sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Trate bem os animais!



"O justo atenta para a vida dos seus animais, mas o coração dos perversos é cruel.”
Provérbios 12:10

Sabia que o carácter de uma pessoa pode ser avaliado pela maneira como trata os animais? “O justo”, afirma Salomão, “atenta para a vida dos seus animais.” Na verdade, o justo atenta para a vida. Sabe que a vida é uma expressão do amor de Deus. No caso dos animais, é uma vida dependente.
Quando Deus criou o ser humano, disse-lhe: “Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeita-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo o animal que rasteja pela terra.” (Génesis 1:28).

O verbo dominar não significa apenas subjugar com propósitos egoístas, mas cuidar e proteger. A vida humana é uma vida inteligente, animais são seres irracionais, mas merecem todo respeito.
A maneira como tratamos os animais expressa, de certo modo, a maneira como tratamos a vida e os seres humanos que estão sob a nossa responsabilidade. As pessoas merecem compaixão. Merecem justiça. Seja justo. “O justo atenta para a vida.”

No lado oposto da justiça está a injustiça, que deriva da crueldade. O perverso é déspota até quando é compassivo. Olha para baixo. Como se, pelo fato de precisarem de ajuda, as pessoas fossem menos humanas do que ele.

Se pudéssemos levar ao laboratório os sentimentos do perverso, veríamos que a crueldade não passa de uma auto punição inconsciente pelo desassossego que o seu coração sente. O perverso não é feliz. Não sabe explicar porquê, mas sente que falta algo e culpa-se por isso e maltrata-se com atos de crueldade para com os demais. Acredita que isso aumentará a dor que ele inconscientemente acha que merece.
Se pudesse olhar noutra direção, veria que ser feliz é simples. Não tem complicação nenhuma. É apenas reconhecer-se como criatura. Reconhecer que existe um Deus. Seguir os Seus conselhos e enfrentar as lutas da vida com a certeza de que não está sozinho.

Viva hoje uma experiencia de amor e de justiça. Faça o bem a quem supostamente precisa de si, porque: “O justo atenta para a vida dos seus animais, mas o coração dos perversos é cruel.”

JANELAS PARA A VIDA – MEDITAÇÕES MATINAIS 2008
ALEJANDRO BÚLLON

sábado, 19 de outubro de 2013

Nova Era - Uma nova Religião?


Desenho Animado: O Pequeno Príncipe.
De nova  não tem nada, desde o jardim do Éden, portanto desde o principio.Em Gênesis 2, 16 e 17: "...De toda árvore do jardim comerás livremente, - tinha advertido o Criador - mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás".Nos versos 4 e 5 a serpente provocou a curiosidade de Adão e Eva e aí começa a Nova Era. Não é uma Religião, não quer ser chamada de Religião, é contra toda e qualquer estrutura de uma Religião, por isso é tão superficial e astuta.Ao comer da árvore, Adão e Eva, desencadearam, o medo, a vaidade, a desobediência...Enfim a separação do Criador. Nesse espaço, entre Criador e criatura, reside a Nova Era.

Quem tem mais de 40 deve lembrar da canção tema do filme HairAquarius. O cinema, a televisão, as revistas, os livros, as músicas no envolvem e nos rodeiam nos entupindo com essas teorias. A ficção tem esse poder.Nossas roupas, nossa comida, remédios. Tudo, praticamente, nos molda a esse "estilo de vida", à essa alternativa de vida. A Nova Era está aí, nem os cegos escapam. Até o canal Discovery Kids, de desenho animado pra crianças, não fica de fora. Basta ver o desenho Ben 10, ou então, o Pequeno Príncipe. Tudo muito animador, mas sem a presença do Criador. Em sua filosofia a Nova Era estabelece o homem como centro de tudo.Como solução! Quer uma frase que é a cara das pessoas inebriadas por essa filosofia, pessoas normalmente sinceras e boa vontade? "Todos os caminhos levam a Deus!" Uma mentira, mas simpática e aceitável por quem está envolvido.

Ninguém escapa...Só uma boa educação será capaz de nos orientar. Recentemente acendeu-se o debate sobre educação religiosa nas escolas...Aí pronto! Aí que a coisa vai pegar!  Precisamos estar atentos e fundamentar nossa fé apenas na palavra de Deus e entender que somos criaturas.

Mas o que é exatamente a Nova Era?

O movimento da Nova Era (do inglês New Age) tem como característica uma fusão de ensinos metafísicos de influência oriental, de linhas teológicas, de crenças espiritualistas, animistas e paracientíficas, com uma proposta de um novo modelo de consciência moral, psicológica e social além de integração e simbiose com o meio envolvente, a Natureza e até o Cosmos. Tendo muitas vezes como base um caráter liberal e de oposição à ortodoxia e o conservadorismo das religiões organizadas.


Simbolismos.

O movimento em si ocorreu nas décadas de 1960 e 1970, tendo como inspiração princípios teosóficos e escritos sincréticos do século XIX e início do século XX. Fazendo parte dos movimentos de contracultura da época e servindo como ferramenta de contestação às religiões e valores tradicionais.

