domingo, 28 de outubro de 2012

28 de outubro - Dia Nacional do Flamenguista 2012


Hoje o dia nasceu preto e vermelho, ávido de alegria e fervor, exausto de lamurias, quente como alguém que não comunga com o medo. Hoje nossa farda é encarnada e negra expressando a alegria de ser rubro-negro. É o dia, dia da paixão, da crença no impossível, dia da gana,  da luta e  do suor. Dia dos que acreditam sempre, dia de um lado do Rio, porque o outro é fúnebre, ignorante e carente de amor.

Ser Flamengo é antes de tudo um estado de espirito, um jeito simples de amar, viver e buscar sempre, mesmo que o quê se busca esteja muito distante, quase perto de Deus.Sim, porque quando amamos, enxergamos o divinal num estado de alegria vislumbramos a eternidade, sonhamos com o triunfo de toda luta. A perfeição mora naquela arquibancada rubro-negra, nossos gritos são uníssonos, nossos desejos são únicos, nossa religião é uma só, nossa cor é a mesma, nosso amor é único e inteiro. Ali não há condição social, somos um só coração pulsando o mesmo sangue, numa mesma batida, rumo a vitória.

Flamengo eu te amo, hoje e sempre. Sempre te amarei, por "onde for eu irei, onde estiver, estarei". Quando for o tempo de  descansar, aos domingos me levantarei, às 17:00, ao som de teu hino, aos gritos de "Mengão do meu coração". Porque o meu amor por ti é maior que a morte!

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Motivação - Quem é dono de quem?


Outro dia ouvi alguém dizer: "Motivação é dinheiro na mão". Engraçado... Conheço tantas pessoas com muito dinheiro, e que estão pouco motivadas para a vida. Conheço tantas outras que estão sempre no limite de seus orçamentos mensais, mas continuam motivadas e prontas para dar o seu melhor...

É que existe uma confusão na cabeça das pessoas. Poucas entendem que falta de dinheiro pode desmotivar, mas que muito dinheiro não é obrigatoriamente sinônimo de motivação. Responda-me com toda sinceridade: se uma pessoa está descontente com seu trabalho, em um ambiente onde os relacionamentos são ruins, a cobrança é grande e o reconhecimento inexistente, será que é um aumento que irá fazer esta pessoa ter uma vontade incontrolável de trabalhar e alcançar os objetivos da empresa? É claro que não...

É bem verdade que, por outro lado, o dinheiro e uma remuneração adequada são muito importantes, porque ninguém consegue se concentrar em um trabalho pensando em como vai sobreviver até o final do mês. Além disso, uma remuneração adequada também é uma forma de reconhecimento.

Mas precisamos derrubar a crença errada de que é o dinheiro é o que motiva. O que realmente nos faz sair do lugar, realizar um trabalho invejável e alcançar voos mais altos é uma energia que vem de dentro. Mobilizar esta energia é uma arte e poucos líderes sabem fazê-lo.

Mobilizar esta energia passa por estimular as pessoas a descobrirem algumas coisas importantes:

1) Todos devemos ter uma missão

Assim como as empresas possuem uma missão, todos nós devemos saber qual é a nossa. Por que saímos para trabalhar todos os dias? Queremos só pagar nossas contas e estamos contribuindo com nossa parte, reconhecendo-a como essencial nos resultados que a empresa pretende atingir? E mais: qual nossa missão para construção de uma sociedade mais justa? Como estamos fazendo a diferença neste mundo?

2) Somos insubstituíveis

Outra crença errada: ninguém é insubstituível... Desculpe discordar, mas quem pode me dizer que substituiria Einstein, Madre Tereza, Gandhi, Ayrton Senna, Picasso, Beethoven ou Os Beatles?

Cada um de nós é único, e exatamente por isso, insubstituível. Mas para que as pessoas que convivem com a gente percebam isso precisamos dar o nosso máximo. Buscar dentro do nosso coração a força motriz que nos impulsiona na direção do melhor que podemos ser sem se preocupar em impressionar ninguém. Alcançar esta consciência é um dos passos para se atingir o "Ponto de Transição" que nos leva de pessoas comuns a pessoas extraordinárias.

3) Recompensas são consequências e não causas

Quando damos o nosso melhor, e assim mostramos que somos capazes de surpreender, é natural que o reconhecimento aconteça, simplesmente porque as empresas não querem (e não podem) perder grandes talentos.

Quanto custa para uma empresa substituir um profissional ou correr o risco de perder alguém que realmente faz a diferença? Muito caro... Muito mais caro do que um aumento considerável para manter este profissional motivado em seu quadro.

Mas perceba que neste caso, o dinheiro é consequência e não a causa que gerou a motivação. Ele é resultado do seu esforço não medido para realizar sua missão, de se fazer perceber como alguém insubstituível e de mudar sua forma de ver seu trabalho e o mundo. E então, quando contrariar discursos padronizados como "Motivação é dinheiro na mão", você perceberá que não precisará mais se preocupar com isso.

Quando descobrirmos que o reconhecimento não é a causa, mas o resultado do nosso trabalho, poderemos olhar para o dinheiro e dizer bem alto para ele:

- Entendeu quem é dono de quem?

sábado, 20 de outubro de 2012

Linha 4 do metrô do Rio - O Tatuzão.

foto revista VEJA
Uma das obras mais esperada pelos moradores da cidade do Rio de Janeiro, finalmente vai sair do papel. Não era sem tempo, desde adolescência que espero, a partir da inauguração do Barra Shopping (26 de outubro de 1981) que esperamos um transito melhor para a Barra da Tijuca, zona oeste. A obra já está atrasada, pelo menos uns 6 meses, mas isso é normal em se tratando de uma obra que envolve politica.

Para construção o governo do Estado deve gastar junto com Concessionária Rio Barra, responsável pelas obras da Linha 4 do Metrô (Barra da Tijuca - Ipanema) uma bagatela de R$ 120 milhões só no Tatuzão.
O tatuzão vai perfurar os túneis subterrâneos da Linha 4 do Metrô de Ipanema à Gávea . Apesar do tamanho, o grande diferencial do “tatuzão” é que ele é discreto. O equipamento consegue escavar o túnel do metrô sem explosões, sem fazer buracos na rua e, principalmente, sem que a população perceba o que está acontecendo 12 metros embaixo da terra.



