Cultivada nos Andes há milênios, é um dos alimentos mais completos do mundo e vem conquistando o paladar nacional. Conheça as propriedades desse fantástico grãozinho.
Olhando é difícil imaginar que o grãozinho redondo, do tamanho de um gergelim, foi eleito pela Academia de Ciências dos EUA e pela Organização das Nações Unidas (ONU) o alimento vegetal mais completo e perfeito do planeta. Aliás, de fora do planeta também: a NASA, agência espacial americana, escolheu a quinua como uma das bases da alimentação de seus astronautas em vôos de longa duração, por seu extraordinário valor nutritivo.
Plantada há mais de cinco mil anos nos altiplanos da Cordilheira dos Andes, a quinua era chamada pelos antigos incas de chisiya mama, que em quíchua significa “mãe de todos os homens”. O grão, que chegou ao Brasil em 2004, é importado diretamente do deserto Uyuni, nos Andes bolivianos. O local fica a 3.800 metros acima do nível do mar e no inverno a temperatura pode atingir 30 graus negativos. “A quinua plantada em outros lugares não tem as características nutricionais daquela cultivada em seu local de origem, onde o solo, o clima, os ventos, a salinidade do ar e a altitude são muito peculiares”, observa a nutricionista Danielli Botture, da RG Nutri, de São Paulo.
Mas o que a minúscula quinua tem de tão diferente, afinal? Para começar, além de ser ótima fonte de carboidrato de baixo índice glicêmico (aquele que demora mais para ser digerido), vitaminas, minerais e gordura saudável, ela contém todos os aminoácidos essenciais que nosso corpo não fabrica e que são precursores das proteínas: histidina, isoleucina, leucina, lisina, metionina, fenilalanina, treonina, triptofano, valina e arginina. E essas proteínas, formadas pelos aminoácidos, são indispensáveis para o melhor rendimento e elasticidade das fibras musculares, recuperação de tecidos e células, manutenção dos órgãos, da pele e do sistema imunológico, bem como para a produção de hormônios e enzimas.
AS PROTEÍNAS E OS CARBOIDRATOS PRESENTES EM SUA COMPOSIÇÃO FAZEM DO GRÃO UM ALIMENTO EXCEPCIONAL PARA CRIANÇAS E GESTANTES, SEGUNDO CLASSIFICAÇÃO DA ACADEMIA AMERICANA DE PEDIATRIA
“O que costuma acontecer é um legume, verdura, cereal ou fruta apresentar determinado aminoácido essencial em quantidade significativa e ter carência dos demais”, explica o nutrólogo Edson Credidio, diretor da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) e membro da International Colleges for the Advancement of Nutrition, dos EUA. “Mas a quinua reúne todos, e isso é uma singularidade.”
Outro grande diferencial do grão boliviano é a presença dos aminoácidos metionina e lisina, típicos de alimentos de origem animal como carne e ovos. “Esses dois aminoácidos estão relacionados ao desenvolvimento da inteligência, à rapidez de reflexos e a funções como a memória e a aprendizagem”, observa a nutricionista Gabriela Guerreiro, de São Paulo. Trata-se de uma grande vantagem para os vegetarianos, mais precisamente os vegans, que não consomem nenhum alimento de origem animal. Ainda assim, atenção: a quinua não pode ser considerada como substituta desses alimentos porque não contém a vitamina B12, como é o caso do leite, do ovo e do queijo, além da própria carne. A deficiência dessa vitamina pode provocar danos severos e muitas vezes irreversíveis para o sistema nervoso ao longo do tempo. “A quinua é um excelente complemento alimentar, mas não substitui a carne e seus derivados”, reforça o nutrólogo Edson Credidio.
Portanto, se você é vegan, leve isso em conta ao elaborar a sua dieta.
A quinua também é uma boa fonte de triptofano, aminoácido ligado à produção de serotonina no cérebro, responsável pela modulação do humor, pela disposição e bem-estar. “Por isso, é provável que o consumo regular ajude a espantar a fadiga e a depressão”, diz Gabriela.
Não contém glútenA quinua é livre de glúten, lembra Credidio. Isso significa que os celíacos — pessoas com intolerância às proteínas presentes no glúten — finalmente podem saborear pães, tortas e bolos feitos com farinha de... quinua! “O sabor do pão feito de quinua não é muito diferente daquele preparado com trigo, só a consistência é que muda um pouco”, diz a nutricionista Danielli Botture. É questão de habituar-se.
E, para quem pensa que o alimento é muito calórico, uma boa notícia: ele contém quase a mesma quantidade de calorias do arroz. Cada 100g de quinua crua têm 374 calorias, contra 350 calorias do arroz integral cru.
