos, ou mesmo com seu irmão gêmeo, que mora no exterior há alguns anos, ele não vai pular nas pernas erradas. Ele sabe quem é você.

Mas não sabe quem ele é. Coloque um ser humano em frente ao espelho e este animal bípede começa instintivamente a mexer no cabelo (achando que um tapinha na franja realmente vai deixá-lo mais bonito). Um cão, porém, consegue ser ainda mais bestial: a reação dele ao espelho é a mais completa indiferença. Nem uma olhadinha. Ele não reconhece a própria imagem. E se não reconhece a própria imagem, não tem aquilo que chamamos de consciência, certo? Até pouco tempo atrás, era o que a ciência achava. Animais que reconhecem a própria imagem no espelho teriam consciência - e aí entram basicamente nós, nossos primos (os grandes macacos - chimpanzé, gorila, orangotango), cetáceos e elefantes. Os bichos que não se reconhecem não teriam noção de "eu". Não teriam consciência.

Mas a verdade provavelmente é outra. O problema não está nos animais que não se reconhecem no espelho. Está em quem testa a presença de consciência sob a ótica humana. O mundo de um cachorro ou de um gato não se cria majoritariamente com imagens, como o nosso. Eles veem com sons e, principalmente, cheiros. E o espelho exclui a melhor arma de reconhecimento do cachorro: o olfato. O biólogo Marc Bekoff, da Universidade do Colorado, testou o próprio bichinho para saber se ele era capaz, de alguma forma, de se reconhecer. Em vez de testar imagens, Bekoff pensou como um cão. Durante cinco invernos, toda vez que saía para passear com o companheiro, recolhia pedaços de neve onde o cão havia feito xixi. Depois, recolhia neve com urina de outros cachorros.

Então Bekoff espalhava os blocos de neve - alguns com xixi do cachorro dele, outros com o de outros cães -por lugares diferentes. E a reação do melhor amigo do pesquisador era sempre a mesma: quando encontrava a urina de outro cão, despejava um novo jato de xixi em cima para marcar o território como dele. Normal. Mas quando encontrava um bloco com a própria urina, não dava bola. Sabia que aquele xixi já era dele, então o território não precisaria de remarcação. Resultado: o cachorro sabe muito bem quem ele é. Mas diferentemente de você, que se reconhece pela fisionomia, ele faz isso pelo cheiro.

Se o nosso mundo é rico em imagens, o dos animais domésticos, as estrelas desta reportagem, vem carregado de sons, cheiros e sensações. E qualquer coisa acompanha uma porção de informações: um poste é uma fonte rica de notícias, diz se outro animal passou por ali, quem era, e há quanto tempo isso aconteceu. Ainda é impossível aguçar nossos sentidos, entrar na pele deles e entender a riqueza de cada cheiro, som, imagem ou sabor. Mas dá para entender como eles veem o mundo e descobrir por que seus pets insistem em fazer coisas que você odeia - ou adora.

Olfato além do alcance
Rememore a primeira informação desta matéria: gatos e cães constroem o mundo com cheiros, sons e um pouco de imagens. Para os cães, o olfato é fundamental. Existem entre 120 e 300 milhões de células olfativas dentro do nariz. Nós temos apenas 6 milhões. O que isso significa? Que eles podem até detectar câncer em humanos só farejando nosso hálito.

É o que pesquisadores do hospital Schillerhoehe, na cidade de Gellingen, Alemanha, descobriram em 2011. O oncologista Thorsten Walles e seus colegas deram amostras de tumores para que os cães farejassem. Era uma forma de treino, como fazem com cães farejadores de drogas - dão um osso de borracha com cocaína dentro para que o cão aprenda a reconhecer o cheiro do entorpecente; aí ele consegue reconhecer cocaína camuflada até dentro de sacos de café no fundo de uma mala.

Os alemães fizeram mais ou menos isso, só que com amostras de células cancerosas. Depois, pacientes com câncer de pulmão em estágio inicial sopraram dentro de tubos de ensaio (que eram tapados em seguida). Os cientistas treinaram os cachorros para sentar cada vez que sentissem "cheiro de câncer" em algum desses tubos de ensaio. E os cachorros acertaram 71% dos casos.