A entrega oficial do equipamento aconteceu na fábrica Herrenknecht - Tunnelling Systems, localizada em Schwanau, na Alemanha, com a presença do secretário de Estado da Casa Civil, Regis Fichtner, e representantes da RioTrilhos e da Concessionária Rio Barra.

A chegada do Tatuzão ao Brasil está prevista para o início de 2013. O equipamento será montado de março a agosto de 2013, quando deverá entrar em operação, partindo da Estação General Osório em direção à Gávea.

Com 2 mil toneladas e 120 metros de comprimento por 11,5 metros de diâmetro (o equivalente a um prédio de quatro andares), o Tatuzão escava de 15 a 18 metros de túnel por dia, quatro vezes mais rápido que os métodos utilizados anteriormente no Rio de Janeiro.

Ao mesmo tempo em que abre o buraco do metrô, o “tatuzão” instala os anéis de concreto que formam o túnel. Esse sistema aumenta a segurança porque a cratera não fica sem sustentação.

A Linha 4 do Metrô do Rio de Janeiro (Barra da Tijuca – Ipanema) vai transportar, a partir de 2016, mais de 300 mil pessoas por dia e retirar das ruas cerca de 2 mil veículos por hora/pico. Com a nova linha, o passageiro poderá utilizar todo o sistema metroviário da cidade com uma única tarifa.

Fonte: JB

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Paulo César Vasconcellos. - O comentarista.



Pensei que só eu não gostasse dos comentários do PC Vasconcelos do Sportv, costumo baixar o volume da TV quando não tem como mudar o canal. Ele é critico demais e costuma sintetizar demais a partida de futebol, que naturalmente tem nuances e variações. Não devia ser tão cruel com o jogo!. Minha mulher vive me dizendo pra enviar um Email critico pro canal Sportv,  mas sempre penso:"deve ser uma cisma minha, afinal não somos obrigados a gostar de todo mundo".

Pra minha surpresa descobri que não somos só nós lá em casa a sentir "gastura" com os comentários desse língua queimada. Tem mais gente! Durante o jogo Fluminense 2 x 2 Grêmio choveu pra cima dele, pelo Twitter, uma torrente de críticas. O homem incomodou a vários boleiros que acompanhavam a partida.

 Betão, ex-Corinthians e Santos, atual zagueiro do Dínamo de Kiev, foi o primeiro a cornetá-lo por meio de seu perfil no Twitter: "se pudéssemos comentar o trabalho de alguns comentaristas, assim como eles comentam o nosso... Vou te falar viu, cada comentário!!"

Três minutos depois, foi a vez do pentacampeão Roberto Carlos, outro que teve passagem recente pelo Timão, criticar o comentarista: "este paulo cezar vasconcelos comentando fluminense e gremio e ruim! Meu Deus kkk! Nao. Sabe nada!", escreveu.

"Eu acho que tem que ter comentaristas que jogaram bola isso sim!", acrescentou, Roberto, tendo a concordância do ex-colega de seleção, Rivaldo, que a seu lado também faturou o penta em 2002.

A mensagem de Rivaldo a Roberto Carlos foi retuitada por Betão e outro pentacampeão, o ex-volante Edmilson, também resolveu entrar na conversa: "meu irmão o nível ta ruim".

Ronaldo Soares Giovanelli, ex-goleiro do Corinthians e atual integrante do programa Jogo Aberto, da Band, foi outro a se divertir com o comentário de Roberto Carlos, soltando um "kkkkkkkkkkkkkkk".

Roberto, então, o escreveu: "irmao eu nao aguento esses comentaristas! Por isso coloco musica!. O melhor ta agora os comentarios das jogadas ensaiadas! Ele falando kkkkkkk!", tripudiou de PC Vasconcellos, Roberto Carlos, em nova mensagem ao amigo Ronaldo.


Não sei da competência dele nos demais afazeres da sua carreira, deve ser um bom jornalista, mas como comentarista de futebol é de doer, de mudar o canal!!

Fonte:Por Rogerio Jovaneli | TV Esporte Blog
PC Vasconcelos é atualmente como chefe de redação e comentarista, antes, trabalhou nos periódicos Jornal do Brasil, O Globo, Última Hora e Lance!, na Rádio Nacional e na ESPN Brasil, sempre no Rio de Janeiro.
Um dos programas de que participa é o Bem, Amigos, apresentado por Galvão Bueno nas noites de segunda-feira, o Redação Sportv e eventualmente o Troca de Passes.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Atacando o bullying - ajudando seu filho.




Por Renata Cattaruzzi (Revista Men´s Health)

Claro que educação não pode faltar, todo os valores são importantes. Mas estar presente na vida do filho é fundamental. Paternidade principalmente, a jornalista Renata Cattaruzzi da Revista Men´s Health chamou de "repelente de bullying. Abaixo as dicas:

Matricule-o em aulas de artes maciais
O maior poder de caratê, kung fu e disciplinas afins não vem de chutes laterais e chaves de braço. Lutas esportivas ensinam muito sobre confiança e respeito. Após semanas de aulas, a criança começa a se conduzir de forma diferente tatame afora. Anda mais ereta e autoconfiante, e interage com maior desenvoltura. “Em resumo, ela deixa de ser alvo fácil”, diz Jeffrey Bernstein, psicólogo infantil da Filadélfia (EUA).

Afie o repertório dele
Outro repelente de bullying bastante eficaz é o senso de humor. “O perseguidor escolar não consegue se alimentar de energia leve”, afirma Bernstein. Armar seu filho com respostas à la Bart Simpson pode ajudá-lo a desarmar um grande conflito em potencial.

Incentive a socialização
“A criança precisa de um grupo de amigos leais para apoiá-la quando sofrer bullying”, diz Michael Grose, australiano autor de oito livros sobre paternidade e colunista de jornais e revistas. Ela também fica menos propensa à perseguição se não for aquele tipo solitário, que se isola no pátio da escola. Ajude seu filho a achar caminhos para lidar com a introspecção. Incentive-o, por exemplo, a chamar amigos para irem brincar na sua casa.

Averigue um mea-culpa
Se seu filho tiver um hábito incomum, como cantar em sala de aula – o que, convenhamos, não é agradável -, pode ser perseguido por isso. Oriente o guri a ser mais prudente e a perceber melhor a relação: eu, o espaço e o outro. Também vale pensar em levá-lo a um terapeuta.

