sábado, 10 de janeiro de 2015

Je ne suis pas Charlie..

Charge do Jornal Charlie Herbdo
retratando a ministra da justiça da Franç
a,Christiane Taubira
Bem pouco se conhece e bem pouco se entende essa questão muçulmana na França e na Europa. Estou vendo, nas redes sociais, muita gente apoiando os cartunista mortos, até os endeusando sem compreender essa questão direito, muita gente embarcando na barca da liberdade de expressão, sem ao menos, se dá conta de procurar saber mais sobre o caso. Claro que o atentado terrorista não tem justificativa, a morte de uma pessoa sempre nos diminui. A humanidade diminui diante da morte! A humanidade sempre perde com mortes!! Ninguém merece morrer, mesmo quem mata. 

Diante de tantas questões, achei um texto muito sério e capaz de explicar toda essa celeuma com o islamismo. Texto de um padre que é teólogo e historiador e conhece bem a situação da França atual. Ele nos fornece dados que muitos talvez não os conheçam. Suas reflexões nos ajudam a ver a complexidade deste anti-fenômeno com suas aplicações também à situação no Brasil. (RCL)
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Eu condeno os atentados em Paris, condeno todos os atentados e toda a violência, apesar de muitas vezes xingar e esbravejar no meio de discussões, sou da paz e me esforço para ter auto controle sobre minhas emoções…


Lembro da frase de John Donne: “A morte de cada homem diminui-me, pois faço parte da humanidade; eis porque nunca me pergunto por quem dobram os sinos: é por mim”. Não acho que nenhum dos cartunistas “mereceu” levar um tiro, ninguém o merece, acredito na mudança, na evolução, na conversão. Em momento nenhum, eu quis que os cartunistas da Charlie Hebdo morressem. Mas eu queria que eles evoluíssem, que mudassem… Ainda estou constrangido pelos atentados à verdade, à boa imprensa, à honestidade, que a revista Veja, a Globo e outros veículos da imprensa brasileira promoveram nesta última eleição.


A Charlie Hebdo é uma revista importante na França, fundada em 1970, é mais ou menos o que foi o Pasquim. Isso lá na França. 90% do mundo (eu inclusive) só foi conhecer a Charlie Hebdo em 2006, e já de uma forma bastante negativa: a revista republicou as charges do jornal dinamarquês Jyllands-Posten (identificado como “Liberal-Conservador”, ou seja, a direita europeia). E porque fez isso? Oficialmente, em nome da “Liberdade de Expressão”, mas tem mais…

O editor da revista na época era Philippe Val. O mesmo que escreveu um texto em 2000 chamando os palestinos (sim! O povo todo) de “não-civilizados” (o que gerou críticas da colega de revista Mona Chollet (críticas que foram resolvidas com a demissão sumaria dela). Ele ficou no comando até 2009, quando foi substituído por Stéphane Charbonnier, conhecido só como Charb. Foi sob o comando dele que a revista intensificou suas charges relacionadas ao Islã, ainda mais após o atentado que a revista sofreu em 2011…

A França tem 6,2 milhões de muçulmanos. São, na maioria, imigrantes das ex-colônias francesas. Esses muçulmanos não estão inseridos igualmente na sociedade francesa. A grande maioria é pobre, legada à condição de “cidadão de segunda classe”, vítimas de preconceitos e exclusões. Após os atentados do World Trade Center, a situação piorou.

Alguns chamam os cartunistas mortos de “heróis” ou de os “gigantes do humor politicamente incorreto”, outros muitos os chamam de “mártires da liberdade de expressão”. Vou colocar na conta do momento, da emoção. As charges polêmicas do Charlie Hebdo, como os comentários políticos de colunistas da Veja, são de péssimo gosto, mas isso não está em questão. O fato é que elas são perigosas, criminosas até, por dois motivos.

O primeiro é a intolerância. Na religião muçulmana, há um princípio que diz que o Profeta Maomé não pode ser retratado, de forma alguma. Esse é um preceito central da crença Islâmica, e desrespeitar isso desrespeita todos os muçulmanos. Fazendo um paralelo, é como se um pastor evangélico chutasse a imagem de Nossa Senhora para atacar os católicos…
Qual é o objetivo disso? O próprio Charb falou: “É preciso que o Islã esteja tão banalizado quanto o catolicismo”. “É preciso” porque? Para que?

Note que ele não está falando em atacar alguns indivíduos radicais, alguns pontos específicos da doutrina islâmica, ou o fanatismo religioso. O alvo é o Islã, por si só. Há décadas os culturalistas já falavam da tentativa de impor os valores ocidentais ao mundo todo. Atacar a cultura alheia sempre é um ato imperialista. Na época das primeiras publicações, diversas associações islâmicas se sentiram ofendidas e decidiram processar a revista. Os tribunais franceses, famosos há mais de um século pela xenofobia e intolerância (ver Caso Dreyfus), como o STF no Brasil, que foi parcial nas decisões nas últimas eleições e no julgar com dois pessoas e duas medidas caos de corrupção de políticos do PSDB ou do PT, deram ganho de causa para a revista.