A ideia dos pesquisadores agora é construir uma espécie de "nariz eletrônico" que seja capaz de reconhecer os mesmos elementos químicos característicos de câncer que os cães farejam. Seria uma máquina capaz de detectar a doença logo nos estágios iniciais - uma revolução no mundo dos diagnósticos, que certamente salvaria vidas. Mas, por enquanto, há um problema: determinar quais são esses elementos químicos que denunciam a presença de um tumor. Como disseram os pesquisadores: "Infelizmente, os cães não têm como nos dizer qual é a bioquímica do cheiro do câncer". Seja como for, o olfato deles continuará sendo uma ferramenta fundamental nessa busca.

Não é apenas a quantidade de células olfativas que deixa o nariz dos cães tão poderoso. As partes internas do nariz e suas divisões têm um papel importante. Para saber como funciona mesmo o nariz deles, uma equipe da Universidade do Estado da Pensilvânia convocou sete cães, colocou máscara neles e despejou alguns odores. Os pesquisadores conectaram o nariz de uma das cadelas participantes a um equipamento de ressonância magnética. Aí revelaram o caminho do ar dentro das narinas caninas. Descobriram áreas específicas de respiração e expiração. No nosso caso, por exemplo, não temos uma área onde guardamos o ar inalado e outra onde fica o ar exalado. Por conta disso, quando respiramos, paramos de "farejar" e soltamos todo o gás, carregado de odores, de volta para o mundo. Nos cães isso é diferente, enquanto respiram o processo olfativo continua ligado. E nenhum odor passa batido pelo cão. Por isso mesmo, tanto eles como os gatos (outros campeões na detecção de odores, com 200 milhões de células olfativas) usam o nariz para se reconhecer e trocar informações.

E para "coversar" com você. Fungando suas meias e sapatos, eles descobrem por onde você andou, se encontrou com outras pessoas, o que comeu, se fez sexo, fumou ou correu. Entende agora como seu calçado é tentador para eles? O sofá e a sua cama também. E onde mais houver o seu cheiro. Por isso mesmo, gatos e cachorros preferem ficar perto de lugares onde podem sentir o cheiro dos donos. Mesmo se for a sua poltrona nova. Isso funciona também com roedores - quando vão mudar de gaiola, recomenda-se colocar algum pano com o cheiro da gaiola antiga - e do dono.

O papagaio não se importa tanto assim com o seu cheiro. Com faro pouco desenvolvido, ele reconhece você pela aparência ou voz. O paladar de um papagaio, aliás, também é péssimo. Enquanto nós temos 9 mil papilas gustativas, nos papagaios esse número varia de 300 a 400. E ele não fica sozinho nessa pobreza gastronômica. Na língua dos gatos só aparecem 473 papilas. Os cachorros têm um pouco mais: 1,7 mil. Assim como os papagaios, esses dois mamíferos conseguem distinguir as quatro principais características da comida. Mas seu gato dispensa os doces, e o cachorro detesta comidas amargas (passe um caldo de jiló na ponta do móvel que ele adora morder para ver se essa mania não acaba). Com um paladar tão fraco, os dois não se importam em degustar com calma um prato de ração premium. Eles devoram os pratos - para que perder tempo se não tem um milhão de sensações para descrever, como fazem os humanos? Aliás, é por causa desse ponto franco que os dois animais engolem qualquer comida que cair no chão.

No fim da história, quem sabe mesmo apreciar um jantar são os roedores. Os porquinhos-da-índia e os coelhos têm 17 mil papilas gustativas espalhadas pela língua. Quase duas vezes mais do que nós. Então eles exigem um cardápio selecionado. Alguns desses bichinhos gourmet, para você ter uma ideia, até rejeitam verduras e folhas com agrotóxicos.

Mas a falta de sensibilidade dos cães e gatos fica só no paladar mesmo. Nas coisas que realmente importam para a nossa convivência com eles, os animais domésticos são gênios da percepção. Até os cavalos são mestres nesse quesito.