Compartilhe o problema
Vá à escola. “Situações de bullying também podem ser tratadas junto à instituição”, afirma Ana Merzel Kernkraut, coordenadora do serviço de psicologia do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. A direção da escola está mais perto do problema, e pode interferir com assertividade.

Dê exemplo
“Se a criança vê brigas constantes em casa e agressividade entre os pais, inconscientemente vai achar normal ter atitudes violentas com colegas”, explica Ana Lúcia Gomes Castello, psicóloga do Hospital Infantil Sabará, em São Paulo. Lembre sempre: seu filho se espelha em você.

Palavra de especialista
As dicas desta reportagem foram pensadas junto a Carlos Eduardo Carrion, psiquiatra de Porto Alegre, consultor da MH e membro da Associação Brasileira de Estudos sobre a Impotência.

Acerte quando o papo é sexo

Gafes comuns na conversa do pai com os filhos. Evite-as

Fazer piada machista com a esposa na frente do filho
É tanta intimidade que isso rola de um jeito inocente e divertido na visão de vocês. Mas se policie para não fazer na frente da prole. Na infância, o garoto aprende a respeitar uma mulher, a virar um gentleman. Você é o maior espelho dele.

As 10 carreiras que mais causam depressão.


O site da revista Health listou as 10 profissões que são mais propensas que seus profissionais tenham depressão, ocasionada por estilos de vida incomuns e estressantes. Para a conselheira de saúde mental e PhD, Deborah Legge, há certos aspectos que apontam que qualquer trabalho pode contribuir para exacerbar a depressão. “Porém, pessoas que trabalham com cobranças e tensão têm maiores chances de desenvolver a doença do que, por exemplo, pessoas que trabalham com gestão. Às vezes, os profissionais não se dão conta que estão doentes e que precisam de ajuda”, disse Legge.

Assistentes sociais
Não é surpresa constatar que os assistentes sociais estão entre os cargos com maiores chances de depressão. Lidar com crianças vítimas de abuso ou abandono e famílias à beira de inimagináveis crises e combinar essas situação com muita burocracia pode deixar qualquer profissional estressado.

“É errado cultivar uma cultura que dita sacrifícios emocionais em pró de um bom trabalho”, diz Willard. Isso se aplica, principalmente, com os assistentes sociais, que trabalam com pessoas carentes e se sentem presos ao próprio trabalho, por achar que não estão dando o máximo de si. É uma pressão muito grande atribuir ao seu trabalho sentimentos como tristeza, dor, felicidade, culpa.

Profissionais da saúde
Médicos, enfermeiros, terapeutas, fisioterapêutas e outros profissionais da área da saúde. Essas carreiras exigem longas e cansativas horas de trabalho e nos mais improváveis horários, tudo com muita atenção e cuidado. Além de atingir o físico, esses profissionais estão constantemente colocados em situações extremamente emotivas, em que vidas de outras pessoas estão em suas mãos, literalmente.

Em outras palavras, o estresse e a pressão sempre desafiará seu bem estar. “Todos os dias eles estão lado a lado com doenças, traumas e mortes, além de lidar com membros da família dos pacientes. Isso pode gerar uma triste perspectiva, que todo o mundo é assim”, lembra Willard.

Artistas e escritores
Essas carreiras podem trazer contracheques irregulares, horas incertas e isolamento. Muitos diriam que pessoas criativas são menos tristes, mas pense se as mesmas não conseguem ter inspiração? De acordo com a publicação, houve um aumento de 9% dos profissionais da área que relataram problemas com depressão, em relação ao ano passado. “O que mais eu vejo é bipolariedade entre os artistas. A depressão é comum para aqueles que trabalham com artes, pois seu estilo de vida contribui para isso”, afirma Legge.

Professores
Muitos professores trabalham em mais de uma ou duas escolas e ainda levam trabalho para casa. Em outras situações, eles aprendem a fazer muito com pouco recurso e tempo. “Há pressão para dar um bom ensino as crianças. Seus pais e escolas cobram do professor o cumprimento de normas e de demandas diferentes”, considera Willard. Para ele, as constantes cobranças podem fazer os profissionais esquecerem da razão de ter escolhido a área.

Profissionais de apoio administrativo
Pessoas dessas áreas, que incluem secretárias e atendentes, sofrem de um caso clássico: alta demanda, baixo comando. Eles estão na linha de frente, recebendo ordens de todas as direções, tanto dos clientes quanto dos patrões. Ainda, são normalmente mal-remunerados e se sentem inferiores por não ter poder para fazer além. Antes de duvidar do estresse causado por essa carreira, conte quantas vezes você já ouviu de algum atendente ou secretária a frase “isto não está ao meu alcance. Poderei lhe encaminhar para o gerente, aguarde”.

Além disso, não são reconhecidos por seu trabalho e ainda precisam contornar educadamente qualquer crise de seus patrões ou consumidores.

Profissionais de manutenção
Como iria se sentir caso apenas fosse procurado quando algo der errado? Isso é essencialmente o “ganha-pão” dos profissionais de manutenção, como encanadores, pintores, eletricistas, entre outros. Eles também têm de trabalhar horas incomuns, pois para atender a demanda, precisam ser rápidos e acessíveis, senão perdem para a concorrência.

Ainda, ganham pouco e fazer trabalhos cansativos. “Em termos de colegas de trabalho, eles são isolados, e isso pode ser um trabalho um tanto solitário”, pontua Willard.

Consultores financeiros e contabilistas
A frase “tempo é dinheiro” se coloca perfeitamente na situação. A maioria das pessoas não gostam de lidar com seus próprias finanças, então imagine lidar com milhares ou até milhões de outras pessoas? “Há grande responsabilidade em cuidar de finanças que não são suas e, ainda por cima, o profissional não tem controle do mercado. Nem sempre é sua culpa, mas mesmo assim, os clientes perdem dinheiro e eles provavelmente tirarão satisfações tão pouco educadas com esses profissionais”, ressalta Legge

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

A Morte do Partido dos Trabalhadores?


