Ainda há muito desconhecimento sobre o funcionamento do serviço. Tanto que a Nielsen constatou que 60% dos cadastrados o abandonam no primeiro mês de uso. A explicação? Para especialistas, há mal-entendidos sobre o Twitter, criados pela falta de informações ou o mau uso, pura e simplesmente.
Criticado por conta da premissa original - a resposta à pergunta "o que você está fazendo agora?" - o Twitter cresceu, apareceu e se diversificou, principalmente ao abrir as portas a um mundaréu de criativos desenvolvedores que pintaram e bordaram na criação de extensões que tornam a experiência dos usuários a mais abrangente possível.
Que tal, então, conhecer um pouco mais sobre o Twitter e suas utilidades práticas? Vamos ao primeiro ponto: esqueça o website principal da rede. Ele é horrível e não revela as qualidades do serviço. Sem a instalação de aplicativos que abram as portas do mundo dos "tweets" (microposts de até 140 caracteres), o Twitter.com pode ser uma desagradável decepção.
Twitter se torna central de informações rápidas
O Twitter se transformou numa grande central de informações rápidas - sobre trânsito, entretenimento, notícias, repercussões de fatos importantes, troca de informações entre pesquisadores e de professores com alunos. É o caso de Sérgio Amadeu, sociólogo, doutor em Ciência Política pela USP e professor da Faculdade Cásper Líbero, que posta sobre palestras, cursos e aulas na universidade. Para ele, o Twitter é útil para acompanhar eventos aos quais não pode comparecer "fisicamente".
- Ele é muito útil na cobertura de acontecimentos, palestras, seminários e eventos em geral. Tenho acompanhado (seguido) alguns pesquisadores que estão em eventos nos quais eu não posso estar e troco informações com eles. Chego até a mandar perguntas, via Twitter, que eles fazem para os palestrantes lá na hora - conta Sérgio.
Para ele, outra utilidade é a criação de "trilhas", ligando pessoas a sites e blogs que discutam temas relevantes.
- Você aponta para um texto num blog ou site e em seguida pessoas que seguem uma trilha passam a discutir os assuntos, é como um chat ilimitado - diz.
A Nasa também descobriu utilidade para o Twitter. Engenheiros que trabalham em um robô que explora Marte, assim como especialistas que promovem experiências nos laboratórios da agência, têm usado a rede de microblogs para tornar públicas suas descobertas e, assim, trocar ideias com os interessados pelo assunto. Enquanto isso, o astronauta Mike Massimino, codinome "Astro Mike", que agora em maio iniciará uma viagem pelo espaço a bordo na nave Atlantis, já está usando o Twitter para compartilhar informações com colegas de equipe e curiosos. Hoje, Mike tem mais de 19 mil seguidores.
Emissoras de TV, agências de notícias e empresas de varejo descobriram no Twitter uma forma simples de interação com telespectadores e consumidores. Não à toa, a apresentadora americana Oprah Winfrey entrou na rede e imediatamente a audiência do site cresceu 43% nos EUA, de acordo com a consultoria Hitwise. Em apenas seis dias, Oprah ganhou quase meio milhão de seguidores, ou seja, pessoas que a incluíram em sua lista de "amigos" e passam, assim, a ter acesso direto aos textos postados lá por ela ou por sua equipe.
Curiosamente, algumas das primeiras companhias a darem conta do potencial da rede social foram os meios de comunicação tradicionais, que poderiam considerar o Twitter como concorrência. Notícias como a aterrissagem de um avião da American Airways no rio Hudson, em fevereiro deste ano, chegaram à rede de microposts antes de invadirem o noticiário das maiores emissoras de televisão. Algumas delas, como a CNN, têm várias contas no Twitter e grande número de seguidores.
Já para a loja virtual Amazon, o Twitter se tornou uma dor de cabeça, quando uma pequena revolução contra a empresa se desencadeou na rede de microposts. Isso porque, mês passado, um escritor americano descobriu que dois livros de conteúdo gay haviam desaparecido dos rankings da Amazon e denunciou o fato numa mensagem em seu Twitter, que conta com mais de 200 mil seguidores. O protesto se espalhou como pólvora. Resultado: a Amazon teve que corrigir rapidamente o erro de catalogação, que afetava nada menos 57 mil títulos, e atribuiu o fato a um problema técnico.
Enquanto isso, companhias como Starbucks, Whole Foods e Dell já analisam o Twitter para descobrir o que os fregueses estão achando de seus produtos, podendo, assim, adaptar suas campanhas de marketing à realidade de forma condizente.
Dell, Alerj, Starbucks... todos no Twitter
A Dell divulgou, por exemplo, que descobriu na rede que os clientes estavam reclamando que o apóstrofo e as teclas de retorno estavam próximas demais no notebook Dell Mini 9. Assim, a empresa consertou o problema no modelo seguinte, o Dell Mini 10.
Já o analista de sistemas e escritor carioca Cláudio Soares achou uma boa forma de adequar o Twitter ao seu trabalho: usá-lo como ferramenta para divulgar (e fazer) literatura. A rede já está sendo explorada como meio de divulgação de sites e blogs e, devido à facilidade de interação entre os usuários, como forma de construção de obras coletivas.
No caso de Cláudio, que tem uma lista de mil seguidores no Twitter, a ideia foi reeditar o livro "Santos Dumont número 8: livro das superstições", que existia no papel. Agora, o escritor está republicando pequenos trechos do livro.
Cláudio criou os perfis de oito personagens e, através deles, a história vai sendo recontada, já com as inserções feitas por quem segue a história no Twitter.
- Descobri que a rede social poderia ser um novo espaço para a criação de narrativas. Como o livro já usava a ideia do hipertexto, o Twitter foi útil para abrir a obra à conclusão do leitor, e a própria rede acaba fazendo parte da história. Assim, estou redescobrindo nos personagens características novas que acabam sendo apontadas pelos seguidores. A interação acaba dando novos contornos ao livro - diz Cláudio.
Para a Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj), o Twitter tornou-se um caminho para aproximar o cidadão dos parlamentares. Através do www.twitter.com/alerj é possível acompanhar, em tempo real, todas as seções na plenária, via microposts publicados pela equipe da entidade.
Com a criação de milhares de aplicativos, a rede se expande e fica com a cara dos usuários. Um exemplo simpático do que é possível? O Twitrânsito www.twitter.com/twitransito , que pretende ajudar a espalhar informações sobre o trânsito em cidades como Rio e São Paulo.