Os sons do silêncio
A história de Hans, um cavalo alemão, mostra bem a capacidade de observação e associação dos animais que criamos. No começo do século 20, ele se tornou celebridade por acertar equações matemáticas. O dono escrevia na lousa uma conta como 1/2 + 1/3 e pedia a resposta ao animal. Ele batia a pata cinco vezes no chão, esperava uns segundos e batia mais seis vezes. Ou seja: 5/6. O dono dizia ter treinado o animal por dez anos.

Pura malandragem do treinador. Por trás do "raciocínio lógico" do equino, o que havia era uma capacidade ímpar de observação. Ele conseguia perceber sinais sutis no rosto do dono, que o público não tinha como observar. E, assim, descobria quando deveria bater ou não as patas no chão. Ou seja: um cavalo pode ser um ótimo parceiro de truco.

Cães e gatos também. Eles reparam, associam e memorizam tudo. Cada gesto, cada barulho. Tudo serve de pista sobre o próximo passo do dono. Aquele tilintar de chaves sempre vem antes da despedida. O cheiro do perfume também precede a sua saída. Eles guardam e aprendem com esses sinais. Sabem quando você está prestes a ir embora - e demostram toda a tristeza que sentem nesses momentos...

É quase impossível escapar do radar dos cães e dos gatos. Os felinos escutam ainda melhor que os cães. E absurdamente mais do que você. Um som que passe dos 20 mil hertz (o extremo do agudo) fica inaudível para nós. Já os gatos ouvem até 60 mil hertz. Os cachorros chegam aos 45 mil hertz. Isso porque os dois evoluíram caçando roedores, então conseguem captar os sinais hiper agudos que os ratinhos emitem para se comunicar. Nem o som das vibrações corporais dos cupins passa batido pelos gatos. Até o som de lâmpadas fluorescentes (sim, elas fazem barulho) eles conseguem captar. Segundo a especialista em comportamento animal Temple Grandin, da Universidade do Colorado, se você estiver conversando no térreo, seu gato vai ouvir e reconhecer sua voz lá do décimo andar. Insano.

Eles ouvem sons naquilo que para nós é silêncio. Mas isso não impressiona tanto quanto uma habilidade de outro animal doméstico: o papagaio, que enxerga o que para nós é invisível.

Papagaios psicodélicos
Os papagaios veem o mundo com visão ultravioleta. Na prática, enxergam cores invisíveis. "Quando eles olham para os pelos de outro papagaio, conseguem saber se é macho ou fêmea", diz Susan Friedman, especialista em comportamento animal da Universidade do Estado de Utah. Já nós, humanos, não conseguimos diferenciar papagaios de papagaias - só mesmo com intervenção cirúrgica para checar os órgãos genitais (um processo bem invasivo), ou com teste de DNA.


A visão ultravioleta também permite saber o grau de maturação de algumas frutas, como uvas, caquis e figos. Mas a graça dela vai bem além dessa parte mais pragmática. O mais bacana aqui é que os papagaios veem um mundo que para nós seria psicodélico. Temos três receptores de cor nos olhos (para verde, azul e vermelho). Então essas três são as nossas cores primárias - e a combinação entre elas cria as cores do nosso mundo. Os papagaios (e outras espécies de aves, peixes e répteis) têm quatro receptores: os nossos mais um dedicado ao ultravioleta. A combinação desses quatro cria um mundo estupidamente mais colorido que o nosso - um mundo tão difícil de imaginar quanto uma realidade com quatro dimensões, em vez das três que a gente conhece. O fato é que, se papagaios produzissem caixas de lápis de cor, elas teriam milhares de lápis. E olha que isso não é nada perto do que outros animais enxergam. O campeão mundial de visão, por exemplo, tem 12 receptores de cor. Doze cores primárias... Uau. E esse nosso amigo pra lá de lisérgico nem é um animal dos mais relevantes: trata-se do mantis, uma espécie de camarão.

