sexta-feira, 31 de maio de 2013

Perdido em si mesmo - Conhecer Jesus é Tudo.

O transcrito abaixo está no livro "Conhecer Jesus é Tudo" de Alessandro Búllon. Búllon conta a sua própria história, um jovem perdido dentro da Igreja. É a descrição de uma das várias experiências no comecinho de seu ministério. O que mais me chama a atenção nesse relato é a presença de um anjo. Muitos anjos passam por nossas vidas sem que nos darmos conta, muitas vezes brigamos conosco sem perceber a intervenção divina atraves desses sere. Deus insiste em nos salvar de nós mesmos.

Mais um post da série Anjos, seres divinos que são muitas vezes esquecidos por nós. É quase impossível alguém que não tenha uma experiência com anjos, mas nunca relatamos nossas experiências com eles, nem lembramos

***
Conhecer Jesus é Tudo                                             Capitulo II - pág. 18 a 24

Devia ser três ou quatro da tarde, mas no interior da floresta dava a impressão de que estava anoitecendo. Nuvens negras cobriram de repente o céu e o "grito" dos trovões deixou-se ouvir na imensidão da selva amazônica, como se fosse o alarido de gigantes assustados. De vez em quando os relâmpagos, semelhantes a flechas acesas, feriam a escuridão. Tive medo. Aliás, estava amedrontado desde que percebi que tinha perdido a trilha. Corria o ano de 1972. Eu era missionário entre os índios da tribo Campa, que moram nas margens do rio Perene, na Amazônia de meu país. Naquela manhã de sexta-feira, saí de casa com o objetivo de visitar uma aldeia localizada a duas horas de caminho através da floresta. Não soube precisar em que momento perdi a trilha. Esforcei-me para achá-la, mas toda tentativa acabara me desorientando mais.


Os minutos e as horas foram passando e então as nuvens escuras apareceram anunciando a tormenta.
A chuva chegou junto com a noite, implacável. Assentei-me no chão, debaixo de uma árvore e vi passar o tempo, rogando a Deus que me ajudasse a sair daquela situação difícil. Não sei quanto tempo fiquei desse jeito, mas quando notei que a chuva tinha diminuído, reiniciei a caminhada em meio à escuridão e o barro. Estava completamente molhado, cansado, faminto e a esta altura, quase desesperado. "Você não pode parar, vai ter que continuar", repetia. "Você vai conseguir. Daqui a pouco você achará a aldeia, não pode é ficar aqui parado." Mas algo me dizia que tudo era inútil, que o melhor seria ficar ali e esperar a luz do novo dia. Ficar ali? Molhado como estava? Sozinho? E se alguma fera aparecesse? Era a primeira vez que me acontecia uma coisa assim. Eu não conhecia a selva. Tinha chegado da capital havia poucos meses. Senti que o medo estava tomando conta de mim e corri. Corri como um louco, como se alguém estivesse me perseguindo. A chuva molhava meu rosto, dificultando a visão, se é que se podia enxergar alguma coisa naquela escuridão. Foi aí que escorreguei e caí floresta abaixo, cinco ou seis metros talvez. Estava cheio de lama. Não existia mais trilha. Só a escuridão e a música infernal que a chuva produzia ao entrar em contato com as folhas e o chão. Eu não queria aceitar, mas estava perdido, completamente perdido. Tentei sair do buraco em que me achava. Segurei-me numa planta, mas esta desprendeu-se e tornei a cair na lama. Agarrei-me a um pequeno galho. Uma dor violenta obrigou-me a soltá-lo e acabei novamente na lama, com a mão cheia de espinhos. Tudo o que fazia era inútil, meus pés escorregavam na terra molhada e acabava sempre lá embaixo, no buraco e na lama. Fiquei algum tempo meditando em silêncio. De repente tive vontade de chorar. E chorei. Medo? Acho que já não sentia mais medo. Temor de alguma fera? Cansaço? Fome? Teria gostado que fosse por algum motivo semelhante, mas não era não. Olhando para trás vi que minha vida na igreja tinha sido como aquela noite. A vida toda tentando sair do buraco, a vida toda tentando viver à altura dos elevados princípios de minha Igreja, de cumprir os mandamentos e regulamentos e acabando sempre na mesma situação. Eu estava perdido em meio à Igreja, com todas as suas doutrinas na cabeça, cumprindo, de certo modo, todas as suas normas, mas estava perdido. E o pior de tudo: Havia dois anos que eu era um pastor. Como num filme, minha vida toda começou a desfilar ante meus olhos. Minha mãe havia conhecido o evangelho quando eu tinha apenas quatro anos de idade. Praticamente nasci na Igreja. Não lembro um dia que ela tivesse deixado de assistir aos cultos. Sábados, domingos e quartas, ela estava sempre ali com todos os filhos. No pequeno local onde se congregava o grupinho de 8 pessoas, havia um lugar especial em cima do púlpito para os Dez Mandamentos num quadro dourado. Era dever de todos saber de cor os mandamentos e guardá-los fielmente. 