“O fim justifica os meios? Essa doutrina contraditória, psicologicamente inconcebível, foi malignamente atribuída aos jesuítas pelos seus adversários protestantes – e às vezes católicos – que, por sua vez, pouco se preocupavam com escrúpulos na escolha dos meios para atingir seus próprios"fins" (...) Por sua vez, os jesuítas, rivalizando com os protestantes, adaptaram-se cada vez mais ao espírito da sociedade burguesa e dos três votos – pobreza, castidade e obediência – conservaram apenas o último, ainda assim de forma bastante atenuada. Do ponto de vista do ideal cristão, a moral dos jesuítas caiu tanto mais baixo quanto mais eles cessaram de ser jesuítas. De guerrilheiros da Igreja passaram a ser burocratas e, como todos os burocratas, uns pilantras de primeira.".(Leon Trotsky)*
Reler os clássicos quando estamos diante de acontecimentos que sugerem mudanças de dimensões históricas é uma das tradições da esquerda que se perdeu, mas que devemos recuperar. A epígrafe de Trotsky remete a dois dos temas candentes da conjuntura brasileira: a relação entre os fins e os meios para uma estratégia socialista, e os processos de adaptação social e deformação política de organizações que se transformam no contrário do que pretendiam ser quando constituídas.
Trotsky admite que a Companhia de Jesus nasceu como uma resposta medieval à Reforma Protestante, portanto, historicamente, reacionária,  porém, com o tempo, se adaptou às pressões sociais do capitalismo. Os jesuítas, até para permanecer no Vaticano, deixaram de ser jesuítas. O processo de evolução histórica do PT chegou, também, a uma encruzilhada: para se credenciar como um partido eleitoral resignado aos estreitos limites do regime democrático-liberal no Brasil, ao longo dos vinte anos que nos separam do fim do regime militar, o PT precisou deixar de ser petista. Renegar a sua origem foi um processo de readequação política, mas, também, de transformismo social, uma ruptura com as bases sociais de sua constituição apoiado na CUT e no MST.
São dois, também, os argumentos deste artigo. O primeiro é a constatação inescapável, mas que encontra previsíveis resistências, de que a crise do PT é terminal. O segundo é a defesa da luta contra a corrupção como uma bandeira democrática incontornável do programa da revolução brasileira, tema polêmico, portanto, vital, para a reorganização sindical e política em curso, com o colapso da CUT e do PT. Estas duas premissas se articulam para defender que a esquerda anti-capitalista não pode hesitar diante da luta para derrubar o governo Lula, convocando para manifestações nas ruas, onde os setores de massas em ruptura com o PT poderão, como cunhou Lênin, marchar “votando com os pés”.
Estamos diante de uma nova etapa histórica. Afinal, já foram dez os presidentes eleitos e derrubados na América Latina – por mobilizações de massas operárias e populares, não por golpes militares pró-americanos, como na seqüência da revolução cubana - depois do fim dos anos oitenta, expressando a fragilidade da democracia-liberal no continente. Não sabemos se os novos ventos dos Andes já desceram a cordilheira. O desafio, no entanto, está colocado: construir uma oposição de esquerda que ofereça uma saída para a crise do PT, da CUT e da UNE, para vencer a confusão e a prostração, que são a ante-sala do grande perigo da desmoralização. O que nos devolverá à discussão sobre os fins e os meios.
Capitalismo e corrupção
Recordemos, para começo de conversa, o que a história e o marxismo nos deixaram como fundamentos “graníticos” sobre a corrupção. Nunca existiu capitalismo sem corrupção. Capital e Estado estiveram sempre unidos através das mais variadas cumplicidades. Desde o alvorecer das pioneiras Repúblicas italianas, quando a Europa recuperou ao Islã o controle das lucrativas rotas comerciais do Mediterrâneo, passando pela conquista da América pelas Coroas ibéricas, sem esquecer os quase cento e cinqüenta anos de disputa entre Londres e Paris pela supremacia no mercado mundial: a corrupção estava lá, em todos os portos, em todos tribunais, em todas as Cortes, em todas as línguas. A corrupção nunca foi privilégio dos latinos, nem dos chineses, nem dos árabes. Desde o século XIX falou, sobretudo, o latim moderno, o inglês.  Comprando favores, deslocando concorrentes, driblando as leis, subornando autoridades, obtendo cargos. A força do dinheiro abrindo as gavetas do poder, e o domínio do Estado favorecendo os cofres da riqueza.
Quando argumentamos que capitalismo e corrupção sempre caminharam de mãos dadas, muitos nos perguntam se a corrupção não seria inevitável em qualquer sociedade, porque, afinal, ninguém ignora que tanto na URSS, quanto na China, as burocracias estatais se regozijavam em privilégios driblando as suas próprias leis.  A corrupção não seria expressão das incoerências sombrias da natureza humana? Os socialistas defendem que não existe fatalismo na condição humana que nos condene a corrupção. Assim como existiram sociedades que desconheceram a exploração do homem pelo homem, ignoraram a corrupção. A corrupção é uma doença econômico-social, e se explica em função de circunstâncias históricas.
A percepção de que, no Brasil, a apropriação privada do Estado pelo mundo dos negócios teve sempre na sua raiz a impressionante desigualdade econômica e social, é chave para mantermos o sentido das proporções diante do colapso do PT. Ao se transformar, a partir de 1988, em um partido que se credenciava para a gestão do Estado sem ameaçar o capitalismo, o PT selou o seu destino. Um programa de adaptação política a um capitalismo que não cresce, em uma sociedade em que a desigualdade não deixa de aumentar, e na qual a mobilidade social vem diminuindo há um quarto de século, ou seja, um reformismo sem reformas, não poderia evitar a degeneração metodológica e ética. Ensina a sabedoria oriental que o peixe morre pela boca. Já o Padre Antonio Vieira dizia que o peixe apodrece pela cabeça. O marxismo alerta que a cabeça não é imune à pressão do chão que os pés pisam.
O PT escolheu um caminho de social democratização que já tinha sido trilhado na América Latina por muitos outros, até por organizações que encabeçaram revoluções democráticas, como os sandinistas. Se, mesmo os partidos que se formaram na severidade das condições da luta armada contra ditaduras – como a FSLN, os Tupamaros ou a Farabundo Marti – quando aceitaram se transformar em partidos eleitorais, se descobriram vulneráveis diante da pressão política e social da democracia liberal, parece inescapável que o PT, que já nasceu como um partido eleitoral, seria presa fácil da corrupção endêmica do Estado brasileiro. Era, no fundo, só uma questão de tempo, para que o PT evoluísse do financiamento legal dos monopólios – em prática desde 1994 - para um sistema de caixa dois – a exemplo dos partidos tradicionais - e, depois, para a transferência de recursos arrecadados para os partidos aliados, o sistema de mensalão para assegurar maioria no Congresso, culminando com o enriquecimento ilícito dos seus burocratas.