Bom, pelo menos no mundo dos mamíferos nós levamos vantagem sobre os animais domésticos. O gato e o cachorro possuem só dois receptores de cor (azul e verde). Então o mundo deles é um pouco menos colorido que o seu. E diferente: o vermelho vira verde, o verde ganha um tom mais amarelado, e o violeta fica azulado. Até o preto parece mais desbotado. O porquinho-da-índia, diferente de outros roedores, que só enxergam em preto e branco, também tem visão bicromática (vermelho e verde). É como se eles, os cães e os gatos fossem daltônicos.

E essa não é a única diferença. As imagens da televisão, por exemplo, não fazem sentido para eles. Nosso olho, assim como o de outros animais, não apaga uma imagem no centésimo de segundo seguinte à captação. Ele ainda a mantém "viva" por uma fração de segundo. Se antes desse tempo surgir outra imagem, você terá a impressão de que as figuras estão em movimento. É o que acontece no cinema e na televisão: as cenas rodam numa velocidade de, no mínimo, 24 imagens por segundo. Se um filme mostrasse só cinco quadros por segundo, seria uma sequência quase pausada de figuras, como um filme em stop motion. É assim que os cães e gatos veem. Eles enxergam mais em menos tempo: um cachorro consegue ver de 70 a 80 imagens por segundo, um gato vê 100 imagens; até o porquinho-da-índia ganha de nós, com 33 imagens por segundo.

Essa percepção-extra faz com que eles vejam a programação de TV como se ela fosse em stop motion, com "cortes" entre cada cena. Além disso, a tela fica tremida e dá para ver a passagem dos quadros, que surgem de baixo para cima. Chaaaato.

As TVs digitais resolveram parte desse problema. Elas rodam numa velocidade mais alta, aí os cachorros conseguem ter uma visão mais parecida com a nossa, sem tremedeira na tela. Ainda assim, isso não basta para prender a atenção deles.

Mas para os cachorros, pelo menos, cientistas criaram uma solução: um canal de TV totalmente voltado a eles. Nicholas Dodman, veterinário e pesquisador da Universidade Tufts, lançou a novidade nos EUA no começo deste ano. O canal, chamado de DOGTV, mostra cenas de cachorros correndo pelo gramado, brincando entre si, pulando na piscina. Cada detalhe dos programas tem a ver com os interesses caninos. As cores foram adaptadas ao mundo "daltônico" deles e os sons também: o barulho da grama enquanto o cachorro passa por ela, o da bola que pinga no chão... O enquadramento também é diferente, as cenas foram filmadas do ângulo de um cachorro. Por exemplo, enquanto o bicho passa pela mata, o cachorro-telespectador vê a grama alta, como se ele mesmo passasse por ela. Dodman testou a eficiência do canal. Ele preparou três cenários para cachorros: canais humanos, como CNN ou Animal Planet, o DOGTV e uma TV desligada. Com monitoramento via câmera, o pesquisador concluiu que 75% deles assistiram pelo menos um bloco a mais do DOGTV do que das outras alternativas. Outra diferença é que cães e gatos enxergam melhor na penumbra. Em volta do glóbulo ocular deles existe uma membrana chamada tapetum lucidum, que funciona como um espelho e reflete toda a luz disponível de volta para a retina. Graças a isso, eles conseguem enxergar até 40% melhor do que os humanos no escuro.

É, perdemos feio nessas partes. Em compensação, temos um ponto a nosso favor: fóveas, que são uma porção de fotorreceptores na área central das retinas. Elas nos permitem ver bem coisas a poucos ou muitos centímetros do nosso nariz. Se você colocar um brinquedo numa distância entre 25 e 40 centímetros do nariz de um cão, provavelmente ele terá dificuldades em vê-lo. Ponto para nós. Mas, grande coisa, ainda ficamos atrás dos pássaros: os papagaios têm quase o dobro de fóveas. Sem contar o fato de os olhos estarem posicionados nas laterais do rosto. Isso permite a ele ver o que acontece ao redor numa panorâmica de quase 360 graus. Se soubessem driblar, seriam ótimos jogadores de futebol - até porque xingar o juiz, os papagaios já sabem muito bem.