Foi como um incentivo. E a Charlie Hebdo abraçou esse incentivo e intensificou as charges e textos contra o Islã e contra o cristianismo, se tem dúvidas, procure no Google e veja as publicações que eles fazem, não tenho coragem de publicá-las aqui…

Mas existe outro problema, ainda mais grave. A maneira como o jornal retratava os muçulmanos era sempre ofensiva. Os adeptos do Islã sempre estavam caracterizados por suas roupas típicas, e sempre portando armas ou fazendo alusões à violência, com trocadilhos infames com “matar” e “explodir”…). Alguns argumentam que o alvo era somente “os indivíduos radicais”, mas a partir do momento que somente esses indivíduos são mostrados, cria-se uma generalização. Nem sempre existe um signo claro que indique que aquele muçulmano é um desviante, já que na maioria dos casos é só o desviante que aparece. É como se fizéssemos no Brasil uma charge de um negro assaltante e disséssemos que ela não critica/estereotipa os negros, somente aqueles negros que assaltam…

E aí colocamos esse tipo de mensagem na sociedade francesa, com seus 10% de muçulmanos já marginalizados. O poeta satírico francês Jean de Santeul cunhou a frase: “Castigat ridendo mores” (costumes são corrigidos rindo-se deles). A piada tem esse poder. Mas piada são sempre preconceituosas, ela transmite e alimenta o preconceito. Se ela sempre retrata o árabe como terrorista, as pessoas começam a acreditar que todo árabe é terrorista. Se esse árabe terrorista dos quadrinhos se veste exatamente da mesma forma que seu vizinho muçulmano, a relação de identificação-projeção é criada mesmo que inconscientemente. Os quadrinhos, capas e textos da Charlie Hebdo promoviam a Islamofobia. Como toda população marginalizada, os muçulmanos franceses são alvo de ataques de grupos de extrema-direita. Esses ataques matam pessoas. Falar que “Com uma caneta eu não degolo ninguém”, como disse Charb, é hipócrita. Com uma caneta se prega o ódio que mata pessoas…

Uma das defesas comuns ao estilo do Charlie Hebdo é dizer que eles também criticavam católicos e judeus…
Se as outras religiões não reagiram a ofensa, isso é um problema delas. Ninguém é obrigado a ser ofendido calado.
“Mas isso é motivo para matarem os caras!?”. Não. Claro que não. Ninguém em sã consciência apoia os atentados. Os três atiradores representam o que há de pior na humanidade: gente incapaz de dialogar. Mas é fato que o atentado poderia ter sido evitado. Bastava que a justiça tivesse punido a Charlie Hebdo no primeiro excesso, assim como deveria/deve punir a Veja por suas mentiras. Traçasse uma linha dizendo: “Desse ponto vocês não devem passar”.

“Mas isso é censura”, alguém argumentará. E eu direi, sim, é censura. Um dos significados da palavra “Censura” é repreender. A censura já existe. Quando se decide que você não pode sair simplesmente inventando histórias caluniosas sobre outra pessoa, isso é censura. Quando se diz que determinados discursos fomentam o ódio e por isso devem ser evitados, como o racismo ou a homofobia, isso é censura. Ou mesmo situações mais banais: quando dizem que você não pode usar determinado personagem porque ele é propriedade de outra pessoa, isso também é censura. Nem toda censura é ruim…

Deixo claro que não estou defendendo a censura prévia, sempre burra. Não estou dizendo que deveria ter uma lista de palavras/situações que deveriam ser banidas do humor. Estou dizendo que cada caso deveria ser julgado. Excessos devem ser punidos. Não é “Não fale”. É “Fale, mas aguente as consequências”. E é melhor que as consequências venham na forma de processos judiciais do que de balas de fuzis ou bombas.

Voltando à França, hoje temos um país de luto. Porém, alguns urubus são mais espertos do que outros, e já começamos a ver no que o atentado vai dar. Em discurso, Marine Le Pen declarou: “a nação foi atacada, a nossa cultura, o nosso modo de vida. Foi a eles que a guerra foi declarada”. Essa fala mostra exatamente as raízes da islamofobia. Para os setores nacionalistas franceses (de direita, centro ou esquerda), é inadmissível que 10% da população do país não tenha interesse em seguir “o modo de vida francês”. Essa colônia, que não se mistura, que não abandona sua identidade, é extremamente incômoda. Contra isso, todo tipo de medida é tomada. Desde leis que proíbem imigrantes de expressar sua religião até… charges ridicularizando o estilo de vida dos muçulmanos! Muitos chargistas do mundo todo desenharam armas feitas com canetas para homenagear as vítimas. De longe, a homenagem parece válida. Quando chegam as notícias de que locais de culto islâmico na França foram atacados, um deles com granadas!, nessa madrugada, a coisa perde um pouco a beleza. É a resposta ao discurso de Le Pen, que pedia para a França declarar “guerra ao fundamentalismo” (mas que nos ouvidos dos xenófobos ecoa como “guerra aos muçulmanos”, e ela sabe disso).

Por isso tudo, apesar de lamentar e repudiar o ato bárbaro do atentado, eu não sou Charlie. Je ne suis pas Charlie.

sábado, 27 de dezembro de 2014

O MAL NÃO EXISTE!