O domínio do Capital sempre foi a associação legal e ou ilegal, portanto, sempre ilegítima e imoral, da riqueza com o poder. Todos os partidos comprometidos com o regime democrático-eleitoral e, por isso, financiados pelo capital, foram aliciados, em todos os tempos e lugares, pela força do dinheiro. Nos últimos cem anos, à escala mundial, a imensa maioria dos instrumentos da representação política dos trabalhadores, no centro ou na periferia, quando se consolidaram regimes democráticos, foram absorvidos pela pressão do eleitoralismo. A social democracia européia antes da I guerra, ou os partidos eurocomunistas depois dos anos 60, muito antes do PT, confirmaram que é difícil, politicamente, e complexa, social e organizativamente, a construção de reservas ou filtros de imunidade diante da pressão de forças sociais hostis. Degeneraram, absorvendo além dos métodos do eleitoralismo, os seus vícios. Seus dirigentes, fossem do SPD na Alemanha e do Labour na Inglaterra, ou do PCF na França e do PCI italiano, experimentaram, primeiro nos parlamentos, depois com o ministerialismo, um processo de ascensão econômica e acomodação social irrecuperável.
Adaptação política e degeneração burocrática
Admitamos, contudo, que os privilégios dos aparelhos social-democratas foram a ante-sala de aberrações ainda mais graves. Não bastassem as desprezíveis excentricidades da burocracia russa, como a coleção de automóveis de Brejnev, ou a cômica sucessão de tipo monárquico, em nome do socialismo, do regime totalitário na Coréia do Norte, a esquerda do século XX viveu a degradação do assalto dos sandinistas às mansões na Nicarágua. Pressões sociais em sociedades desiguais nunca devem ser, portanto, subestimadas: os que se deixam confundir politicamente, assimilam os métodos da política burguesa – em que tudo são mercadorias, incluindo o voto – e, finalmente, se rendem a um modo de vida de ostentação. É o que confessam os principais líderes petistas quando, de maneira até grotesca, invocam absolvição porque estavam agindo de acordo com as “regras do jogo”.
Mas, agora, o PT morreu. Morreu, comparativamente, como o estalinismo morreu com a queda do muro de Berlim. Está acontecendo o que os dialéticos denominam o salto de quantidade em qualidade. Quando o publicitário que criou o Lulinha paz e amor confessou seus pecados, ironia da história, enfiou uma adaga no coração do PT. O enquadramento histórico parece incontornável, sob pena de qualquer análise sucumbir aos impressionismos de conjuntura. Só uma perspectiva mais ampla permitirá explicar como o partido político que foi a expressão eleitoral do movimento operário sindical e da maioria dos movimentos sociais brasileiros nos anos oitenta, se transformou, a partir de sua mais alta direção, irrecuperavelmente, neste espantoso amálgama de arrivistas e vigaristas.
O tema da burocratização dos partidos de trabalhadores assalariados em sociedades urbanas permanece um fenômeno polêmico. Ao analisar a socialdemocracia de cem anos atrás, Lenin recorreu ao conceito de aristocracia operária para tentar explicar a crescente diferenciação social no mundo do trabalho na passagem do século XIX para o XX, e tentar compreender porque uma maioria das bases sociais e eleitorais da socialdemocracia apoiou seus respectivos governos, quando do início da guerra de 1914. No entanto, é menos lembrado que Lenin previu que esse apoio seria efêmero, mesmo entre os setores da classe trabalhadora que obtiveram concessões na etapa histórica anterior. A aristocratização de um segmento da classe operária era compreendido pela esquerda marxista como um fenômeno, essencialmente, econômico e social, enquanto o agigantamento do aparelho sindical e das frações parlamentares absorvidos pelo Estado, era discutido como um processo, essencialmente, político-social. Aristocracia operária e burocracia operária não eram identificados como o mesmo fenômeno social, porque a aristocracia, um conceito relativo às condições materiais e culturais de existência da classe trabalhadora de cada país. Permanecia sendo um setor de classe, ainda que privilegiado, enquanto a burocracia sindical e parlamentar dos aparelhos socialdemocratas seria uma casta exterior ao proletariado. A experiência do PT e da CUT é uma confirmação quase caricatural deste prognóstico.
Crise terminal do PT e enfraquecimento do governo Lula
Estamos há dois meses diante de duas crises que, não sendo iguais, correm paralelas e são indissociáveis: a crise terminal do PT e a crise política do governo Lula. O PT, tal como foi nos últimos vinte e cinco anos, não poderá resistir. Estamos acompanhando uma revolução mental na cabeça de milhões de trabalhadores e jovens, um processo de importância histórica. O PT poderá, talvez, subsistir como um partido eleitoral, ainda assim, se expulsar grande parte da sua direção histórica, mas nunca mais poderá ocupar o papel que teve junto aos setores organizados das classes trabalhadoras e aos movimentos sociais. Será um partido eleitoral com outra base social. Enganam-se aqueles que subestimam a atual crise do petismo. O desmoronamento da autoridade do PT – em menor medida, do próprio Lula – que se aguentou na corda bamba nos primeiros trinta meses de governo, mesmo se com uma política anti-popular, tende a ser vertiginoso.
O que não impede que as parcelas mais atrasadas, desinformadas e, sobretudo, desorganizadas da população, aquelas que foram as últimas a girar eleitoralmente para o apoio a Lula, possam continuar exprimindo durante alguns meses, ou até mais tempo, intenção de voto em Lula para 2006. Foram os últimos a se deslocar para o apoio a Lula, porque nunca tiveram referência no PT ou, de resto, em qualquer partido, e serão os últimos a romper. Esse processo profundo e mais lento não será, contudo, relevante para o destino do PT. O futuro do PT está sendo decidido nas grandes fábricas, como nas montadoras e nas siderúrgicas, nas refinarias da Petrobrás, nas Universidades, entre as classes médias de alta escolaridade e baixos salários, enfim, nas grandes cidades e nos movimentos sociais que sempre foram a sua retaguarda social.