O papagaio sabe o que diz?
Ele não grita biscoito à toa. Você ensina o que é biscoito, ele aprende e grita o dia inteiro na tentativa de ganhar mais comida. Muitos deles dizem oi quando você chega e tchau quando vai embora. Eles podem não saber semanticamente o que "oi" significa. Mas vem cá: você sabe, por acaso? Não, porque esse significado nem existe. "Oi" é apenas um som que os falantes de português emitem para avisar que chegaram. E que nós aprendemos quando ainda somos projetos de gente. Por esse ponto de vista, um papagaio dando "oi" é algo tão complexo quanto um ser humano dando "oi".

E talvez eles sejam ainda mais parecidos com a gente. "Acho que entendem o contexto das frases. Dizer que é só imitação é subestimá-los", aposta Susan Friedman. Nada ainda foi comprovado cientificamente, mas 30 anos de pesquisas parecem endossar a opinião de Friedman. Os papagaios podem resolver algumas tarefas linguísticas semelhantes com a mesma habilidade de crianças entre quatro e seis anos. Pelo menos foi assim com Alex, um famoso papagaio treinado pela pesquisadora Irene Pepperberg ao longo de 30 anos. Ele compreendia os conceitos das palavras "mesmo", "diferente", "maior", "menor" e "nenhum", além de saber somar números. No total, conhecia 100 diferentes palavras e distinguia cores e formas. Morreu aos 31 anos de idade, do lado de Irene.


Eles podem não ter as artimanhas do cérebro humano para racionalizar um diálogo e aprender uma língua complexa, mas podem, por associação, entender os contextos de cada frase. Ou, como no caso do cavalo Hans, perceber no íntimo da linguagem corporal do dono como agradá-lo e responder da forma como espera. E não é nada surpreendente.

Eles são bichos sociáveis e se comunicam com outras aves por meio dos sons. Um ruído um pouco mais agudo pode significar perigo à vista, uma conversa à toa, ou um pedido de comida de um filhote. Cada cria, aliás, recebe um nome logo após o nascimento.

Um estudo da Universidade de Cornell colocou câmeras em 16 ninhos de papagaios. As imagens mostram os pais "falando" o nome dos filhos antes mesmo que eles fossem capazes de cantar. Depois de algum tempo, os patriarcas ensinavam os filhos a reproduzirem os sons do próprio nome. Essa troca de nomes também não é sem propósito. Quando as turmas se misturam, fica mais fácil gritar o nome dos companheiros do que tentar encontrá-los no meio da papagaiada. Mas, se há a suspeita de que os papagaios sejam gênios linguísticos, o mesmo vale para os cães e gatos? É o que vamos ver agora.

Todo mundo sabe: um cachorro bem treinado senta quando escuta a ordem. Ou rola e dá a pata. Mas eles entendem que essas cinco letras que formam a palavra "senta" significam "flexione as pernas até apoiar as nádegas numa superfície horizontal"? E que "rolar" é o ato de fazer girar? Não, claro. Mas aquela mania de passar o tempo a observar o dono o deixa pronto para memorizar o som da palavra, a entonação, os movimentos corporais e o que aquilo tudo significa.

"Eles aprenderam as deixas mais fáceis para eles e não a palavra `senta¿, que os cães, com seu repertório limitado de sinais vocais, devem achar difícil de distinguir de outras expressões que soem de maneira parecida", conta John Bradshaw, no livro Cão Senso. É a mesma lógica do cavalo Hans: eles aprendem os pequenos sinais corporais do dono.

Para ganhar espaço no mundo dos homens, seu pet aprendeu a observar cada passo seu. Até os porquinhos-da-índia fazem isso: deixe a gaiola num lugar onde não dá para ver nada e você vai perceber a frustração dele - dificilmente o animal vai interagir com você. Ele precisa conhecer os donos para se acostumar com a companhia e viver as mesmas rotinas. Mas para isso o bicho precisa de tempo para observar.