Embora tenha deixado marcas que ainda se refletem na atualidade, o movimento nunca existiu de forma centralizada ou como uma só organização. Nota-se também que nem todas as religiões e filosofias sincréticas ou místicas apoiam ou se identificam com movimentos da nova era, embora muitas vezes sejam rotuladas dessa forma.
Na Espiritualidade:
É uma teologia ou uma "filosofia de vida" de bem-estar, tolerância universal. A Nova Era pretende realizar o que seu nome indica: “derramamento de água” ou “era de aquários” sobre o mundo, para simbolizar a vinda de um novo “espírito” ou “nova mentalidade”. Essa nova Era é assim denominada, porque pretende suplantar a "Velha Era", a Era de Peixes, uma referencia ao cristianismo, uma vez que o peixe é simbolo do Cristão. Esta “nova mentalidade” provocará nos seres humanos uma expressão (ou "despertar") de consciência, desligando as pessoas do cristianismo. Para auxiliar neste processo, algumas psicotécnicas também podem ser empregadas, tais como: Tarô, Yoga, Meditação, Mapa Astral, Gurus, Esoterismo, novas culturas, orações, jogo de Búzios, pirâmides, cristais,numerologia, Gnose, Teosofia, Acupuntura, Homeopatia, Fitoterapia, Pacifismo, Rebieth, Channellins, Sincretismo, busca interior, livros de autoajuda, magia, predição, novo pensamento etc. e esta iluminação deverá possibilitar uma vida com menos dificuldades e menos problemas. A "Nova Era" não é vista por seus seguidores como uma religião propriamente dita, mas apresenta propostas de vida religiosa. Não é um movimento filosófico propriamente dito - pois não parte de construções racionais para justificar suas proposições -, mas tenta dar respostas (ditas) filosóficas a questões existenciais. Não é uma ciência, mas busca alicerçar-se em leis científicas (ou pseudocientíficas). 


A “Era Cristã” é considerada, pelos adeptos da Nova Era, como a “Era de Peixes” (símbolo do zodíaco), porque, conforme a astrologia, as eras do zodíaco vão se sucedendo, durando cada uma em média 2.150 anos; atualmente, está terminando a de Peixes e deve começar, em breve, a Era de Aquarius. Para os seguidores da Nova Era, a de Peixes é identificada como era cristã, visto que o peixe era, para os primeiros cristãos, um símbolo de Jesus Cristo e do "Salvador", pois, devido às perseguições da época, torturas e prisões, eles não podiam divulgar o Evangelho abertamente.

Também existe o gênero musical New Age que, embora na sua origem não esteja relacionada diretamente com este movimento, acabou com o tempo por se correlacionar com ele, na medida em que recorre a sonoridades e arranjos harmónicos sugestivos, ou propiciadores de estados de espírito tranquilos e de comunhão com o Cosmo.

Politica e Religião:
No âmbito religioso misturam também princípios filosóficos e místicos. Alguns instrumentos usados para esses fins são as pirâmides, filosofias orientais, energias cósmicas, cristais energéticos, amuletos, pensamentos positivos, esoterismo (cabala, horóscopo, mantra, mapa astral, Yoga, relaxamento, “ecologia”, aura em harmonia com o corpo, Yin Yang). Acredita-se que a humanidade, assim como todas as coisas, são UM (estão em unidade) com o Cosmos (ou "Deus"). Você mesmo assume-se como parte de Deus.

O oculto, o misterioso, o esoterismo, a astrologia, destino, medicina alternativa com filosofias, estrelas influenciando as nossas atitudes, livros de auto-ajuda... Tudo isso faz parte da Nova Era. Esse movimento se sustenta em 4 pilares (Subestrutura científica, O uso de “doutrinas” das religiões orientais, Nova Psicologia e Astrologia). Dentro do prisma da "Nova Era" está a uniformização, principalmente a do sistema econômico, as “leis” da globalização, como percebemos em nossos dias, estão envolvidas nesse processo.

