Num belo sábado de madrugada de junho de 2007, às 04:50 a domestica,Sirley Dias de Carvalho Pinto, de 32 anos, teve a bolsa roubada e foi espancada por cinco jovens moradores de condomínios de classe média da Barra da Tijuca.Os golpes foram todos direcionados à sua cabeça. Presos por policiais da 16 DP (Barra), três dos rapazes — o estudante de administração Felippe de Macedo Nery Neto, de 20 anos, o técnico de informática Leonardo Andrade, de 19, e o estudante de gastronomia Júlio Junqueira, de 21 — confessaram o crime e foraão levados para a Polinter. Como justificativa para o que fizeram, alegaram ter confundido a vítima com uma prostituta.
Sirley contou que às 4h50m estava esperando um ônibus num ponto na Avenida Lúcia Costa, em frente ao Condomínio Summer Dream, onde trabalha. Iria para Imbariê, em Duque de Caxias, para fazer um exame preventivo num posto de saúde próximo à sua casa. Depois, seguiria para Ipanema, onde faria um serviço extra. Naquele momento, um Gol preto parou e quatro homens saltaram.
Tudo isso se deu em junho de 2007 e agora, quase três anos depois?O ataque de cinco jovens agressores, na Barra da Tijuca, transformou para sempre a vida da doméstica: de batalhadora que se desdobrava entre dois empregos e bicos de fim de semana para garantir a principal renda da família, ela se tornou pensionista do INSS, com sequelas que a impedem até hoje de trabalhar. Por causa do episódio, Sirlei passou a sobreviver com renda de R$ 800, o que representa menos da metade do que recebia antes de ser espancada. E pior: está à beira da miséria, sem muita expectativa de receber indenização.
Usado para defender o rosto das pancadas, o braço direito ficou com limitações no movimento e precisa ser operado. O problema a impede de tarefas simples, como torcer roupa, arear panela e fechar completamente a mão. Sirlei permaneceu um ano e meio na fila do Instituto Nacional de Traumato-Ortopedia (Into). Ao ser chamada em duas ocasiões, foi impedida de operar porque estava doente.
O que seria o justo agora? Esses agressores e suas famílas deveriam garantir a essa moça e a seu filho a qualidade de vida que tinham antes da agressão, ou não? Simples! Calcula-se a expectativa de vida da moça vesus a renda dela, antes do acidente, dará o valor que ele tem direito. Isso é ser justo! Sem contar o custo com remedios, a humilhação e falta de segurança da cidade, obrigação da Prefeitura, que não dá aos moradores e cidadãos.
O pedido de indenização no valor de R$ 500 mil, feito pela defesa de Sirlei, ainda corre na 6ª Vara Cível da Barra da Tijuca. Mas, se a tese de parte dos advogados dos agressores se confirmar, a doméstica deve sair dos tribunais com muito menos do que pleiteia. Isso porque somente um dos réus, o universitário Felippe de Macedo Nery Neto, de 23 anos, tem bens em seu nome — o carro que ele e os amigos usaram no dia da agressão.
Defensor de Sirlei, o advogado Ricardo Mariz afirmou que, caso seja constato que o restante do grupo não tem condições de pagar a indenização, ela pedirá a insolvência civil dos jovens. Na prática, isso significa que os devedores perdem o direito de gerir bens, que passam a ser submetidos à administração judicial.
Condenados a cumprir penas que variam entre seis e sete anos de prisão, os cinco agressores estão em liberdade condicional — periodicamente devem se apresentar à Justiça para demonstrar que têm bom comportamento fora da cadeia. Estudando e trabalhando, a vida dos cinco seguiu em frente.