Já o governo Lula ainda não acabou – não se sustentava somente no PT - embora esteja muito fragilizado. Dependeu nestes trinta meses do apoio do imperialismo, da banca, das empreiteiras, da mídia, enfim, das instituições, como o Congresso, o judiciário e as FFAA, embora não fosse a opção preferencial da burguesia nas eleições de 2002. A sua manutenção, mesmo se agônica, na forma de um governo Palocci/Lula interessa às forças sociais e políticas comprometidas com a preservação da ordem. Não surpreende que estejam atarefadíssimas na articulação de um “acordão” que poupe Lula - e o próprio congresso - de um impeachment, da posse de Alencar ou de eleições antecipadas. Entretanto, a crise permanece aberta. O Governo Lula/Dirceu/Palocci dos últimos dois anos e meio não existe mais. O governo Lula vive, por suposto, uma profunda crise política desde que se precipitou a denúncia de que o PT teria transferido fundos para os partidos de aluguel como o PL, PP e PTB, reconhecidas pelo próprio Roberto Jefferson como mercenárias, e que lhe garantiram uma maioria no Congresso Nacional, como aliás já faziam para o governo FHC.
Não é segredo para ninguém bem informado que há muitos anos, pelo menos de 1994, o PT tem financiado as suas campanhas com milionárias contribuições dos principais monopólios brasileiros. Mas, apesar destas evidências, a direção do PT manteve a imagem de sua integridade moral intacta diante da maioria de suas bases sociais. Argumentava que aceitar o dinheiro das grandes corporações era parte das “regras do jogo”, ou seja, que os fins justificavam os meios.
As denúncias do “mensalão” poderão ser, contudo, decisivas para confirmar o que já se suspeitava há muito: (a) que o PT mantém, também, a exemplo dos partidos burgueses, um caixa dois para financiamento eleitoral; (b) que o PT, quando no Governo federal – e por que não, quando nos estados e municípios? - favoreceu empresas privadas, como as empreiteiras que concorrem pelos contratos milionários de arrecadação de lixo, ou as publicitárias, em licitações públicas; (c) que ocorreram desde 1988 dois processos simultâneos e indivisíveis: profissionalização de um aparelho de vários milhares de quadros que fazem um rodízio nacional pelos cargos de prefeituras e administrações estaduais, associado ao enriquecimento ilícito de uma parte de sua direção.
A questão decisiva para a esquerda anti-capitalista social e política é ajudar a unir estas duas crises que correm em ritmos diferentes: fazer que a perda de confiança na CUT e no PT se transforme em ruptura política como o governo Lula. Ajudar os milhões que formaram ao longo dos últimos vinte e cinco anos a base social do petismo a ir além da tristeza e do desânimo, e construir uma mobilização que traga um setor de massas, no início, um setor mais avançado e, possivelmente, mais jovem, para as ruas. O que não avança, retrocede. Já sabemos que, se não houver pressão popular, a crise se resolverá por dentro das instituições com algumas cassações de deputados - e com algumas, poucas, expulsões do PT - e Lula procurará relocalizar seu governo diante da burguesia prometendo a reforma política, a sindical, e a jóia mais cobiçada de todas, a reforma trabalhista.
Não há porque temer a debilitação do governo e, se possível, a sua derrubada. O governo Lula não é um governo de esquerda. Quem o disse foi ninguém menos ... do que o próprio Lula. Praticou o maior superávit de orçamento da história do país: até o fim de 2005 transferirá mais de R$150 bilhões para os rentistas dos juros da dívida interna, sacrificando a educação e a saúde pública. Não há quem duvide que Serra não poderia ter feito a Reforma anti-popular da Previdência que Lula fez. O governo Lula é um governo socialmente burguês, economicamente neoliberal, politicamente reacionário.
A natureza do governo Lula alimentou, contudo, inúmeras confusões na esquerda. O marxismo se distingue como corrente teórico-política, justamente, pelo esforço de fazer caracterizações sociais dos fenômenos políticos. Grande parte da intelectualidade petista, e a esquerda do PT - o próprio MST - invocaram a fórmula elíptica de um governo em disputa, um híbrido social. Mas, com o tempo, ficou claro que a mão pesou demais. É muito razoável reconhecer que todo governo pode ter uma ala esquerda, no sentido de que o ministério pode ser heterogêneo, porém, finalmente, há uma dinâmica que se impõe. O governo Lula não permite paralelo, por exemplo, com o governo Chavez, que era o grande temor de uma parcela do governo americano, tranqüilizada pela embaixadora de Washington em Brasília. O governo Chavez remete às experiências do Governo Cárdenas no México dos anos trinta, e aos governos Perón na Argentina e Vargas no Brasil, nos anos cinqüenta. Após a crise de 1929, quando a supremacia inglesa já tinha sucumbido, e uma nova hegemonia estava em aberto, uma vaga revolucionária sacudiu a Europa – Espanha, França e Alemanha – e a crise mundial favoreceu o surgimento de governos que buscavam uma margem de maior autonomia no sistema mundial de Estados. Trotsky sugeriu o conceito de semi-bonapartismo ou bonapartismo sui generis para explicar o governo Cárdenas.
“Nos países industrialmente atrasados o capital estrangeiro joga um papel decisivo. Por isso, a relativa debilidade da burguesia nacional em relação ao proletariado nacional.  Isto cria condições especiais para o poder estatal.O governo oscila entre o capital estrangeiro e o capital nacional, entre a relativamente débil burguesia nacional e o relativamente poderoso proletariado. Isto dá ao governo um carácter bonapartista sui generis, de tipo particular. O governo se eleva, para tentar descrevê-lo, por cima das classes. Na realidade, pode governar convertendo-se em instrumento do capital estrangeiro e submetendo o proletariado com as cadeias de uma ditadura policial, ou manobrando com o proletariado, chegando inclusive a fazer-lhe concessões, ganhando deste modo a possibilidade de dispor de certa liberdade em relação aos capitalistas estrangeiros.” (tradução nossa)
O conceito de bonapartismo é especialmente complexo porque questiona a ideia simples de que haveria uma correspondência direta entre as classes e o Estado. Surgiu no marxismo para tentar explicar governos nos quais o Estado arbitrava entre diferentes classes proprietárias, apoiando-se em setores não proprietários. Napoleão III teria se apoiado no campesinato para isolar o proletariado, e mobilizar sob a bandeira da unidade nacional a favor do mundo das finanças, e Bismarck fez concessões ao nascente proletariado, para manobrar contra a burguesia dos principados ocidentais anexados a favor dos junkers do Leste. Adaptado à experiência de um país semi-colonial, e reformulado como semi-bonapartismo para definir o governo Cárdenas, que suspendeu o pagamento da dívida externa, e realizou uma reforma agrária, reconhecendo os ejidos – a posse de terras comunitárias - procurava explicar o alcance de uma política nacionalista que se apoiava nas classes populares, arbitrando novas condições com o imperialismo, ainda nos limites do capitalismo.