Encontro New Agers.
Algumas pessoas, principalmente de religiões cristãs, afirmam que o movimento "Nova Era" não passa de uma fraude, a qual prepara o terreno para o surgimento do Anticristo, onde serão unificadas as religiões.
Crenças:
Tipicamente, os new agers partilham de algumas, (não necessariamente de todas), das seguintes crenças que foram adotadas de outras filosofias a fim de completar sua própria ideologia:
  1. Toda a Humanidade, - na verdade toda a vida, tudo no Universo. - é espiritual e está ligado entre si. Tudo participa da mesma Energia. Deus é o nome para esta "energia".
  2. Os seres espirituais (exemplo: anjos, guias espirituais, elementais, espíritos, extraterrestres, ...) existem. Podem nos guiar se nos dispusermos a ser por eles guiados.
  3. A mente humana tem níveis de profundidade e vastos poderes que podem mesmo substituir a realidade. "tu crias a tua própria realidade com a tua mente". No entanto isto é determinado por algumas leis espirituais (karma).
  4. O indivíduo nasce na terra com um propósito. Tem a missão de aprender. A mais importante lição para aprender nesta vida é o Amor.
  5. A morte não é o fim. Há vida em diferentes formas e dimensões. Uma vida depois da morte não existe nunca para nos punir mas para nos ensinar pelos mecanismos da Reencarnação e eventualmente pelas experiências de Quase Morte.
  6. A Ciência e a Espiritualidade são em última análise harmonizáveis. As novas descobertas em Ciência, Teoria da Evolução, Mecânica Quântica entendidas de maneira acertada apontam para princípios espirituais.
  7. Há uma coisa partilhada por todas as religiões, que a Intuição ou "ser guiado divinamente" é melhor para ser usado na nossa vida pessoal do que o racionalismo, o cepticismo ou o método científico. A ciência ocidental erroneamente negligencia coisas como a parapsicologia, a meditação, e a saúde holística.
  8. Há um núcleo místico de sabedoria em todas as religiões Orientais e Ocidentais. O dogma e a identidade religiosa não são importantes mas sim o conteúdo espiritual.
  9. Há princípios místicos masculino/feminino nas coisas, que assim como no ying/yang só se completam na sua união.
  10. As formas femininas da espiritualidade, incluindo imagens femininas do divino, são vistas como tendo sido subordinadas, escondidas pelas religiões tradicionais patriarcais. São divindades anteriores às religiões patriarcais. O renascimento do feminino é particularmente apropriado ao nosso tempo.
  11. As antigas civilizações como a Atlântida devem ter existido deixando para trás certos monumentos (como As Pirâmides do Egipto, Stonehenge) cuja verdadeira natureza não foi descoberta pelos Historiadores mainstream.
  12. Não há coincidências (Jung chamou a isso de Sincronicidade). Tudo à tua volta tem significado espiritual. E tudo te pode ensinar lições espirituais. As adversidades são lições de vida.
  13. A mente tem poderes e capacidades escondidos que têm significado espiritual. Os sonhos e as experiências psíquicas são modos de as almas se expressarem.
  14. Meditação, yoga, t'ai chi, e outras práticas orientais são válidas e devem ser desenvolvidas.
  15. A comida que comes afecta-te a mente assim como o corpo. É preferível comer comida vegetariana. A carne tem por base a morte de animais, é por isso um alimento que tem dentro uma carga de violência.
  16. Em rigor qualquer relação interpessoal tem potencial para desenvolvermos o nosso espírito.
  17. Aprendemos nas relações com as outras pessoas passando a saber o que é que precisamos de desenvolver em nós próprios e quais forças temos que trazer aos outros para também os ajudar.
  18. Todas as nossas relações vão ser repetidas até serem curadas, se necessário através de várias encarnações.
  19. Como Almas que procura a unidade com o Todo o nosso objectivo último é o de Amar a toda a gente com quem temos contacto.
  20. Certas localidades certos locais têm propriedades especiais de energia, esta pode ser energia feminina ou masculina. Esses locais são chamados de vortex (ou portais) e esses locais são considerados sagrados e têm propriedades curativas pelas populações ancestrais indígenas desses locais.
Mais sobre o assunto na opinião de um teólogo cristão: O Anticristo e a Nova Era.

Referencia:


domingo, 6 de outubro de 2013

Caju - um pseudofruto.

Foto montagem pessoal
Apesar das dificuldades, fui uma criança feliz. Tive meus avós maternos muito próximos e pude aprender muito com eles. Uma das lembranças mais doces que tenho foram as inúmeras especies de Cajus que meu avó plantava e colhia. Fui um privilegiado em poder subir em cajueiros enormes e saborear frutos nos galhos. Aos 11 anos vim morar no Rio de Janeiro e desde então os Cajus não foram mais os mesmos. Um dia ainda apresentarei aos meus filhos!

Nas férias íamos para chácara do meu avó e fazíamos a festa. O Caju está para o Estado do Ceará, assim como o Canguru está para Austrália, algo assim, apesar da Fruta está espalhada no mundo.Mas no Ceará é diferente.Sua época é de janeiro a fevereiro, a fruta é bastante magra, tendo 46 calorias em 100 gramas de caju. Em termos de nutrição, o Caju é uma fruta rica em vitamina C, com um teor mais alto até que a laranja, além de Niacina e ferro. Também rico em fibra, ajuda muito no fluxo intestinal. A fruta ao natural é ótima no combate ao reumatismo e eczemas na pele. Seu óleo é muito indicado também para a cicatrização de feridas. Tudo que as crianças precisam para crescerem saudáveis. livres de cicatrizes e inflamações.

Foto do Blog Loucos por Sobremesas.
Com essa imagem sinto água na boca e também o azedinho doce desse pseudo fruto. O Caju é tido como o fruto do cajueiro, mas na verdade o fruto é a Castanha.A castanha-de-caju é hoje um produto de base comum em todas as regiões com um clima suficientemente quente e úmido, repartindo-se por mais de 31 países, para uma produção anual, em 2006, de mais de três milhões de toneladas, segundo números da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação). A área total de cultivo é de 33.900 km², para um rendimento médio de 916 kg/hectare. Mas não podemos esquecer que o Fruto é nativo do Brasil, o caju foi levado pelos portugueses do Brasil para a Ásia e a África.

A mais antiga descrição escrita do fruto é de André Thevet, em 1558, comparado este a um ovo de pata. Posteriormente, Maurício de Nassau protegeu os cajueiros por decreto, e fez o seu doce, em compotas, chegar às melhores mesas da Europa.