Desde pequeno aprendi as normas da igreja. Não pode fumar,não pode beber, não pode dançar, não pode ir ao cinema, não pode ir ao campo de futebol, não pode. "Ó Deus", perguntava-me muitas vezes, "como é possível viver assim?" Em meu coração de adolescente sentia um estranho conflito. Sabia tudo que devia e não devia fazer, mas não conseguia viver à altura dessas normas e isto me tornava infeliz. Lembro que um dia um time profissional de futebol visitou a cidade onde eu morava. Meu irmão mais velho e eu saímos do Encontro J.A. e assistimos ao segundo tempo do jogo. Chorei naquele dia. Senti-me miserável. Achei que Deus teria que me destruir. Pensei que tinha perdido para sempre o direito de ir ao Céu. Aos 13 anos batizei-me e meu conflito aumentou. "Agora dizia para mim  — você é um membro batizado, você não pode cometer mais tolices!'  Mas alguma coisa estava sempre errada na minha vida mas eu não sabia precisar o quê. Cada vez mais orava e parecia que Deus estava muito longe. Parecia que Ele nunca iria me ouvir. Estudava a Bíblia por dever. Aos 15 anos terminei de ler "Mensagens aos Jovens" e senti-me mais pecador do que nunca. "Eu nunca irei para o Céu — pensava — é impossível alcançar um tipo de vida assim!' Só Deus sabe quantas vezes deitei-me na cama, sozinho, e ruminei meu desespero. Atormentava-me a ideia de um Deus sempre zangado, sempre pronto a me castigar, esperando sempre de mim o cumprimento de todas as Suas normas. Quando concluí o Segundo Grau, passei a estudar Teologia e meu conflito adquiriu dimensões maiores. "Você é um futuro pastor, você não pode errar mais, você tem que cumprir tudo, tudo!' Muitas vezes me assaltou o pensamento de abandonar não só o Curso, mas a Igreja e o lar paterno.

Hoje dou graças a Deus porque, de alguma maneira, Ele não me deixou fazê-lo. Formei-me aos 21 anos. Era o grande sonho de minha mãe e o meu também. Mas em lugar de ser feliz, sentia-me mais angustiado. "Deus! O que acontece comigo? — pensava — Por que esta sensação de que sempre estou errado, de que nada está certo?" A resposta não vinha, mas o conflito aumentava. "Agora você é um pastor — repetia para mim — você tem que ser um exemplo para a Igreja. Se alguém tem que cumprir todas as normas ao pé da letra é você" Como foram tristes os primeiros anos de meu ministério! Não que eu fosse um grande pecador. Meus pecados poderiam ser chamados de "suportáveis", Eram "pequenos erros". Mas eu sabia que para Deus não havia classificação de pecados, e isso me angustiava. O pior de tudo era que eu conhecia a doutrina de Cristo. Sabia de cor todas as doutrinas da Igreja. Os mandamentos de cor, centenas de versos de cor. Pregava de Jesus e voltava para casa triste. Sempre com aquela sensação de que alguma coisa estava errada. Deitava e levantava cada dia com as normas e os princípios na cabeça. Andava sempre pensando no que devia ou não fazer. A angústia não desaparecia. Deus foi muito bom comigo porque, apesar de 'tudo deu-me muitas almas para Sua Igreja nesses dois primeiros anos de ministério. Aquela noite, lá no interior da mata, molhado e cheio de lama, entendi, pela primeira vez, o que acontecia comigo. Eu estava perdido em meio duma amazônia de doutrinas, normas, leis e teologia. Perdido no meio da Igreja! Olhei para um lado e para o outro. Onde estava o Jesus do qual pregava? Estava lá, distante, atrás das nuvens. Na minha cabeça só havia teoria, normas e doutrinas. Chorei, chorei como uma criança, porque me sentia sozinho. Eu conhecia um nome, não uma pessoa, eu amava uma Igreja não o maravilhoso Senhor dessa Igreja, eu tinha comigo normas e regulamentos, mas não tinha a Jesus, e naquela hora não precisava de normas, não precisava de doutrinas, nem de uma Igreja, precisava de uma pessoa. Chorei aquela noite a tragédia de ter vivido sempre só, tentando sair do buraco e achar a trilha certa, mas acabando sempre na mesma situação, na lama e na desgraça.