Mas, Lula não é Chavez, nem sequer um Cárdenas do início do século XXI. Na política, como na vida, o que não se enfraquece, se fortalece. O governo Lula só poderia se fortalecer, nas atuais circunstâncias, se desse um giro à direita mais anti-popular, abraçando o plano de um superávit nominal zero, ou seja, um arrocho  próximo a 10% do PIB para o pagamento dos juros. Um governo Lula/Delfim Neto seria, no entanto, para os trabalhadores e o povo uma catástrofe nacional. Um governo Lula mais fraco é, portanto, muito melhor que um governo Lula forte. E, sendo possível mobilizar para derrubá-lo, não haveria porque hesitar, mesmo se hoje não podemos vislumbrar a possibilidade da luta direta pelo poder pelas forças anti-capitalistas. Um governo Alencar seria ainda mais frágil. Já a antecipação do calendário eleitoral exigiria um enorme grau de improviso por parte da burguesia que não tem candidatos fortes – tanto PSDB quanto PFL têm contas a explicar – e diminuiria em muito as possibilidades de um PT reciclado com outro candidato, abrindo espaço para uma recomposição da esquerda sobre novas bases políticas e metodológicas. Uma candidatura de esquerda socialista, construída tanto de baixo para cima pelo sindicalismo classista, pelos ativistas independentes do movimento popular e estudantil, quanto por uma articulação madura e paciente do PSTU, PSOL e Consulta Popular com um programa anti-imperialista e anti-capitalista, poderia ser o início de uma nova etapa da esquerda, sobretudo, se forjada a partir de uma experiência de frente única na luta contra o Governo Lula.
Tarefas democráticas e revolução socialista
Muitos socialistas honestos se perguntam se a denúncia da corrupção, uma bandeira democrática, não deveria ser secundarizada porque, afinal, a prioridade de uma política de esquerda precisaria ter como identidade fundamental a apresentação, diante de todos os grandes acontecimentos, de uma saída de classe, portanto, anti-capitalista. Esta discussão tem duas dimensões, uma programática e outra ética. A dimensão programática é a compreensão que o programa da revolução socialista deve assumir, conscientemente, tarefas democráticas.
A revolução social anti-capitalista contemporânea tem sido um processo de simultaneidade de várias revoluções. Sobre esta questão programática existiram duas posições simétricas, no passado, ambas equivocadas. A primeira e mais influente foi a do PCB que defendia que, sendo o Brasil um país atrasado em relação aos centros capitalistas, a revolução brasileira seria uma revolução nacional e democrática, tendo como centro um programa de industrialização e crescimento econômico. A etapa democrática era apresentada em oposição a uma ruptura socialista e, por isso, foram criticados, corretamente, como etapistas. Os sujeitos sociais interessados nesse programa, segundo a direção liderada por Prestes, seriam a burguesia industrial aliada às classes médias urbanas. Ficava reservado aos trabalhadores e ao povo pobre da cidade e do campo um papel de pressão sobre uma fração das classes proprietárias contra outras, sacrificado sua independência política. Esta elaboração explicava a seguidismo político do PCB face ao governo Jango. A outra posição, que influenciou a Polop, reconhecia que o Brasil era um país retardatário em que as tarefas agrárias, de distribuição da propriedade da terra, por exemplo, estavam pendentes, mas afirmava que, sendo o conflito entre capital e trabalho o mais agudo e ordenador de todas as outras lutas, a revolução brasileira seria socialista, ponto, e o seu sujeito social seria o proletariado.
A história provou que ambas estas elaborações eram unilaterais, ou estavam diretamente erradas, mesmo se admitirmos, por justiça intelectual, que a primeira se demonstrou mais equivocada. Nos países periféricos como o Brasil, acompanhamos um processo de luta social em que as tarefas democráticas, historicamente burguesas, não puderam ser realizadas pelas classes proprietárias. Mas, isso não significa que tenham perdido importância, e que não haja uma revolução democrática por fazer, mesmo depois da queda da ditadura há vinte anos atrás. Até hoje, o Brasil permanece com uma espantosa concentração de terras em pouquíssimas mãos, enquanto milhões não têm terra alguma. Até hoje, o Brasil continua com uma inserção dependente no mercado mundial, exportando capitais através do pagamento da dívida externa, vendendo muito barato suas matérias-primas, e comprando caro manufaturados e pagando fortunas de royalties. Até hoje, vivemos em uma República que não é república, devorada pela corrupção e pela impunidade, porque riqueza e poder se protegem, reciprocamente, e a lei está muito longe de ser igual para todos. Isto foi assim e permanecerá assim, porque as classes proprietárias temem, acima de tudo, a mobilização independente das massas trabalhadoras da cidade e do campo.
A revolução brasileira será, portanto, um processo de simultaneidade de várias revoluções, como tem acontecido, aliás, nos últimos anos na América Latina. O “que se vayan todos” da Argentina em 2001 e do Equador em 2005, expressava a radicalidade democrática do programa que permitiu a aliança do mundo do trabalho com as classes médias. O que pretendia traduzir? As massas estavam votando com os pés, marchando aos milhões, e dizendo que os políticos profissionais burgueses e seus aliados reformistas não deveriam poder mais se candidatar. Por isso, eram “escrachados” e desmoralizados, e não podiam mais sair de casa.
Na Bolívia, a bandeira de luta contra a violenta repressão que deixou dezenas de mortos, e que levou à queda do “El Gringo” Gonzalo de Losada em 2003, e a bandeira do “Gás é nosso”, que levou á derrubada de Mesa em 2005, traduziam a união das reivindicações nacionais anti-imperialistas com a justa ambição democrática de justiça para a maioria da população que é indígena e camponesa, e que sempre foram considerados pelos proprietários descendentes de europeus, como bolivianos de segunda classe. Os Fevereiros recorrentes latino-americanos desde 2000 – Equador em 2000 e 2005, Argentina em 2001, Venezuela em 2002 Bolívia em 2003 e 2005, as revoluções democráticas que permanecem incompletas, que derrubam governo atrás de governo, mas não se colocam a questão do poder, confirmam que processos de revolução socialista, mesmo se partindo de níveis de consciência e organização insatisfatórios, estão em marcha.