Os 10 maiores produtores de caju são, de acordo com a FAO ( dados de 2010, em toneladas):
  1.  Vietname 1.159.600
  2.  Índia 613.000
  3.  Nigéria 594.000
  4.  Costa do Marfim 370.000
  5.  Indonésia 174.300
  6.  Filipinas 134.681
  7.  Brasil 102.002
  8.  Guiné-Bissau 91.100
  9.  Benim 69.700
  10.  Moçambique 67.200

Não conheço cearense que não ame essa fruta. Cearense que não gosta dessa fruta é "ruim da cabeça ou não tem paladar" Risos! Brincadeiras à parte, vá a Fortaleza e verá a aplicação desse fruto na culinária, são tantas as comidas que nem dá pra imaginar. A despeito do suco, dos doces, das bebidas alcoólicas - que desprezo, vou deixar pros amigos uma receita de bolo do blog "loucos por sobremesas".

Receita de Bolo Especial de Caju
Ingredientes:
300 ml de suco de caju
3 unidade(s) de clara de ovo em neve
3 unidade(s) de gema de ovo
100 gr de margarina Qualy Light Sadia
1/2 xícara(s) (chá) de adoçante em pó
1 colher(es) (chá) de essência de baunilha
1 xícara(s) (chá) de farinha de trigo
1 colher(es) (sopa) de fermento químico em pó quanto baste de castanha de caju para polvilhar Calda
1/2 xícara(s) (chá) de suco de caju
1/2 xícara(s) (chá) de adoçante em pó
1 colher(es) (chá) de amido de milho
Preparação:
Massa
Coloque na batedeira as gemas,o adoçante e a margarina light, bata até formar um creme.
A seguir,acrescente a farinha de trigo,a farinha de rosca,a essência de baunilha e o suco de caju.
Adicione o fermento e as claras delicadamente com uma colher.
Coloque a massa,em forminhas altas e o restante em assadeira de bolo inglês (untada e enfarinhada).
Leve para assar em forno médio.Depois de pronto,ainda quente pincele com a calda e polvilhe a castanha de caju. Calda Dissolva o amido de milho no suco de caju.
Em seguida leve todos os ingredientes ao fogo até dar uma leve engrossada.Reserve.
Rendimento:
12 porções

Fonte: Wikipédia e blog Loucos por sobremesa.

sábado, 28 de setembro de 2013

Os humanos são violentos - Jonathan Gottschall.

Apesar da insistente retórica da  teoria da evolução de Darwin, ainda sim dá para aproveitar alguma coisa dessa entrevista.O entrevistado não precisava ter as orelhas feridas para entender que a violência é natural do homem, somente do homem. O homem é o único que não precisa dela como ferramenta de sobrevivência, mas mesmo assim faz questão de usá-la.  a abordagem da influência da literatura no comportamento humano também muito interessante.

Reportagem da Revista Veja de 9/maio/2012 de Gabriela Careli. O pesquisador americano Jonathan Gottschall de 39 anos é hoje um expoente entre os neodarwinistas, empenha-se em explicar o comportamento humano à luz da teoria da evolução de Darwin.

Eis a entrevista na íntegra, tirem suas próprias conclusões:

Professor de literatura inglesa na Universidade Washington e Jefferson, na Pensilvânia, autor de seis livros, Gottschall é defensor de uma tese original sobre o papel das obras de ficção. sejam tragédias gregas ou contos de fadas, na definição das estratégias evolutivas da especie humana. O cerne de seu pensamento foi condensado em The Storyiellieng Animal:How Stories Make Us Human (algo como O Animal Narrador:Como  Contar Histórias Nos Faz Humanos), sua obra mais recente, ainda sem tradução no Brasil. Gottschall vê modernidade na obsessão de atingir a grandeza pela aventura e pelo enfrentamento violento das adversidades, características  de Ulisses, herói da Ilíada, do grego Homero, o mais antigo poema ocidental, escrito no século VIII antes de Cristo. Há um ano e meio Gottschall pratica MMA e vai contar sua experiência em um livro, no qual vai refletir sobre os motivos que levam os homens a se digladiar e até o mais gentil dos indivíduos a se deleitar com os espetáculos da barbárie contemporânea nos octógonos.
Veja: O que o senhor diria aos pais que se preocupam com os filhos que evitam os livros e desperdiçam seu tempo com videogames e outros gadgets? 
Jonathan: Os jovens e as pessoas em geral estão lendo cada vez menos, sem dúvida. Isso não significa, no entanto, que elas estão se afastando das histórias e da ficção. A leitura deixou de ser prioritária porque foi sendo substituída pouco a pouco pelas outras formas de narrativas trazidas da revolução digital. Um americano médio assiste ao menos cinco horas de TV por dia e gasta cada vez mais tempo imerso na realidade virtual dos videogames. A ficção, que acredito ser a principal responsável pelo desenvolvimento e pelo bem-estar psicológico do ser humano, vai continuar a fazer parte da nossa vida. Muitos cientistas concordam com a tese de que criar, contra e participar de uma história são ferramentas evolutivas desenvolvidas por motivos bem específicos. Não existe a possibilidade de tudo isso desaparecer. Seria como desaprender a caminhar. A geração videogame está dentro de uma obra que está sendo criada e partilhada em tempo real. A minha impressão é que os games vão intensificar os efeitos da ficção em nossa vida, não diminuí-los. Nos jogos virtuais, a pessoa é o personagem principal e não diz "ele morreu", mas sim "eu morri". E isso faz toda a diferença.