Aliás, por ser rica em fibras (mais até que o arroz integral), o consumo de quinua ajuda a aumentar a sensação de saciedade durante as refeições, melhora o funcionamento intestinal e favorece no controle dos níveis de colesterol, glicemia e triglicérides no sangue. Ou seja, pode ser um grande aliado para quem quer emagrecer com saúde.
EM GRÃO, FARINHA, FLOCOS...
Nutricionalmente, não há diferença entre o grão, a farinha ou os flocos de quinua — embora o grão seja preferível por não sofrer nenhum tipo de processamento. Aprenda a melhor maneira de preparar o alimento em:
GRÃOS — o ideal é deixar de molho por algumas horas e cozinhar em água já fervente, no fogo baixo, por 15 minutos. “Fica mais saboroso se o sal for adicionado depois do cozimento”, ensina o nutrólogo Edson Credidio. Pode ser misturado nas saladas, sopas e risotos ou servido com molhos. Cozido, dura até três dias na geladeira;
FLOCOS — polvilhe em sopas, no iogurte, na salada de frutas e em vitaminas naturais;
FARINHA — pode ser usada como os flocos ou servir como base para pães, biscoitos, macarrão etc.
Nos supermercados e em lojas de produtos naturais já existem barrinhas de cereais e macarrão feitos com quinua, ambos orgânicos e da marca Quinua Real.
Mais energia A composição nutricional da quinua a torna um alimento perfeito para ser consumido por atletas antes e depois de exercícios físicos intensos. “Por ter baixo índice glicêmico, os carboidratos da quinua são metabolizados mais lentamente, garantindo uma reserva de energia necessária durante o esforço físico. E, graças aos aminoácidos, ela ajuda a reparar o tecido muscular após o treino”, explica Gabriela Guerreiro.
Além de não ter nenhuma contraindicação, é um excelente alimento para crianças, que necessitam de um aporte maior de proteínas e carboidratos saudáveis durante a fase de crescimento. Por isso, é recomendada pela Academia Americana de Pediatria.
Saúde da mulher
A quinua pode ser um ótimo complemento alimentar também para a futura mamãe, cujo organismo precisa de 11 gramas extras de proteínas diariamente, de forma a atender à demanda de desenvolvimento do bebê. “O ideal é que a mulher mantenha esse consumo extra de proteína durante a amamentação, até seis meses após o nascimento do bebê”, observa Gabriela.
Outro provável benefício da quinua está sendo pesquisado por cientistas da Universidade Maior de San Andrés, na Bolívia: a presença de fitoestrógenos em sua composição. Os fitoestrógenos, explica Gabriela, são substâncias naturais que “imitam” a ação do hormônio estrógeno no organismo, ajudando a combater os sintomas da menopausa e atuando na prevenção de doenças relacionadas à diminuição do estrógeno no climatério, como osteoporose, câncer de mama e enfermidades cardíacas. A comprovação da presença de fitoestrógenos na quinua sem dúvida será uma ótima notícia para um imenso número de mulheres que não pode fazer reposição hormonal com medicamentos sintéticos.
CHEIA DE MINERAISA quinua é importante fonte de minerais indispensáveis ao bom funcionamento do organismo. Confira o que cada um deles faz pelo seu corpo:
• MAGNÉSIO: aumenta a produção de anticorpos e funciona como um tranqüilizante natural, indispensável para a saúde do sistema nervoso e para o metabolismo energético.
• COBRE: participa na formação da hemoglobina (células sanguíneas), da melanina (pigmento protetor da pele) e da mielina, substância protetora dos nervos.
• POTÁSSIO: tem papel fundamental na transmissão nervosa, na contração dos músculos e no equilíbrio de fluidos no organismo — o déficit desse mineral costuma provocar fraqueza muscular, fadiga e desorientação.
• FÓSFORO:necessário para o fortalecimento da membrana celular, dos ossos e dos dentes.
• FERRO: participa do processo de respiração das células e do transporte do oxigênio e dióxido de carbono.
• MANGANÊS: importante para a saúde dos tendões e ossos.
• CÁLCIO: construtor de ossos e dentes, participa de diversas reações orgânicas, como a contração muscular, a coagulação sanguínea e a transmissão nervosa.
• ZINCO: aumenta a ação de enzimas que combatem os radicais livres, além de fortalecer o sistema imunológico, retardar o envelhecimento e favorecer o crescimento e fortalecimento dos cabelos.
Por Mariana Viktor(Revista Vida e Saúde)