E eles nos entendem profundamente: sabem quem somos, o que fazemos, coisas que nos agradam ou não (mesmo quando desobedecem). Só quem parece ainda não conhecer tão bem os companheiros são alguns humanos. Os pets já superaram essa fase.

OLFATO
O nariz apurado de um cão pode salvar vidas: treinados, eles detectam se uma pessoa tem ou não câncer de pulmão só pelo odor do hálito. Mesmo que a doença esteja só no começo. Não há máquina capaz de algo parecido.

HOMEM - 5 milhões de células olfativas

CACHORRO - 300 milhões de células olfativas

O MELHOR OLFATO: URSO - 4 Bilhões de células olfativas


AUDIÇÃO
Nenhum animal doméstico é páreo para o gato no quesito audição. Ele consegue ouvir os sons das vibrações corporais dos cupins. E você chegando no térreo, mesmo que esteja num apartamento no décimo andar.

HOMEM - 20 MIL HERTZ

GATO - 60 MIL HERTZ

A MELHOR AUDIÇÃO: BALEIA-BRANCA (OU BELUGA) - 123 MIL HERTZ


VISÃO
Temos três receptores de cor nos olhos: um para cada cor primária (vermelho, azul e verde). Os papagaios têm quatro: os nossos mais um para o ultravioleta. O mundo deles, então, é bem mais colorido que o seu.

HOMEM - 3 receptores de cor

PAPAGAIO - 4 receptores de cor

A MELHOR VISÃO: CAMARÃO MANTIS - 12 receptores de cor


PALADAR
Cachorros e gatos praticamente não sentem o gosto da comida. Se você quiser um bicho de estimação com paladar apurado, compre um porquinho-da-índia, que tem duas vezes mais papilas gustativas que os humanos. Ou arranje um bagre, o campeão mundial de paladar, com três vezes mais papilas que você.

HOMEM - 9 MIL papilas gustativas

PORQUINHO-DA-ÍNDIA - 17 MIL papilas gustativas

O MELHOR PALADAR: BAGRE - 27 MIL papilas gustativas



Referencias:
  • Na Língua dos Bichos - Temple Grandin, Rocco, 2006
  • Think Like a Cat - Pam Johnson-Bennett, Penguin Books, 2011 
  • Cão Senso - John Bradshaw, Record, 2012

 Imagens: GettyImages e Wikimedia Commons

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Síndrome de Asperger - o que é isso?


Síndrome de Asperger é um transtorno do espectro autista, diferenciando-se do autismo clássico por não comportar nenhum atraso ou retardo global no desenvolvimento cognitivo ou da linguagem do indivíduo. A validade do diagnóstico de SA como condição distinta do autismo é incerta, tendo sido removida do "Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais" (DSM), sendo confundida com o autismo.

A SA é mais comum no sexo masculino.Quando adultos, muitos podem viver de forma comum, como qualquer outra pessoa, entretanto, além de suas qualidades, sempre enfrentarão certas dificuldades peculiares à sua condição. Há indivíduos com Asperger que se tornaram professores universitários (como Vernon Smith, Prémio de Ciências Económicas em Memória de Alfred Nobel de 2002).

Um dos primeiros usos do termo "síndrome de Asperger" foi por Lorna Wing em 1981 num jornal médico, que pretendia desta forma homenagear Hans Asperger, um psiquiatra e pediatra austríaco cujo trabalho não foi reconhecido internacionalmente até a década de 1990. A síndrome foi reconhecida pela primeira vez no DSM, na sua quarta edição, em 1994 (DSM-IV).

Algumas características dos Aspergers são: dificuldade de interação social, dificuldades em processar e expressar emoções (este problema leva a que as outras pessoas se afastem por pensarem que o indivíduo não sente empatia), interpretação muito literal da linguagem, dificuldade com mudanças em sua rotina, pessoas desconhecidas, ou que não vêem há muito tempo, comportamentos estereotipados. No entanto, isso pode ser conciliado com desenvolvimento cognitivo normal ou alto.