Veja:Como a ficção pode ajudar no desenvolvimento e no bem-estar psicológico das pessoas?
JonathanHá duas teorias principais sobre narrativa e evolução. Uma delas considera o ato de criar e contar histórias um subproduto evolutivo, decorrente do desenvolvimento da inteligência humana. A outra, mais aceita, é a de que as histórias funcionam como simuladores de voo que preparam os pilotos em terra para enfrentar condições adversas reais no ar. Elas nos fornecem pistas sobre a melhor maneira de agir em diversas situações. As histórias parecem muito diferentes uma das outras, mas elas possuem uma estrutura similar: Há sempre um personagem, um problema e um esforço para superar tal problema. Não importa o gênero - tragédia, ação, humor ou romance-, todas giram em torno da mesma espiral. Inclusive as histórias espontâneas, como as inventadas pelas crianças durante as brincadeiras de faz de conta, ou os sonhos - as histórias contadas a nós mesmos pelo nosso cérebro.Os sonhos,em dos grandes mistérios da ciência, são mais difíceis de analisar. Já as brincadeiras infantis é mais fácil encontrar elementos para comprovar que as histórias não são apenas produto da cultura e do aprendizado. Em todos os lugares do mundo, tanto em sociedades tribais quanto em países em desenvolvimento, crianças de 4 e 8 anos de idade passam a maior parte do tempo de  virgília em um mundo imaginário, testando possibilidades a partir de enredos com heróis e princesas. Para os pequenos, isso é tão natural quanto respirar. Não é ensinado. É biológico. Tenho duas filhas, uma de 4 anos e a outra de 7 anos, e aprendi muito sobre o assunto em suas brincadeiras. Inspirei-me em Darwin, um pai dedicado que também costumava observar seus filhos do ponto de vista científico.

Veja:As obras de ficção podem realmente mudar comportamento e percepções?
Jonathan: Diversos estudos foram feitos sobre o poder da ficção nas atitudes e no comportamento das pessoas. Essas pesquisas avaliam as percepções de participantes contrários e favoráveis a uma determinada causa polêmica, como o aborto ou a pena de morte.Os dois grupos leem textos de ficção ou não ficção sobre um mesmo assunto e com conteúdo similar. Na maioria dos estudos, as pessoas que leem textos de ficção mudam de opinião com muito  mais facilidade do que as expostas a histórias reais. Absortos em histórias fictícias, os individuo  tendem a baixar a guarda, deixam seus preconceitos de lado. Varrem a dose de ceticismo que têm sobre determinado assunto para debaixo do tapete e tornam-se mais receptivos a crenças contrárias às suas. Colocam-se no papel do personagem principal e vivenciam seus dramas e problemas. Um exemplo recente aconteceu nos Estados Unidos. Os  americanos sempre foram majoritariamente contrários ao homossexualismo e ao casamento gay. Nos últimos quinze anos, a situação se inverteu. Os cientistas sociais não entendiam a velocidade da transformação. Afinal, concepções dessa natureza não mudam tão rapidamente. A justificativa encontrada pelos sociólogos foi a proliferação de programas, de sereis de TV e novelas sobre o universo gay, com personagens homossexuais afáveis, como Will e Grace e Modens Family. O fato é que sempre pensamos na ficção como forma de escapismo. Mas uma história não produz entretenimento, ela também nos molda e é capaz, inclusive, de interferir nos acontecimentos históricos.

Jonathan Gottschall é defensor de uma tese original
 sobre o papel das obras de ficção.





     "Talvez os seres humanos não sejam tão bons quanto se pretendem. "







Veja:Não é um exagero dizer que a ficção é capaz de mudar o mundo?
JonathanUma das principais evidências históricas de que a ficção tem esse poder foi a publicação, em 1852, de A Cabana do Pai Tomás, livro abolicionista escrito pela americana Hariet Beecher Stowe. A exceção da Bíblia, foi o livro mais vendido em todo o século XIX e teve um impacto enorme nos Estados Unidos. É reconhecido por todos dos historiadores como a força propulsora da guerra civil americana. O livro mostrou aos nortistas o lado cruel da escravidão. No sul, o efeito foi contrário. Os sulistas sentiram-se insultados pela obra. Há diversos outros exemplos de como a ficção mudou o mundo, nem sempre para o bem. Os Sofrimentos do Jovem Werther, do poeta alemão Goethe, provocou um dilúvio de suicídios semelhantes ao do personagem principal no seculo XVIII. Décadas depois, em 1835, o inglês Edward BulwerLytton escreveu o livro Rienzi, o Último do Tribunos, que inspirou o compositor alemão Richard Wagner a produzir a ópera do mesmo nome. A peça de Wagner, por sua vez, contribuiu para o ditador Adolf Hitleer escrever Mein Kamfp (minha luta), que inebriava os nazistas.

Veja:Um número de intelectuais diz que é impossível explicar a literatura e outras formas de arte de maneira cientifica, como o senhor está tentando fazer?
Jonathan: Há uma série de acusações contra os especialistas em humanidades que tentam conduzir o seu trabalho de forma mais rigorosa. Uma delas diz que o darwinismo literário, assim como a psicologia evolutiva, reduz tudo aos genes, sugerindo que o aprendizado não é importante. Isso é uma idiotice. As novas teorias baseadas na sociobiologia, corrente que estuda o comportamento por meio da evolução, emergiram nos anos 90 como contraponto ao determinismo cultural. Outra crítica é que temos inveja dos cientistas, dos físicos, químicos e matemáticos. Eu e meus colegas estamos, sim, à procura de um modelo cientifico, algo até hoje falho nas ciências humanas, especialmente na literatura. Eu quero imitar os cientistas, não apenas em termos de teoria, mas também na atitude e na criação de métodos. A ideia é ser objetivo em relação às pesquisas e investigações a respeito da literatura, não deixar que posições politicas e pessoas interfiram na produção acadêmica, como acontece há décadas na minha área. É preciso integrar ciência e humanidades para produzir conhecimento consistente, não papo furado e análises descabidas.