Anne Graham, filha de Billy Graham estava sendo entrevistada no Early Show e Jane Clayson perguntou a ela:

Como é que Deus teria permitido algo horroroso assim acontecer no dia 11 de Setembro?'
Anne Graham deu uma resposta profunda e sábia:
-Eu creio que Deus ficou profundamente triste com o que aconteceu, tanto quanto nós.
Por muitos anos temos dito para Deus não interferir em nossas escolhas, sair do nosso governo e sair de nossas vidas.Sendo um cavalheiro como Deus é, eu creio que Ele calmamente nos deixou. Como poderemos esperar que Deus nos dê a sua bênção e a sua proteção se nós exigimos que Ele não se envolva mais conosco? À vista de tantos acontecimentos recentes; ataque dos terroristas, tiroteio nas escolas, etc...

Eu creio que tudo começou desde que Madeline Murray O'hare (que foi assassinada), se queixou de que era impróprio se fazer oração nas escolas Americanas como se fazia tradicionalmente, e nós concordamos com a sua opinião. Depois disso, alguém disse que seria melhor também não ler mais a Bíblia nas escolas... A Bíblia que nos ensina que não devemos matar, roubar e devemos amar o nosso próximo como a nós mesmos. E nós concordamos com esse alguém.

Logo depois o Dr.. Benjamin Spock disse que não deveríamos bater em nossos filhos quando eles se comportassem mal, porque suas personalidades em formação ficariam distorcidas e poderíamos prejudicar sua auto estima (o filho dele se suicidou) e nós dissemos: 'Um perito nesse assunto deve saber o que está falando'. E então concordamos com ele.

Depois alguém disse que os professores e diretores das escolas não deveriam disciplinar nossos filhos quando se comportassem mal. Então foi decidido que nenhum professor poderia disciplinar os alunos...(há diferença entre disciplinar e tocar). Aí, alguém sugeriu que deveríamos deixar que nossas filhas fizessem aborto, se elas assim o quisessem. E nós aceitamos sem ao menos questionar.

Então foi dito que deveríamos dar aos nossos filhos tantas camisinhas, quantas eles quisessem para que eles pudessem se divertir à vontade. E nós dissemos: 'Está bem!' Então alguém sugeriu que imprimíssemos revistas com fotografias de mulheres nuas, e disséssemos que isto é uma coisa sadia e uma apreciação natural do corpo feminino. E nós dissemos: 'Está bem, isto é democracia, e eles tem o direito de ter liberdade de se expressar e fazer isso'.

Depois uma outra pessoa levou isso um passo mais adiante e publicou fotos de Crianças nuas e foi mais além ainda, colocando-as à disposição da internet. Agora nós estamos nos perguntando porque nossos filhos não têm consciência e porque não sabem distinguir o bem e o mal, o certo e o errado;
porque não lhes incomoda matar pessoas estranhas ou seus próprios colegas de classe ou a si próprios...Provavelmente, se nós analisarmos seriamente, iremos facilmente compreender: nós colhemos só aquilo que semeamos!!!

Uma menina escreveu um bilhetinho para Deus: 'Senhor, porque não salvaste aquela criança na escola?'A resposta dele, provavelmente foi: 'Querida criança, não me deixam entrar nas escolas!!!'

É triste como as pessoas simplesmente culpam a Deus e não entendem porque o mundo está indo a passos largos para o inferno. É triste como cremos em tudo que os Jornais e a TV dizem, mas duvidamos do que a Bíblia, ou do que a sua religião, que você diz que segue ensina.

Esse texto corre a tempos na web, não sei quem é o autor(a), não sei se Anne Graham disse isso realmente, porém é a mais pura verdade. Vivemos nos afastando de Deus, mas quando a coisa aperta ficamos a responsabilizar Deus. Deus é amor! Se o mundo está caótico é porque fizemos a escolha de nos afastarmos de Deus.O mal não existe, pelo menos não existe por si mesmo. O mal é simplesmente a ausência de amor, o mal é uma definição que o homem criou para descrever a ausência de Deus.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

O Natal da Paz.

O Natal da Paz 1914.

Noite feliz na terra de ninguém: Natal de 1914
No Natal de 1914, em plena Primeira Guerra Mundial, soldados ingleses e alemães deixaram as trincheiras e fizeram uma trégua. Durante seis dias, eles enterraram seus mortos, trocaram presentes e jogaram futebol.

Bruno Leuzinger | 01/03/2004 00h00


Finalmente parou de chover. A noite está clara, com céu limpo, estrelado, como os soldados não viam há muito tempo. Ao contrário da chuva, porém, o frio segue sem dar trégua. Normal nesta época do ano. O que não seria normal em outros anos é o fedor no ar. Cheiro de morte, que invade as narinas e mexe com a cabeça dos vivos – alemães e britânicos, inimigos separados por 80, 100 metros no máximo. Entre eles está a “terra de ninguém”, assim chamada porque não se sobreviveria ali muito tempo. Cadáveres de combatentes de ambos os lados compõem a paisagem com cercas de arame farpado, troncos de árvores calcinadas e crateras abertas pelas explosões de granadas. O barulho delas é ensurdecedor, mas no momento não se ouve nada. Nenhuma explosão, nenhum tiro. Nenhum recruta agonizante gritando por socorro ou chamando pela mãe. Nada.