Alguns estudiosos afirmam que grandes personalidades da História possuíam fortes traços da síndrome de Asperger, como os físicos Isaac Newton e Albert Einstein , John Kimble e Wittgenstein, o naturalista Charles Darwin, o pintor renascentista Michelangelo, os cineastas Stanley Kubrick, Andy Warhol e Tim Burton, o cantor britânico Gary Numan, Craig Nichols, vocalista da banda australiana The Vines, enxadrista Bobby Fischer.

Em 18 de fevereiro celebra-se o Dia Internacional da Síndrome de Asperger, data do nascimento de Hans Asperger, que deu nome à síndrome.

O mais famoso contemporâneo a desenvolver a síndrome... Leonel Messi, famoso jogador de futebol Argentino. Craque, superdotado, menino prodígio e... autista. Diagnosticado aos 8 anos de idade como portador da Síndrome de Asperger, também conhecida como “fábrica de gênios”. Messi é a prova viva de que a doença, uma forma branda de autismo, não impede ninguém de brilhar e, no caso do argentino, ser eleito o melhor jogador do mundo quatro vezes seguidas.

Embora o diagnóstico do autismo de Messi, que na infância também sofreu de nanismo e foi tratado no Barcelona, tenha sido pouco divulgado para protegê-lo de qualquer discriminação, seus inúmeros fãs não devem se assustar. A Síndrome de Asperger, diferentemente do autismo clássico, não acarreta em nenhum atraso ou retardo global no desenvolvimento cognitivo ou da linguagem do indivíduo — a doença afeta geralmente pessoas do sexo masculino com dificuldades de socialização, gestos repetitivos e estranhos interesses.

A fixação de Messi pela bola explicaria um pouco sobre o assunto. Apesar de seu talento inegável, o comportamento do camisa 10 argentino dentro de campo é revelador sobre o aspecto de sua doença. “Autistas estão sempre procurando adotar um padrão e repeti-lo exaustivamente. Messi sempre faz os mesmos movimentos, quase sempre cai pela direita, dribla da mesma forma e frequentemente faz aquele gol de cavadinha, típico dele”, afirma Nilton Vitulli, no site Poucas Palavras, do jornalista Roberto Amado.

Vitulli, que é pai de um portador da síndrome de Asperger e membro da ONG Autismo e Realidade e da rede social Cidadão Saúde (reúne pais e familiares de ‘aspergianos’), acrescenta que como a maioria dos autistas tem memória descomunal, Messi provavelmente conhece muito bem todos os movimentos que precisa executar na hora de balançar a rede.

“É como se ele previsse os movimentos do goleiro. Ele apenas repete um padrão conhecido. Quando entra na área, já sabe que vai fazer o gol. E comemora, com aquela sorriso típico de autista, de quem cumpriu sua missão e está aliviado”, diz Nilton, que enaltece a qualidade do chute de Messi, a sua habilidade com a bola grudada no pé, mesmo em alta velocidade, mas ressalta se tratar “apenas” de padrões de repetição comuns aos portadores da Síndrome de Asperger. Mesmo no caso do gênio Messi.

Personalidade pouco sociável fora de campo Messi sofre com os sintomas da Síndrome de Asperger. Principalmente fora de campo — a dificuldade de interação social é o maior adversário. É o que garante Giselle Zambiazzi, presidente da Associação de Pais, Amigos e Profissionais dos Autistas de Santa Catarina.

“O gestual, o olhar e o comportamento do Messi são típicos. Na premiação da Bola de Ouro ele ficou incomodado, pois não sabe lidar com o bombardeio de informações do mundo externo”, diz.

Ela leu a biografia de Messi e detectou traços marcantes da doença. “Na infância ele só saía de casa com uma bola de futebol. Mesmo que fosse ao médico”, diz Giselle, que espera que o craque não seja discriminado: “Acham que o autista é um débil mental. Não é isso. Messi é um exemplo de superação”.

Fonte: Wikipédia.

Uma Fé Extraordinária - John Harper

                                                              John Harper, a esposa e filha - Google Fotos. No livro “The Titanic's Last...