Veja:Foi a Ilíade, de Homero, que despertou o seu interesse em estudar a violência do ponto de vista evolutivo?
Jonathan: A Ilíade é um livro extremamente violento. Nada supera a obra em termos de violência, nem mesmo os mais hediondos filmes modernos. Estava estudando a Ilíade e alguns textos de sociobiologia quando percebi a possibilidade de entender a obra a partir da teoria da evolução. comecei a me interessar por lutas - assisti a combates de vale-tudo na televisão por mais de quinze anos. Demorei a sair do armário. Fazia isso escondido da minha mulher e dos meus amigos. Há cerca de dois anos, descobri que uma escola de artes marciais mistas, o MMA, tinha sido aberta a duas quadras do meu escritório. Era possível assistir, da janela da minha sala, aos atletas treinando e se digladiando no ringue. Tomei coragem e me inscrevi na academia. Não fiz isso por razões pessoais, mas por motivos intelectuais, Queria entender por que os homens lutam em combates rituais e quais as razões que levam um cara gentil como eu a se deleitar com esses espetáculos de barbárie.

Veja:O senhor conseguiu por que, afinal, os homens brigam?
Jonathan: Tanto na literatura quanto as ciências sociais mostram que os combates os homens estão a procura de status. Pode parecer um motivo fútil, mas o status é determinante para posicionar um individuo nas hierarquias. Estar no fim da fila hierárquica, tanto para os homens quanto para os animais, é muito ruim - e, claro, um óbvio risco à sobrevivência.

Veja: E por que até homens gentis se deleitam com espetáculos de selvageria?
Jonathan: É uma pergunta a que ainda não consegui responder. A violência é, com certeza, uma ferramenta evolucionária, concebida para ser usada nas circunstância necessárias, não para ser apreciada ou para servir de entretenimento. No entanto, em todas as sociedades, mesmo nas mais pacificas, as pessoas se divertem com espetáculos sanguinolentos. Talvez os seres humanos não sejam tão bons quanto se pretendem. Como argumentar o psicologo canadense Steven Pinker, foi uma sucessão de eventos históricos que acalmaram os demônios dentro de nós e fizeram o lado bondoso da nossa especie sobressair ao lado obscuro. Os humanos são violentos.

Veja: Por que o senhor escolheu o MMA e não outro tipo de arte marcial como objeto de estudo?
Jonathan: Quando comecei a assistir a luta livre, nos anos 90, fiquei impressionado com a violência do esporte. Não pude acreditar que essa era uma forma de luta legalizada. Honestamente, os combates me reviravam o estômago  Ainda fico enojado em algumas situações. O MMA não impõe limites para a agressividade. Além de ser a expressão máxima da brutalidade humana, tem-se ali uma modalidade muito eclética, que aceita modificações e está em constante evolução. Outras categorias, como o caratê e o judô, possuem regras fixas, não incorporam novos golpes. Arrisco-me a dizer que o MMA é a mais evolutiva forma de arte marcial.

Veja: Que lições pessoais o senhor aprendeu em um anos e meio de luta?
Jonathan:Acima de tudo, que sou um homem contraditório, parafraseando o poeta Walt Whitman. em alguns momentos me senti Dr. Jekyll e, em outros, Mr Hyde, as duas facetas de personagem de O Médico e o Monstro. No começo, não queria que meus colegas soubessem do meu projeto. Tinha medo de que eles me considerassem um ser selvagem. Alguns pensaram isso mesmo ao ver meu corpo transformado e minhas orelhas deformadas. Um intelectual que gosta de MMA não pode ser visto com bons olhos nas universidades.

         Jonathan e família - foto de julho de 2010 - acervo pessoal.


"Assisti a lutas escondido de minha mulher e de meus colegas por anos a fio. Tinha medo de que eles me considerassem um animal selvagem"












Veja: O senhor fez seu primeiro combate oficial há poucas semanas. Como foi a experiência?
Jonathan: A primeira e última. Não quero fazer isso de novo. Fui derrotado por uma chave de braço, mas não foi esse o problema. O pior foi o anticlímax do final. Não estava suado nem cansado. Depois de um ano e meio de treinos, dietas e um mês de ansiedade para entrar no octógono  fiquei decepcionado. Foi tudo rápido. Esperava algo mais épico, prolongado e brutal. Como na Odisseia, ou na Ilíade.

Confiram o acervo digital da Revista Veja aqui.










quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Épico




Futebol de calçada era com narração, e o próprio jogador fornecia a narração. Jogava e descrevia sua jogada ao mesmo tempo, e nunca deixava de se autoentusiasmar. “Sensacional, senhores ouvintes!” (Naquele tempo os locutores tratavam o público de “senhores ouvintes”).