A chuva estava passando "Um milagre — disse em meu coração — preciso de um milagre. Só um milagre poderá tirar-me daqui'.' E comecei a gritar com todas as forças de meu ser. Na selva, quando alguém está perdido tem que gritar. Se alguém ouvir seu grito, gritará por sua vez e assim ambos poderão se ajudar. De repente, pareceu-me ouvir uma voz distante. Gritei. Minha voz perdeu-se na imensidão da floresta e o vento me trouxe a resposta. Alguém estava gritando ao longe. Alguém estava lá. Continuei gritando e o grito foi se aproximando. Cada vez mais e mais. Pude perceber os passos e depois ver a silhueta de alguém. Ao chegar perto de mim, vi seu rosto. Era um índio. Estendeu-me o braço, segurou a minha mão e puxou-me. Era uma mão forte, cheia de calos. Puxou-me com firmeza até chegar lá em cima. "Quem é você" — perguntei. Não respondeu. "Como você se chama?" Silêncio, "De onde você veio?" A mesma resposta. Segurou-me o braço e começou a caminhar. Seus passos eram firmes. Em momento nenhum respondeu minhas perguntas. Andamos em silêncio algum tempo até chegarmos a certo ponto. Lá embaixo havia luz. Era o lugar que estava procurando. Estava a salvo. Deixei o índio e corri floresta abaixo, escorreguei e caí. Novamente ele estendeu-me o braço,  levantou-me e segurou-me até chegarmos à choupana de onde saía a luz.

O irmão João apareceu com uma tocha acesa.
— Pastor — exclamou — o senhor veio a esta hora! 
— Perdi a trilha — respondi, tirando a roupa molhada. Deitei-me perto do fogo e adormeci. Notei três coisas ao acordar na manhã de sábado. Minha roupa estava seca, perto do fogo; minha mochila estava um pouco mais além e havia mandioca para comer e chapo* para beber. 


Minutos depois chegou o irmão João. 
— Como foi que achou a trilha? — perguntou.
— Foi o índio — respondi.
— Qual índio?
— Aquele que estava comigo ontem quando cheguei.
João olhou-me intrigado e disse:
— Não tinha nenhum índio com o senhor.
Eu não disse nada. Dei meia-volta e desci até uma pequena cachoeira para me lavar. Ajoelhei-me ouvindo a música da água ao cair e o canto dos pássaros e disse em meu coração: "Senhor Jesus, agora
sei que não és uma doutrina, és uma pessoa maravilhosa. Como fui capaz de andar sozinho a vida toda?
Ó Senhor, agora entendo porque não era feliz. Estava faltando Tu. Quero amar-Te Senhor. Quero segurar sempre Teu braço poderoso. Sei que sem Ti estou perdido. Quero daqui para frente estar preocupado só em segurar Tua mão de amigo, quero sentir-Te a meu lado. Saber que não estás lá nos Céus, mas aqui, comigo. Hoje entendo o que estava faltando. Estava faltando Tu, Jesus querido!'

Desde aquele dia comecei a encarar a vida cristã, não como uma pesada carga de normas, proibições e regulamentos, mas com a maravilhosa experiência de caminhar lado a lado com Jesus. As doutrinas começaram a ter vida para mim. Tudo o que antes era opaco e sem cor começou a adquirir brilho. O maravilhoso brilho da felicidade. Nunca quis saber se aquele índio foi um índio verdadeiro ou foi um anjo. Não era isso que importava. Aquela noite aprendi a grande lição de minha vida. Sozinho estaria sempre perdido, sempre angustiado, sempre infeliz. Precisava da ajuda de um amigo poderoso.
Achei esse amigo em Jesus e por isso serei eternamente grato a Ti, ó Deus.


(*) Chapo — bebida de plátano cozido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Desde já obrigado pela atenção e carinho dispensados.

Uma Fé Extraordinária - John Harper

                                                              John Harper, a esposa e filha - Google Fotos. No livro “The Titanic's Last...