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Jacó lutando com o anjo – Gustave Doré, 1855 (Granger Collection, New York). |
"Onde está meu pecado? O que esta errado comigo? Nasci numa família estável, meu pai não bebe e nem bate na minha mãe, com todas as dificuldades normais da vida, não passo fome, estudo numa escola particular boa, sou uma pessoa alegre, um adolescente seguro, até vou a igreja aos domingos. Fiz 1ª. comunhão, confessei pequenas travessuras ao Padre que me receitou apenas 5 pai-nossos e 2 ave-marias. Onde está meu pecado? Não consigo vê-lo, nem entender porque Cristo teve que morrer por mim. Não roubei, não matei, não desejei a mulher do próximo, muito menos maltratei meus pais. Briguei algumas vezes com minha irmã, mas foi por bobeira, ela nem lembra mais! Acredito em Deus, falo com Ele às vezes e nem peço muitas coisas. Tenho tudo, amigos, comida, uma boa escola e adoro viver. Nem fico triste!
Onde está essa culpa? Onde está esta agustia?Por que tentam me vender essa culpa? Não sei do que falam, sinceramente não me sinto esse pecador. A impressão que me dá é que querem me culpar de algo que não fiz! Geralmente pessoas de mais idade. O padre da minha paroquiá só fala de culpa, de redenção, de mundo novo, de pessoas renovadas. Estou bem, se melhorar estraga. Vida perfeita, vida eterna, nem consigo imaginar isso! Será que há algo de errado comigo?"
Essas foram palavras escritas por mim numa fase pré 18 anos, um ano após viria mudar radicalmente. Até então era tudo tranquilo.A guinada veio depois dos 18 anos, foi quando minha ficha caiu, quando me questionei: "de onde venho, quem sou e pra onde vou?" Foi quando tive que conviver com a rejeição de uma namorada, foi quando canções me fizeram refletir a vida, quando a morte se deparou comigo, quando o mundo se mostrou quem era. Naquele momento quis entender, mas as respostas fugiram galopando entre meus anos. As lágrimas rolaram numa angustia sem tamanho, sozinho e desamparado de respostas mergulhei em livros, em autores, às vezes mais confusos que eu. Queria respostas, queria consolo, queria colo. Meu Deus que saga! A partir de então busquei primeiro respostas em mim mesmo, mas eram tão simplistas! Minha primeira comunhão foi o ponto de partida pra entender de onde vinha e pra onde iria. Meu papel na vida, principalmente na vida dos outros. Meus primeiro passos rumo a um lado religioso que definitivamente não aflorara.
Numa noite, depois de uma rodada de jogos estudantis, ainda lembro como se fosse ontem! Foi no Irajá Atlético Clube. Assistia, junto com uma multidão de amigos, uma partida final do time do meu colégio contra outro colégio. Não me dei conta da hora, a partida de vólei estava tão emocionante e não percebi o avançar das horas. Quando a partida acabou, ganhamos, alegria cumprimentos, abraços. fomos todos embora, fui ao ponto de ônibus e esperei o ônibus pra voltar pra casa... Não passava nada, foi me dando um desespero! Eu morava na Cidade Nova, mais de 30 Km de distância. Fique em desespero, era tarde, passava da meia-noite. Senti-me só, tão só, numa sensação de solidão e desamparo. Pela 1ª. vez me senti totalmente abandonado, inseguro, perdido, sem qualquer alternativa, impotente sem opções, sem saber o que fazer. Quem me ajudaria,quem me socorreria? Orei a Deus naquele momento, a única coisa que podia fazer... Nunca havia orado de verdade, mas naquela noite orei como nunca e prometi: "Senhor se me tirar dessa, prometo ser uma pessoa diferente, prometo ouvir essa voz dentro de mim e te seguir onde for".
Meu desespero era tão grande, que me despi de minhas vaidades, minha precoce arrogância adolescente.Meus preconceitos... Entreguei-me inteiramente nas mãos de Deus como nunca tinha me entregado a ninguém. Como por encanto estava leve e sem filtros que me afastavam de Deus. Pude confiar inteiramente em Deus e pedir pra que ele me levasse pra casa são e salvo. Eis que do nada passa um ônibus, que nunca passava por ali. Estava totalmente fora do itinerário e o mais incrível, aquele ônibus passava justamente em frente a minha casa. Uma voz me disse: é esse, nem tive tempo de duvidar.
O ônibus estava muito lotado, mas minha alegria era tanta que nem percebi o desconforto. Por alguma manobra do motorista, ele teve que mudar o itinerário naquela noite, tudo que eu precisava. Algumas pessoas, dentro coletivo, reclamavam do tempo a mais gasto, aquele ônibus estava bem atrasado! Eu apenas sorria sozinho, sonhando com minha cama quentinha e do aconchego da minha casa. Agradeci a Deus como nunca! Naquele noite pude sentir a intercessão de Deus na minha vida, daquele dia em diante, tive a certeza de Sua presença nos meus dias, daquele dia em diante pude aprimorar minha relação com Ele. Daquele dia em diante aprendi o que é ser livre do egoismo, da vaidade, do pecado que nos distancia tanto de Deus. Naqueles minutos de angustia pude ver o meu pecado, pude entender por que precisamos estar com Jesus. Por minutos me senti nu diante de meu Deus, entendi o que é fé, entendi o que é acreditar no que não podia ver, mas ao mesmo tempo, nunca havia me sentido tão protegido. Pude entender a morte na cruz!
Eu estava perdido em meu egocentrismo, em minhas conquistas, em minhas futilidades sem finalidade, não conseguia perceber, vivia como uma pipa solta sem linha. Jesus me ouviu, acolheu-me em seus braços, rompeu os laços que me prendiam a mim mesmo, às minha imperfeições não diagnosticadas.
Que os que lerem essas palavras possam desfrutar o prazer de ser liberto. Não briguem com o seu destino, não briguem com Deus. Não espere ser atingido pelo desespero, pela dor, pelo desamparo, pela queda do avião para perceber que Deus tem um plano pra você e você precisa aceitá-lo.
Hoje sou livre, livre dos meus erros, das lembranças ruins do passado! Que alegria, que Gloria!! Há uma canção que retrata meu sentimento após essa experiência tão gratificante e definitiva, ela descreve na integra meu sentimento, reflete como alguém pôde lutar e vencer sua natureza pecaminosa. Como o derrotado sai vencedor!
Feliz Sábado!