sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Fôlego - Livro

Se tem uma coisa que me dá prazer é surfar de peito. Coincidentemente neste último domingo o mar estava ideal e aproveitei. Fui a praia, em frente a rua Figueiredo Magalhães, em Copacabana. A água estava por volta de 20º c de temperatura. Já tinha alguns anos que não fazia isso! Foi uma delícia, vou repetir neste domingo novamente.
Mas o que gostaria de deixar para os visitantes e amigos é uma sugestão de livro: "Fôlego" de Tim Winton (tradução de Juliana Lemos; Argumento; 256 páginas; 32 reais).Tim, de 48 anos, autor de mais de uma dezena de livros que vão da literatura infanto-juvenil ao ensaio, é completamente desconhecido no Brasil. Seu primeiro livro aqui, surpreende pela combinação da aparente leveza do tema – adolescentes fascinados pela descoberta do surfe – com um duro e impiedoso olhar sobre os ritos de passagem para a vida adulta.

Uma amigona, dos primórdios mesmo, a mesma pessoa que na adolescência me emprestou "O Apanhador no Campo de Centeio" de J.D. Salinger. Aparente ela me sugeriu pela semelhança de argumentos, mas tem pouco haver um com o outro, eu acho! Talvez pelo pragmatismo ou pelo olhar crítico dessa grande fase que é a transição para a idade adulta. Mas valeu a dica!! O livro é ótimo!! Tão bom que vale a sugestão aos amigos que passam por aqui.Li num fôlego, num piscar.Quem passa mais de 3 horas por dia dentro de ônibus vai entender porque se lê tão rápido um livro de 236 pags.

Ambientado na Austrália dos anos 1970, e tendo como pano de fundo a virada de costumes e valores que marcou a época, Fôlego conta a história de Bruce Pikelet, filho único de um casal pacato. O menino tem uma habilidade especial com a água, sempre testando os limites da resistência sem respirar, e se torna amigo do encrenqueiro Loonie, um ano mais velho, com quem vive uma relação de admiração e de secreta competição. É uma dupla clássica dos romances de formação: amigos de temperamentos opostos que se complementam, e Tim Winton os retrata com uma maravilhosa sutileza, dizendo mais pelo que omite do que pelo que conta. Entramos no coração do romance quando ambos conhecem um ex-surfista profissional, Sando, que vive com a companheira, Eva, numa casa isolada, com um cachorro, uma velha Kombi, cheiro de maconha e pranchas de surfe – é um cromo perfeito do ideário alternativo de um tempo que passou.
 
A relação de Sando com o surfe é carregada de uma mística secreta. Ele procura os locais mais inóspitos e perigosos para iniciar seus discípulos – porque ele vai se tornando uma espécie de guru – num perigoso teste dos limites humanos. Tematicamente, o culto da vida natural que transparece em vários momentos se aproxima mais da literatura de Ernest Hemingway, até pela linguagem enxuta, do que de um eventual sopro oriental que foi a marca dos anos 70. Detalhe fundamental, toda a perspectiva do romance se faz pelo enquadramento do olhar adulto: o narrador relembra fatos de quarenta anos antes. Ficamos sabendo pouco desse homem maduro, mas o pouco que ele nos diz em sua bela narrativa é suficiente para sentir o peso e o abalo de um inesquecível rito de passagem, como se ele mesmo ainda lutasse para compreender o sentido do que viveu.

2 comentários:

  1. Ah! Não sabia que vc surfava...ou estou ficando caduca, não sei...só sei que eu colecionava revistas de surf nos anos 80...bons tempos! Tenho uma relação de amor com o mar e talvez seja por isso que tb goste de surf! Queria ver foto sua surfando..
    Bjs

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  2. Obrig. p/ cometário.

    Uma faceta minha que vc ñ conhecia?
    Desde criança surfo de peito, tal qual a foto do post, aprendi em Fortaleza (praia do mucuripe- a praia da música do Fagner e Belchior). Tirar fotos teria que ser de dentro d´água e minha fotografa nº.1 não conseguirá.

    Bjs.

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Desde já obrigado pela atenção e carinho dispensados.

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