E de repente o silêncio é quebrado. Das trincheiras alemãs, ouve-se alguém cantando. Os companheiros fazem coro e logo há dezenas, talvez centenas de vozes no escuro. Cantam “Stille Nacht, Heilige Nacht”. Atônitos, os britânicos escutam a melodia sem compreender o que diz a letra. Mas nem precisam: mesmo quem jamais a tivesse escutado descobriria que a música fala de paz. Em inglês, ela é conhecida como “Silent Night”; em português, foi batizada de “Noite Feliz”. Quando a música acaba, o silêncio retorna. Por pouco tempo.

“Good, old Fritz!”, gritam os britânicos. Os “Fritz” respondem com “Merry Christmas, Englishmen!”, seguido de palavras num inglês arrastado: “We not shoot, you not shoot!”(“Nós não atiramos, vocês também não”).

Estamos em algum lugar de Flandres, na Bélgica, em 24 de dezembro de 1914. E esta história faz parte de um dos mais surpreendentes e esquecidos capítulos da Primeira Guerra Mundial: as confraternizações entre soldados inimigos no Natal daquele ano. Ao longo de toda a frente ocidental – que se estendia do mar do Norte aos Alpes suíços, cruzando a França –, soldados cessaram fogo e deixaram por alguns dias as diferenças para trás. A paz não havia sido acertada nos gabinetes dos generais; ela surgiu ali mesmo nas trincheiras, de forma espontânea. Jamais acontecera algo igual antes. É o que diz o jornalista alemão Michael Jürgs em seu livro Der Kleine Frieden im Grossen Krieg – Westfront 1914: Als Deutsche, Franzosen und Briten Gemeinsam Weihnachten Feierten (“A Pequena Paz na Grande Guerra – Frente Ocidental 1914: Quando Alemães, Franceses e Britânicos Celebraram Juntos o Natal”, inédito no Brasil).

Conhecido então como Grande Guerra (pouca gente imaginava que uma segunda como aquela seria possível), o conflito estourou após a morte do arquiduque Francisco Ferdinando. Herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro, ele e sua esposa Sofia foram assassinados em Sarajevo, na Sérvia, no dia 28 de junho. O atentado, cometido por um estudante, fora tramado por um membro do governo sérvio. Um mês mais tarde, em 28 de julho, a Áustria-Hungria declarou guerra à Sérvia. As nações européias se dividiram. Grã-Bretanha, França e Rússia se aliaram aos sérvios; a Alemanha, aos austro-húngaros. Nas semanas seguintes, os alemães invadiram a Bélgica, que até então se mantivera neutra, e, ainda em agosto, atravessaram a fronteira com a França. Chegaram perto de tomar Paris, mas os franceses os detiveram, em setembro.

Nos primeiros meses, a propaganda militar conseguiu inflar o orgulho dos soldados – de lado a lado. O fervor patriótico crescia paralelamente ao ódio pelos inimigos. Entretanto, em dezembro o moral das tropas já despencara. A guerra se arrastava havia quase um semestre. Os britânicos haviam perdido 160 mil homens até então; Alemanha e França, 300 mil cada. Para piorar, as condições nas trincheiras eram péssimas. O odor beirava o insuportável, devido às latrinas descobertas e aos corpos em decomposição. Estirados pela terra de ninguém, cadáveres atraíam ratazanas aos milhares. Era um verdadeiro banquete. Com tanta carne, elas engordavam tanto que algumas eram confundidas com gatos. Pior que as ratazanas, só os piolhos. Milhões deles, nos cabelos, barbas, uniformes. Em toda parte.

Quando chovia forte, a água batia na altura dos joelhos. Dormia-se em buracos escavados na parede e era comum acordar assustado no meio da noite, por causa das explosões ou de uma ratazana mordiscando seu rosto. Durante o dia, quem levantasse a cabeça sobre o parapeito era um homem morto. Os franco-atiradores estavam sempre à espreita (no final da tarde, praticavam tiro ao alvo no inimigo e, quando acertavam, diziam que era um “beijo de boa-noite”). O soldado entrincheirado passava longos períodos sem ter o que fazer. Horas e horas de tédio sentado no inferno. Só restava esperar e olhar para céu – onde não havia ratazanas nem cadáveres.

O cotidiano de horrores foi minando a vontade de lutar. Uma semana antes do Natal já havia sinais disso. Foi assim em Armentières, na França, perto da fronteira com a Bélgica. Soldados alemães arremessaram um pacote para a trincheira britânica. Cuidadosamente embalado, trazia um bolo de chocolate e dentro, escondido, um bilhete. Os alemães pediam um cessar-fogo naquela noite, entre 19h30 e 20h30. Era aniversário do capitão deles e queriam surpreendê-lo com uma serenata. O bolo era uma demonstração de boa vontade. Os britânicos concordaram e, na hora da festa inimiga, sentaram no parapeito para apreciar a música. Aplaudidos pelos rivais, os alemães anunciaram o encerramento da serenata – e da trégua – com tiros para cima. Em meio à barbárie, esses pequenos gestos de cordialidade significavam muito.