A revolução brasileira não será diferente. Será um processo de mobilização em permanência em que às bandeiras de luta anticapitalista, como a nacionalização do sistema financeiro, por exemplo, se unirão as bandeiras democráticas radicais como a luta contra a corrupção, pelo fim dos sigilos bancários, fiscais e telefônicos dos corruptos e corruptores, pela expropriação de seus bens, pelo fim dos paraísos fiscais, etc... Será uma revolução nacional contra o imperialismo, uma revolução agrária contra o latifúndio, uma revolução democrática contra a corrupção, uma revolução negra contra o racismo. Será, contudo, uma revolução socialista, porque terá nos trabalhadores assalariados, a coluna vertebral da aliança popular com as camadas médias, e não se deterá diante da propriedade privada do capital. O fenômeno do substitucionismo social já adquiriu formas incríveis - como revoluções agrárias que se desdobram em socialistas como na China - e preparemo-nos para novas surpresas: tarefas democráticas elementares, até republicanas - como aprecia tanto a esquerda petista - só poderão ser realizadas com métodos revolucionárias, pelas classes que têm interesses anti-capitalistas. É a revolução permanente.
Os fins e os meios
A dimensão ética remete à relação entre os fins e os meios, que injustiçou no passado remoto os jesuítas – e no século passado os bolcheviques – e encontrou seus ecos no movimento socialista. O debate sobre estratégia e tática, qualificando os diferentes tempos da política, deu uma nova vida ao problema, na medida que crescentemente, a maioria das correntes que se reivindicaram socialistas no século XX, foram abandonando a perspectiva anticapitalista, adotando diferentes variantes de programas reformistas. Estabeleceram-se em relação ao tema, grosso modo, três posições fundamentais na esquerda contemporânea, embora com nuances intermediárias:
(a) a posição que defende que os fins justificam os meios. Os seus defensores argumentaram que, ao final, com a perspectiva do tempo, seriam absolvidos. As sociais democracias francesa e alemã justificaram os genocídios da Primeira Guerra, esgrimindo que agiam em cumplicidade com suas classes dominantes, em nome da defesa da pátria. O estalinismo não hesitou, por exemplo, em defender até o pacto Ribbentrop/Molotov, ou seja, aceitou um acordo diplomático com o nazismo que não impediu que, dois anos depois, a URSS fosse invadida por uma Alemanha imensamente fortalecida. Os “realistas” se esquecem, porém, que meios indignos distanciam ou até comprometem os fins, porque os fins precisam, também, ser permanentemente, reafirmados, confirmados e justificados. Cometem, em nome do realismo político, o erro simétrico dos moralistas. Mas, dividem com eles o critério absurdo de que meios e fins independem uns dos outros;
(b) a posição dos moralistas que os meios são tudo, e os fins, nada. Afirmada, originalmente, pelo reformismo “a la Bernstein”, virou uma coqueluche internacional com o crescimento dos Forums Sociais Mundiais e a popularidade das ONG’s. A estratégia da luta se esgotaria na tática, esvaziando a política de invenção. Porque tudo são táticas que, erraticamente, se sucedem. Não há horizontes, não há projetos, não há programas. A política fica reduzida ao tempo do presente. A dimensão utópica do combate socialista, que só pode adquirir significado na revolução mundial, se perde. A história, de processo de vir a ser, passa a ser um eterno presente, comprometendo, portanto, uma perspectiva de luta pelo poder. Esta posição aparece, freqüentemente, camuflada com o argumento empirista de que o caminho se constrói caminhando, cuja  conseqüência é a absolutização de critérios morais imperativos e universais. No limite, consiste em uma subordinação da política à moral, uma versão que pode ser mais ou menos laicizada (sob a forma de valores ahistóricos da “natureza humana”). Remete, em última análise, ao princípio teológico de que a moral independe da história, portanto, da sociedade e dos conflitos de classe no seu interior. Sendo os imperativos categóricos kantianos inaplicáveis, tanto sob as pressões da vida cotidiana, quanto na arena das lutas de classes quando esta se exacerba, os valores morais universais passam a ser um princípio sagrado irrevogável, porém inútil;
(c) a posição que defende que os meios e os fins têm entre si uma relação indissolúvel e, em uma sociedade dividida, o combate político é também um combate moral. Só seriam admissíveis, portanto, aqueles meios que estejam ao serviço da supressão do poder de uma minoria sobre a maioria: os meios que inflamam a indignação dos oprimidos, que exaltam a sua união e confiança em si mesmos, que confirmam a justeza de suas lutas. Obrigatório concluir que nem todos os meios são permissíveis. Devem ser condenados como indignos, por exemplo, todos os procedimentos que alimentem ilusões nos inimigos de classe e desconfiança entre os trabalhadores; os métodos dos burocratas que trocam confidências com os patrões e mentem, descaradamente, para as suas bases; os artifícios dos que lançam um setor do povo oprimido contra outros; ou que estimulem o seguidismo cego dos chefes; e, acima de tudo, o repugnante servilismo diante das autoridades, e o correspondente desprezo pela juventude e os explorados e suas opiniões; mas, reconhece, também, que não existe um catecismo que defina como mandamentos o que é consentido, e o que é impensável.
Por VALÉRIO ARCARY

Historiador marxista e dirigente do PSTU – Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado. Graduado em História pela PUC-SP e doutor em História Social pela USP. Ex-líder estudantil durante a Revolução Portuguesa, voltando ao Brasil tornou-se dirigente do Partido dos Trabalhadores e fundador do PSTU. É autor dos livros As esquinas perigosas da História – Situações revolucionárias em perspectiva marxista (Xamã, 2004) O encontro da revolução com a História. Em sua obra, Arcary resgata o real significado do socialismo, maculado pela política stalinista na União Soviética. Atualmente leciona em graduação no curso de licenciatura em Geografia e no Curso de Turismo, ambos no antigo Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo e atual Instituto Federal de São Paulo.
 Foi membro do Diretório Nacional do PT a partir de 1987, e da Executiva Nacional do PT a partir de 1989. Foi expulso do PT no processo de exclusão da Convergência Socialista em 1992.

* TROTSKY, Leon. Moral e Revolução: a nossa moral e a deles. 2ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra. p. 9/11.

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