“Sensacional! Mata no peito, põe no chão, faz que vai mas não vai, passa por um, por dois... Fáu! Foi fáu do béque! O juiz não deu! O juiz está comprado, senhores ouvintes!”

Fáu era “foul” e béque era “back”, na língua daquela terra estranha, o passado. E o juiz, claro, era imaginário. Tudo era imaginário no futebol de calçada, a começar pela nossa genialidade. A bola era de borracha, quando não era qualquer coisa remotamente redonda. O bola número cinco oficial de couro ganha no Natal não aparecia na calçada, tá doido? Estragar uma bola de futebol novinha jogando futebol?

Mas éramos gênios na nossa própria narração.

“Lá vai ele de novo. Cabeça erguida! Passa a bola e corre para receber de volta... Que lance! O passe não vem! Não lhe devolvem a bola! Assim não dá, senhores ouvintes ... Só ele joga nesse time!”

A narração dava um toque épico ao futebol. Lembro que na primeira vez em que fui a um campo, acostumado a só ouvir futebol pelo rádio, senti falta de alguma coisa que não sabia o que era. Tudo era maravilhoso, o público, o cheiro de grama, os ídolos que eu conhecia de fotografias desbotadas no jornal ali, em cores vivas... Mas faltava alguma coisa. Faltava uma voz me dizendo que o que eu estava vendo era mais do que estava vendo. Faltava a narrativa heróica. Faltava o Homero.

Na calçada éramos os nossos próprios heróis e os nossos próprios Homeros.

“Atenção. Ele olha para o gol. Vai chutar. Lá vai a bomba. O goleiro treme. Ele chuta! A bola toma efeito. Entra pela janela. E lá vem a mãe, senhores ouvintes! A mãe invade o campo. Ele tenta se esquivar. Dá um drible espetacular na mãe. Dois. A mãe pega ele pela orelha. Pela orelha! E o juiz não vê isso!”

Mesmo se nem tudo merecesse o toque épico.


Texto de L.F.Veríssimo publicado no Globo de 26/09/2013.


segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Ângulos do Rio de Janeiro.

João buscando os banhista na praia de copa - foto particular.
O Rio de Janeiro talvez seja a cidade mais bonita do mundo, falo talvez, porque não conheço todas e nem venha a conhecer. Das cidades que pude pesquisar ela é a que reúne todas as belezas naturais que possamos avaliar. Temperatura, sol sempre brilhando; montanhas exuberantes, ainda com suas matas verdes; o mar banhando a cidade de um azul turquesa que cheira alegria. Se não bastasse isso, Deus tratou de unir todos esses elementos criando algo inimaginável. Só ficando acima dela pra ver.

Se ouvires a pergunta, por que o carioca gosta tanto de morar nos morros? Responda: Porque lá de cima ele sente a brisa da alegria e contempla a visão de Deus para a cidade do Rio de Janeiro! É preciso subir seus morros para entender essa paixão carioca. No último domingo, junto com grandes amigos, pude contemplar mais um ângulo dessa cidade. Há 37 anos morando nesta cidade e não conheço todos seus ângulos.

Foto particular: Léo e Gabriel sobre a cidade maravilhosa.


sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Sônia Schüller - uma miss destronada.

Maio de 1965. Vinte e cinco mil pessoas lotavam o Maracanãzinho para acompanhar a disputa pelo título de Miss Estado da Guanabara. Vera Lucia Couto, Miss 1964, esperava a decisão dos 11 jurados para passar a faixa à sua sucessora. Duas louras ainda estavam no páreo: Maria Raquel de Andrade, representando o Botafogo, e Sonia Schuller, o Clube Caça e Pesca.

Quando Sonia começou a desfilar, a plateia veio abaixo. “Ela era ensolarada, cheia de energia e tinha um sorriso lindo”, lembra o advogado Daslan Mello Lima, criador de um blog sobre misses. “Foi um frisson incrível quando essa moça apareceu no palco”, lembra Vera Lucia Couto, hoje uma funcionária da Riotur. Sonia acabou não levando o título, mas, segundo a revista “Manchete” da semana seguinte, a catarinense que veio para Rio ainda criança recebeu “uma das maiores ovações da história do Maracanãzinho”.

Quarenta e oito anos depois, não ficou nada daquele sorriso que encantou Daslan e a multidão no ginásio. Sem nenhum dente na arcada superior e com a inferior em frangalhos, Sonia tem dificuldades até para comer o pastel chinês que o dono de um bar no Jardim de Alah dá a ela todos os dias. O salgado costuma ser sua única refeição. A ex-vicecampeã do Miss Guanabara e Sereia das Praias Cariocas de 1965 virou uma pedinte nas ruas de Ipanema, bairro onde mora.

“Sonia sofre de esquizofrenia”, informa seu irmão, Cláudio Schuller. Ele conta que “a desgraça da vida dela começou em 1986”, depois que uma moto a atropelou, perto d Praça General Osório. Sonia atravessava a Rua Prudente de Morais, na esquina com a Teixeira de Melo, quando um motoqueiro ultrapassou um ônibus parado e a acertou em cheio. “Naquele dia, ela perdeu os dentes e a autoestima”, diz Cláudio.