Ainda assim, era difícil imaginar o que estava por vir. Na noite do dia 24, em Fleurbaix, na França, uma visão deixou os britânicos intrigados: iluminadas por velas, pequenas árvores de Natal enfeitavam as trincheiras inimigas. A surpresa aumentou quando um tenente alemão gritou em inglês perfeito: “Senhores, minha vida está em suas mãos. Estou caminhando na direção de vocês. Algum oficial poderia me encontrar no meio do caminho?” Silêncio. Seria uma armadilha? Ele prosseguiu: “Estou sozinho e desarmado. Trinta de seus homens estão mortos perto das nossas trincheiras. Gostaria de providenciar o enterro”. Dezenas de armas estavam apontadas para ele. Mas, antes que disparassem, um sargento inglês, contrariando ordens, foi ao seu encontro. Após minutos de conversa, combinaram de se reunir no dia seguinte, às 9 horas da manhã.

No dia seguinte, 25 de dezembro, ao longo de toda a frente ocidental, soldados armados apenas com pás escalaram suas trincheiras e encontraram os inimigos no meio da terra de ninguém. Era hora de enterrar os companheiros, mostrar respeito por eles – ainda que a morte ali fosse um acontecimento banal. O capelão escocês J. Esslemont Adams organizou um funeral coletivo para mais de 100 vítimas. Os corpos foram divididos por nacionalidade, mas a separação acabou aí: na hora de cavar, todos se ajudaram. O capelão abriu a cerimônia recitando o salmo 23. “O senhor é meu pastor, nada me faltará”, disse. Depois, um soldado alemão, ex-seminarista, repetiu tudo em seu idioma. No fim, acompanhado pelos soldados dos dois países, Adams rezou o pai-nosso. Outros enterros semelhantes foram realizados naquele dia, mas o de Fleurbaix foi o maior de todos.

Aquela situação por si só já era inusitada: alemães e britânicos cavando e rezando juntos. Mas o que se viu depois foi um desfile de cenas surreais. Em Wez Macquart, França, um britânico cortava os cabelos de qualquer um – aliado ou inimigo – em troca de alguns cigarros. Em Neuve Chapelle, também na França, os soldados indicavam discretamente para seus novos amigos a localização das minas subterrâneas. Em Pervize, na Bélgica, homens que na véspera tentavam se matar agora trocavam presentes: tabaco, vinho, carne enlatada, sabonete. Uns disputavam corridas de bicicleta, outros caçavam coelhos. Uma luta de boxe entre um escocês e um alemão foi interrompida antes que os dois se matassem. Alguém sugeriu um duelo de pistolas entre um alemão e um inglês, mas a idéia foi rechaçada – afinal, aquilo era um cessar-fogo.

Porém, o melhor estava por vir. Nos dias 25 e 26, foram organizadas animadas partidas de futebol. Centenas jogaram bola nos campos de batalha. “Bola” em muitos casos era força de expressão; podia ser apenas um monte de palha amarrado com arame, ou uma lata de conserva vazia. E, no lugar de traves, capacetes, tocos de madeira ou o que estivesse à mão. Foi assim em Wulvergem, na Bélgica, onde o jogo foi só pelo prazer da brincadeira, ninguém prestou atenção no resultado. Mas houve também partidas “sérias”, com direito a juiz e a troca de campo depois do intervalo. Numa delas, que se tornou lendária, os alemães derrotaram os britânicos por 3 a 2. A vitória suada foi cercada de polêmica: o terceiro gol alemão teria sido marcado em posição irregular (o atacante estava impedido) e a partida, encerrada depois que a bola – esta de verdade, feita de couro – furou ao cair no arame farpado.

A maioria das confraternizações se deu nos 50 quilômetros entre Diksmuide (Bélgica) e Neuve Chapelle. Os soldados britânicos e alemães descobriam ter mais em comum entre si que com seus superiores – instalados confortavelmente bem longe da frente de batalha. O medo da morte e a saudade de casa eram compartilhados por todos. Já franceses e belgas eram menos afeitos a tomar parte no clima festivo. Seus países haviam sido invadidos (no caso da Bélgica, 90 por cento de seu território estava ocupado), para eles era mais difícil apertar a mão do inimigo. Em Wijtschate, na Bélgica, uma pessoa em particular também ficou muito irritada com a situação. Lutando ao lado dos alemães, o jovem cabo austríaco Adolf Hitler queixava-se do fato de seus companheiros cantarem com os britânicos, em vez de atirarem neles.

Naquele tempo, Hitler ainda não apitava nada. Entretanto, os homens que davam as cartas também não estavam nem um pouco felizes. Dos quartéis-generais, os senhores da guerra mandaram ordens contra qualquer tipo de confraternização. Quem desrespeitasse se arriscava a ir à corte marcial. A ameaça fez os soldados voltarem para as trincheiras. Durante os dias seguintes, muitos ainda se recusavam a matar os adversários. Para manter as aparências, continuavam atirando, mas sempre longe do alvo. Na noite do dia 31, em La Boutillerie, na França, o fuzileiro britânico W.A. Quinton e mais dois homens transportavam sua metralhadora para um novo local, quando de repente ouviram disparos da trincheira alemã. Os três se jogaram no chão, até perceberem que os tiros eram para o alto: os alemães comemoravam a virada do ano.

