A cada dia confirmamos as inúmeras falhas contidas no Acordo Ortográfico. Aliás, podemos constatar o quanto este é desconcertante, sendo questionado por jornalistas, professores e escritores que, cada vez mais, levantam perguntas interessantes, generalizando uma preocupação crescente com a solução dos problemas advindos dessa proposta ortográfica ilógica.
Com tudo isso, confirma-se a necessidade de uma evolução do acordo porque que esse já nasceu obsoleto, ou seja, o que trouxe como inovação ficou muito aquém da real necessidade do mundo moderno, o que não é de ser espantar, pois foi pensado há mais de 30 anos. É preciso evoluir, afinal estamos no século XXI.
Entre tantos questionamentos, dúvidas e falta de argumentos lógicos, vigoram incertezas que vão das mais básicas até outras que sequer foram priorizadas no novo Acordo. A começar pela sua implantação, pois ninguém tem conhecimento de como anda a introdução oficial do acordo nos países lusófonos.
Em verdade, o acordo foi assinado e aprovado por oito países. Mas, oficialmente, até o momento, nenhum dos outros sete signatários pôs em vigor suas regras, apenas o Brasil. Às vezes, alguém informa que este ou aquele país o implantou, vamos atrás de comprovações e não as encontramos.
O porquê ninguém sabe precisar, porém não fica difícil imaginar, pois ainda há inúmeras dúvidas para todos os usuários do idioma e certo mesmo são os problemas que o acordo traz consigo.
Os parâmetros comportamentais do século XXI evoluíram muito em relação ao século XX. A Internet permitiu a democratização do conhecimento e as populações tornaram-se mais lógicas e informadas. Nos séculos anteriores, a informação mantinha-se na mão de poucos e, devido mesmo a interesses políticos de dominação, a imprensa era praticamente inacessível a quem não estivesse no poder. Por isso as alterações ortográficas anteriores foram impostas e aceitas com muita tolerância.
Agora se fez o mesmo, impuseram-nos um acordo cujo primeiro erro foi a imposição e o segundo foi querer instalar, na era da Internet, em pleno século XXI, pensamentos atrasados, do século XX, XIX etc.
A redação do acordo trouxe à luz o despreparo ou o descaso de quem o assinou, o que se demonstra também por outros motivos, entre os quais: sempre que fala de palavras aglutinadas, dá exemplos de justapostas; mantém exceções absurdas e cria outras, quando deveria tê-las eliminado; permite incoerentemente palavras com dupla grafia; elimina indevidamente o trema, que é ortofônico e, por isso, foge da finalidade apenas ortográfica do acordo; as muitas ilogicidades, exceções e duplas grafias escravizam ao dicionário todos os professores, todos os alunos e todos os que escrevem… contraria a didática atual decorar tais absurdos.
Em verdade, o único ponto positivo foi o de terem oito países lusófonos, pela primeira vez, assinado um acordo. Mas o assinaram em 1990. Se naquela época tivesse sido adotado, hoje já o teríamos adaptado e evoluído em muitos detalhes. O que precisamos agora é rediscutir ampla e abertamente com a sociedade interessada os itens dessa nova ortografia, para torná-la mais atual, simples, fácil, econômica e integradora.
Do jeito que está, o Decreto 6.583 pode ser comparado a uma lei que nos obrigue atualmente a andar em carros de 1975, a usar máquina de datilografia, a nos comunicar por telex, a nos limitarmos a vestir, pensar e agir como se estivéssemos no passado. A Internet contribui para fazer nosso mundo muito diferente do que havia quando da discussão e assinatura do acordo.
Não só aos professores, mas a todo cidadão esclarecido, o acordo trouxe, num primeiro momento, decepção, pela confusão e superficialidade. Não existe um professor tranquilo para ensinar as novas regras, sustentadas pelo espírito arcaico da “decoreba” que nos fez analfabetos.
Alfabeto é o rol de letras. Analfabeto é quem não sabe usar esse rol de letras. Não existe um só lusófono, por mais experiente e letrado, que não se perceba, de vez em quando, consultando um dicionário para saber se usa j, g, s, z, c, ç, ss… Precisamos eliminar esse analfabetismo sistemático, o que só se conseguirá com regras lógicas.
Voltando aos professores e outros cidadãos esclarecidos… quando se aprofundam no acordo, trocam a decepção por revolta passiva e depois pela crítica aberta. Ao descobrirem o Acordar Melhor, informam-se e passam a atuar objetivamente.
Assim, o Movimento Acordar Melhor, que agrupa milhares de professores, jornalistas, advogados, gramáticos, linguistas, escritores e cidadãos conscientes do poder de seus votos, já conseguiu que a Comissão de Educação, Cultura e Turismo do Senado Federal realizasse, em 4 de novembro passado, uma audiência pública sobre o acordo e se tenha decidido a trabalhar no sentido certo.
No I Congresso de Língua Portuguesa, realizado a seguir, em 20 de novembro, no Distrito Federal, por iniciativa da Academia Brasiliense de Letras e Universidade Católica, abriu-se sobre o acordo fala para a Academia das Ciências de Lisboa, para a Academia Brasileira de Letras e para o Movimento Acordar Melhor, tendo-se evidenciado o despreparo das duas academias e a validade de todos os nossos argumentos.
Esse dois passos exemplificam a importância do movimento popular. Dessa forma, convido a toda sociedade a acessar o www.acordarmelhor.com.br para conhecer o manifesto “Nova Ortografia e Escravidão”. Assinando-o e divulgando-o, cada cidadão estará prezando não só pelo seu próprio benefício como também o do país e o das futuras gerações.
Ernani Pimentel
Professor e líder do Movimento Acordar Melhor.
Fonte: Monitor Mercantil
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