Filho mais velho da ex-miss, Bruno, de 46 anos, confirma o baque. “Dali pra frente tudo desandou.” Bruno, que há 19 anos mora em Curitiba, é fruto do curto relacionamento de Sonia com Sergio Petezzoni, um dos fundadores do Clube dos Cafajestes, de Copacabana. Nasceu e foi criado no apartamento 404 do prédio número 42 da Rua Barão da Torre, Ipanema, onde vivia com a mãe e a avó, a fisioterapeuta Antônia Schuller.



No último andar fica a famosa cobertura de Rubem Braga — que Sonia conhece bem. Ela e Rubem tiveram um namorico. “Era uma admiração mútua, ela vivia na casa dele”, conta Cláudio. “Eu ia lá para ler jornal, pegar uns livros”, conta a ex-Sereia, que, num batepapo na Visconde de Pirajá (seu habitat), alterna momentos de extrema lucidez com comentários que fazem pouco sentido e incluem ciborgues, androides e assuntos como “uma nova tecnologia que suga a energia e te deixa seca como uma ameixa”.

Ex-aluna do colégio N. Sra. Auxiliadora, na Tijuca, e do Melo e Souza, em Ipanema, Sonia não fez faculdade. “Achei que esse negócio de sereia era suficiente”, diz, coçando o dedão do pé esquerdo, com unhas enormes e empretecidas. “Minha mãe também achava. Mas olhaí, virei uma sereia desdentada.”

Sentada na mureta da Praça Nossa Senhora da Paz, Sonia pede uma pausa na conversa para acender um Marlboro. No dedo indicador da mão direita há um anel igualzinho ao que Kate Middleton usou no noivado com o príncipe William, aquele mesmo anel que era de Lady Di. “É bijouteria, claro”, esclarece. O cigarro, ela conta, é sua perdição. É por ele que Sonia sai de casa todos os dias. Vai para as ruas pedir dinheiro para comprar pelo menos um maço.


A abordagem é direta, sem rodeios. Não fala que está com fome, não faz drama. “Oi, pode me dar um real?”. Também não conta que é para comprar cigarro. “Claro que não. É uma questão de ética.”


“Peço um real e vou juntando. Quando consigo comprar um maço, volto para casa”. Num desses dias, ela foi até o Leblon. Parou em frente à Padaria Rio-Lisboa e pediu dinheiro a um taxista. No balcão, seu irmão, Cláudio, tomava café e fingiu que não a conhecia. “Fiquei constrangido”, diz. Numa outra vez, Cláudio, que mora em Friburgo e vem ao Rio com frequência, estava no supermercado Zona Sul e a viu, também na porta, (“ela não entra nos lugares, fica só na porta”) falando sozinha. “Me senti mal, claro. Mas a chamei de volta para casa.” É ele também quem paga o condomínio do apartamento.

A derrocada da ex-Sereia começou mesmo quando ela perdeu o emprego de executiva de marketing no BarraShopping, no início dos anos 80, pouco depois da morte do pai. “Lembro dela nesta época do shopping, linda, saindo de carro, salto agulha e tailleur”, diz o vizinho Mario Vicenzio Cardillo.

Desempregada, Sonia passava temporadas entre Mirantão, em Visconde de Mauá, e Maricá, na Região dos Lagos. Voltava para o apartamento da Barão da Torre com frequência, mas gostava de ficar nessas cidades com seus bichos. A casa de Ipanema chegou a ter quase 50 cachorros, a maioria da raça pointer. E também gatos, muitos gatos. “Eu ia à feira e voltava com dois baldes de cabeça de peixe para dar para eles”, lembra Cláudio.


A família reparou que alguma coisa não estava bem quando Sonia passou a falar sozinha. Fazia isso com frequência. Também começou a riscar as paredes com carvão. Chegava em casa com cabos de vassoura e sacolas cheias de lixo recolhido na rua. Foi com esse pano de fundo, bem nessa fase sinistra, que a moto a atropelou. “Foi demais para ela”, diz Mario, o vizinho e fã, que mora no primeiro andar.

Ele, que aos 7 anos foi com a mãe ao Maracanãzinho torcer por Sonia no concurso de Miss, não acreditava no que via. “Ela estava toda quebrada, sem os dentes, irreconhecível.” Sonia chegou a botar uma prótese na arcada superior, mas anos depois tirou.

No final dos anos 90, ela chegou a passar duas semanas internada no Instituto Pinel, onde foi diagnosticada a esquizofrenia. Como não tomou os remédios prescritos, voltou à estaca zero. Desde então, vive de caminhar, em andrajos, pelas ruas de Ipanema, em busca de dinheiro para o cigarro. Faz colagens com papéis e revistas que recolhe nos lixos e quer publicar um livro. “Mas sem ninguém dizer como tem que ser. Livro artesanal mesmo.”

Quem a conhece diz que Sonia piorou ainda mais desde que a mãe morreu, há dois anos. Ela estaria mais triste, ficando mais tempo fechada no apartamento, entulhado de coisas que pega na rua. Sonia usa o elevador e a entrada de serviço do prédio onde mora com o filho mais novo, o estudante de Direito Igor, nascido um ano depois do acidente.

A ex-Sereia das praias cariocas só dorme na cama de massagem da mãe, talvez para tentar manter algum contato com ela. Perguntada sobre o que a deixaria feliz, nem pensa duas vezes. “Meu sonho dourado é um empadão de camarão com chopinho bem gelado.”

Fonte: CL Gente Boa - O Globo - 30/06/2013.

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