A trégua velada resistiu ainda por um tempo. Até março de 1915, alemães e britânicos entrincheirados em Festubert, na França, faziam de conta que a guerra não existia – ficava cada um na sua. Mas a lembrança das confraternizações foi aos poucos cedendo espaço para o ódio. A carnificina recrudesceu, prosseguindo até a rendição da Alemanha, em novembro de 1918, arrasando a Europa e deixando cerca de 10 milhões de mortos. Talvez a matança até valesse a pena, se a profecia do escritor de ficção científica H.G. Wells tivesse dado certo. O autor de A Máquina do Tempo escrevera em um ensaio que aquela seria “a guerra que acabaria com todas as guerras”. Wells, é claro, estava enganado. Os momentos de paz, como os do Natal de 1914, seriam escassos também ao longo de todo o século 20. A Grande Guerra tinha sido só o começo.

Saiba mais

Livro

Der Kleine Frieden im Grossen Krieg, de Michael Jürgs, Ed. Bertelsmann, 2003 351 páginas, 23 euros

domingo, 21 de dezembro de 2014

João Pedro - Feliz Aniversário 12 anos.



Quando soube da gravidez da Luciana disputei com ela a opção do nome do bebê. Se fosse menino o privilégio de escolha do nome seria meu, se fosse menina seria dela. Ganhei!! Foi menino!! Escolhi João Pedro. Meu primogênito. Que alegria, que nervoso, que felicidade. 

Procurei um nome especial, algo que ficasse marcado com o que de mais digno uma pessoa pudesse ter. Algo que refletisse minha admiração  numa pessoa, algo que refletisse o amor de Deus por ele e por nós. Um nome que sintetizasse nossa religião, nossa relação com Deus. Por inspiração veio João Pedro. 

João  no hebraico Yehokhanan, Iohanan, composto pela união dos elementos Yah que significa “Javé, Jeová, Deus” ehannah que quer dizer “graça”. Significa “Deus é gracioso, agraciado por Deus, a graça e misericórdia de Deus, 

Pedro: Significa "pedra", "rochedo".  Pedro, foi um dos discípulos mais próximos a Jesus e inclusive aquele que viria a ser um dos principais pilares da igreja primitiva. O seu nome originalmente era Simão e foi mudado para Pedro por Jesus. Queria que meu filho fosse severo, duro como um líder precisar ser.
Pois bem, levei o nome a mãe que concordou de primeira, pois apesar de ter ganhado a aposta, ela precisaria gostar do nome. Ela aceitou tudo ficou perfeito.

Algumas considerações que já dá pra falar sobre meu varão!Apesar de ser idealista e liberal, ele não sabe, mas ama companhia de outras pessoas, dessa irmandade depende o seu sucesso e também o seu bem estar. Nasceu para manifestar e expressar seus sentimentos e ideias. É ambicioso, mas dispersivo e dificilmente consegue acabar o que começa, deixando que os outros terminem suas tarefas e também que recebam as glórias. Tem talento para a arte e o dom do entretenimento.




É amoroso, apaixona-ser com facilidade, é muito amigo dos seus parceiros , o que lhe trará problemas quando tiver que namorar. Sua namorada não entenderá essa valorização da compreensão, da harmonia acima do amor, a ponto de sacrificar-se por elas. Sentirá ciumes em ter um namorado tão dado a todos.

É por demais emotivo, sujeito a extremos, que o levam quase sempre a um estado de tristeza, fica as vezes com cara de dançarino de tango...rs..rs. Em vista dessa sua fragilidade e inconstância, encontrará sérios obstáculos na adolescência, já sei, eu era assim. Porém na idade mais madura, será um sucesso, tenho absoluta certeza de que tudo acabará bem.Suas qualidades na amizade,  no idealismo e na capacidade de entretenimento (palhaçadas) o ajudarão muito.Esse é o João Pedro meu filho amado que as vezes chego a sufocá-lo com tanta cobrança e preocupação.

Filhão tudo de bom, felicidades que Papai do céu te abençoe com toda a fé e perseverança que precisa. Um beijão do seu pai. da sua mãe e do seu irmão Artur, nós te amamos demais. Feliz Aniversário.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

A verdadeira história do nascimento de Jesus.

Em meados dos anos 70, na semana santa, só se via nos cinemas versões da Paixão de Cristo, a historia de Cristo, nascimento, vida e morte. Hoje não é mais assim, não se assiste esses filmes nos cinemas. A historia já é conhecida e batida, apesar de pouca gente saber a verdadeira historia. O cinema criou versões poéticas e fantasiosas buscando uma dramatização cultural da época e omitiu muita coisas  e inventou outras, causando confusão com a historia real. Algumas dúvidas que pairam no ar:
Por que viajar pra tão longe para Jesus nascer?

Ele realmente nasceu ao relento?

Nos filmes Maria viajou já quase em trabalho de parto, na 32ª. semana dando a luz logo em seguida, isso foi real?

Essas e outras dúvidas o Pr. Rodrigo Silva, doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. Assunção (SP), com pós-doutorado em arqueologia bíblica pela Andrews University (EUA). Graduado em teologia e filosofia e mestre em Teologia Histórica, nos ajudará a compreender tantas controvérsias a cerca da historia de Deus conosco.

domingo, 14 de dezembro de 2014

Silvio Santos - Personalidade Brasileira.

Filho de pai grego e mãe turca, Silvio Santos foi batizado com o nome de Senor Abravanel. Formado em Contabilidade pela Escola Técnica de Comércio Amaro Cavalcanti, Silvio Santos trabalhava como camelô para conseguir estudar e ajudar a família. O apresentador costumava vender capinhas de plástico para colocar os títulos de eleitor na primeira eleição após o Estado Novo.

 Depois de ser pego diversas vezes pelo 'rapa' enquanto trabalhava como camelô, um diretor da fiscalização, percebendo o potencial da voz de Silvio, lhe entregou um cartão de recomendação para que ele procurasse um amigo que trabalhava na Rádio Guanabara. Lá, o camelô participou de um concurso de locutores, no qual ficou em primeiro lugar, inclusive à frente de Chico Anysio.
 
 
Depois de servir o exército, aos 18 anos, Silvio Santos resolveu montar um serviço de alto-falantes nas embarcações que faziam viagens entre o Rio de Janeiro e Niterói. Nos intervalos das músicas, Silvio fazia anúncios de diversos produtos e fez um acordo com da cervejaria Antártica para vender cerveja e refrigerantes.

Foi a convite do diretor da Antártica que Silvio Santos foi a São Paulo apresentar espetáculos e sorteios em caravanas de artistas. Nesta época, por ficar envergonhado e vermelho com facilidade, Silvio Santos recebeu o apelido de "Peru que fala", e as caravanas do "Peru falante" ficaram bastante conhecidas na capital de São Paulo, em cidades do interior e em outros estados.
 
 
 

Silvio Santos criou seu nome artístico ao participar de um programa de calouros. Silvio era como a sua mãe o chamava e ele escolheu o sobrenome Santos por acreditar que “os santos ajudam”. O seu primeiro programa na TV foi o "Vamos Brincar de Forca", na TV Paulista (futura TV Globo), em 1962.

Depois de ganhar seu próprio programa dominical, que se transformaria no que hoje é o "Programa Silvio Santos", Silvio passou a administrar o Baú da Felicidade depois que seu dono, Manoel de Nóbrega, levou um golpe de um sócio alemão. Ao transformar o Baú em um negócio rentável, Silvio terminou ganhando a empresa do pai de Carlos Alberto de Nóbrega.

Depois que a TV Paulista foi incorporada à Rede Globo, Silvio Santos continuou pagando por seu horário na grade de programação e lucrando muito com anúncios. O "Programa Silvio Santos" chegou a vencer na audiência o programa "Jovem Guarda", que era apresentado por Roberto Carlos na TV Record. O apresentador só deixou a Globo em 1976, porque, de acordo com o seu contrato, não poderia ser acionista ou dono de nenhuma outra emissora de televisão.

A partir de 1976, Silvio começou a fazer seus programas na TV Tupi, enquanto lutava para conseguir obter uma concessão para seu próprio canal de TV de rede nacional. Depois da falência da Rede Tupi, em 1980, o "Programa Silvio Santos" foi transferido para a Rede Record, emissora da qual, durante a década de 80, Silvio chegou a ser dono de 50%.
 
 

Em 1981, graças a primeira-dama Dulce Figueiredo, com quem tinha longas conversas por telefone, Silvio Santos conseguiu a licença para operar o canal 4 de São Paulo, e o transformou na TVS paulista. Foi então que surgiu o embrião do que hoje é o SBT. A marca SBT passou a ser usada em toda uma rede de canais que Silvio Santos expandiu rapidamente no final da década de 1980.

Em 2013, Silvio Santos entrou para a lista dos maiores bilionários do mundo da revista "Forbes". Segundo a publicação, a fortuna do empresário é avaliada em US$ 1,3 bilhão (cerca de R$ 3,25 bilhões).

Entre as curiosidades e manias do excêntrico apresentador estão fatos como: não gostar de ver televisão, ser alérgico a perfumes e por isso não permitir que artistas entrem no palco de seu programa perfumados, não gostar de dar entrevistas, usar relógios comprados nos camelôs dos Estados Unidos (que custam no máximo 100 dólares) e sempre dirigir seu próprio carro.
 
 
 
 Antes de conhecer a atual mulher, Íris Abravanel, Silvio foi casado com Cidinha e teve com ela duas filhas: Silvia e Cíntia. Cidinha, que o chamava carinhosamente de Neco (de boneco), morreu de câncer em 1977, aos 38 anos. Silvio e Íris se conheceram quando ela era funcionária do Baú da Felicidade. Com ela, o apresentador teve mais quatro filhas: Patrícia, Rebeca, Daniela e Renata.

Em 1989, Silvio tentou se candidatar à Presidência da República pelo Partido Municipalista Brasileiro (PMB) e chegou a fazer algumas gravações para a propaganda eleitoral, mas teve a sua candidatura impugnada pelo TSE, por irregularidades no registro do PMB. Segundo pesquisas eleitorais da época, ele venceria com 28% dos votos, contra 18,6% de Collor e 10,6% de Lula.
 
O famoso boato de que Silvio Santos é careca teve início em 1971, quando a revista "Melodias" publicou uma edição com uma montagem dele careca na capa, autorizada pelo apresentador. A brincadeira alimentou um boato não verdadeiro que vive até hoje. Silvio não é careca e corta e pinta o cabelo com o amigo Jassa há mais de 30 anos. No início de 2012, o apresentador virou notícia ao aparecer com os cabelos grisalhos, mas pouco tempo depois voltou a pintar as madeixas de um tom acaju, porque, segundo ele: “cabelo branco envelhece”.  
 
 
Referencias: Yahoo Tv. e AdNews.

domingo, 7 de dezembro de 2014

Não há amor maior - de John W. Mansur

Fotografias da guerra no Vietnã pelos fotógrafos:
 Horst Faas, Henri Huet, Sal Veder, Rick Merron,
Bill Ingraham, John Nance e Nick Ut.
Qualquer que fosse seu alvo inicial, os tiros de morteiros caíram em um orfanato dirigido por um grupo missionário na pequena aldeia vietnamita. Os missionários e uma ou duas crianças morreram imediatamente e várias outras crianças ficaram feridas, incluindo uma menininha de uns oito anos de idade.

As pessoas da aldeia pediram ajuda médica de uma cidade vizinha que possuía contato por rádio com as forças americanas. Finalmente, um médico e uma enfermeira da Marinha americana chegaram em um jipe apenas com sua maleta médica. Determinaram que a menina era a que estava mais gravemente ferida. Sem uma ação rápida, ela morreria por causa do choque e da perda de sangue.

Uma transfusão era imprescindível e era necessário um doador com o mesmo tipo sanguíneo. Um teste rápido revelou que nenhum dos americanos possuía o tipo correto, mas vários dos órfãos que não haviam sido atingidos tinham.

O médico falava um pouco de vietnamita simplificado e a enfermeira possuía uma leve noção de francês aprendido no colégio. Usando essa combinação, juntos e com muita linguagem de sinais improvisada, eles tentaram explicar para a jovem e assustada plateia que, a não ser que pudessem repor uma parte do sangue perdido da menina, ela com certeza morreria. Então perguntaram se alguém estaria disposto a doar um pouco de sangue para ajudar.

Seu pedido encontrou um silêncio estupefato. Após longos momentos, uma mãozinha lenta e hesitantemente levantou-se, abaixou-se e levantou-se novamente.

- Oh, obrigada - disse a enfermeira em francês. - Qual é o seu nome?
- Heng - veio a resposta.

Heng foi rapidamente colocado em um catre, os braços limpos com álcool e uma agulha inserida em sua veia. Durante toda a penosa experiência, Heng permaneceu tenso e em silêncio.

Depois de algum tempo, ele soltou um soluço trêmulo, cobrindo rapidamente seu rosto com a mão livre.

- Está doendo, Heng? - perguntou o médico.

Heng balançou a cabeça, mas, após alguns instantes, outro soluço escapou e mais uma vez ele tentou esconder o choro. Novamente o médico perguntou se a agulha o estava machucando e novamente Heng balançou a cabeça.

Porém agora seus soluços ocasionais haviam dado lugar a um choro constante e silencioso, seus olhos apertados, o punho na boca para abafar seus soluços.

A equipe médica estava preocupada. Algo obviamente estava muito errado. Nesse momento, uma enfermeira vietnamita chegou para ajudar. Vendo o sofrimento do pequeno, ela falou rapidamente com ele em vietnamita, escutou sua resposta e respondeu-lhe com a voz reconfortante. Após um instante, o doador parou de chorar e olhou interrogativamente para a enfermeira vietnamita. Quando ela assentiu, um ar de grande alívio se espalhou pelo rosto do menino.

Olhando para cima, a enfermeira contou calmamente para os americanos:

- Ele achou que estava morrendo. Entendeu errado. Achou que vocês haviam pedido que ele desse todo o seu sangue para que a menina pudesse viver. instante, o paciente parou de chorar e olhou interrogativamente para a 

- Mas por que ele estaria disposto a fazer isso? - perguntou a enfermeira da Marinha.

A enfermeira vietnamita repetiu a pergunta para o menino, que respondeu simplesmente:

- Ela é minha amiga.

FIM


"Deixem vir a mim as crianças, não as impeçam; pois o Reino de Deus pertence aos que são semelhantes a elas. Quem não receber o Reino de Deus como uma criança, nunca entrará nele". (Marcos 10, 14 e 15)


Historia publicada no Livro:"Histórias para aquecer o coração" vol.1 Editora Sextante.
Título OriginalChicken Soup For the Soul.

Fotos do Blog:Chongas.

Uma Fé Extraordinária - John Harper

                                                              John Harper, a esposa e filha - Google Fotos. No livro “The Titanic's Last...